Jogo Sujo não é nem de longe um filme de Jean-Claude Van Damme, mas sim mais um com Jean-Claude Van Damme, mas de todos nessa categoria até esse ponto de sua carreira, este é o mais diferente. Não que ele seja particularmente original ou diferente em si, mas sim diferente para o lutador belga. Na história, quatro bandidos que saíram da prisão – ou fugiram – voltam a se reunir para localizar o quinto de seu grupo que, eles acreditam, tem o fruto de um roubo a uma cassino de dez anos atrás, nada menos do que dez milhões de dólares. Investidos de toda a vontade do mundo de recuperar o “dinheiro suado”, eles partem para a cidadezinha de Baker, em Nevada, não mais do que uma única rua ladeada pelas construções padrões.
O que torna o filme diferente para Van Damme é que, primeiro, ele é sobre uma equipe de ladrões em que o belga sequer é o líder, mas apenas Stillman, talvez o de moral mais reta de todos, ainda que cada um ali, especialmente o efetivo chefe Cole (Grant Bowler), siga, de sua maneira, uma código de conduta. Depois, toda a atmosfera de faroeste moderno, com direito a xerife – Gabriel Bishop, vivido por Lennie James – que é o homem desmemoriado procurado por seus ex-colegas para eles saberem do paradeiro do dinheiro, duelos no meio da rua e assim por diante, com uma fotografia por Michael Mayers que sabe evocar com exatidão essa atmosfera quase atemporal. Até mesmo a direção de Keith Parmer, em seu segundo e, até agora, último longa, trabalha bem toda a estrutura clássica de gangue que se reúne para achar um tesouro.
Mas então qual seria o problema do filme? Infelizmente, o mesmo Parmer, que também escreveu o roteiro, não sabia muito bem o que queria fazer em termos de história e acabou colocando em tela uma narrativa que é, quase toda ela, construção de atmosfera, com direito a flashbacks para o assalto, sem real desenvolvimento de seus personagens para além do básico e, pior ainda, sem pagar os dividendos que a obra parecia prometer. Tudo é, trocando em miúdos, lento demais e repetitivo demais para realmente funcionar, com os momentos de ação mais parecendo o trabalho de entropia do que algo que realmente decorre do que foi mostrado antes. E Parmer até poderia ter focado na autodestruição da gangue como sua linha mestra, mas a grande verdade é que ele parece primeiro atirar para todos os lados para, talvez tarde demais, encontrar o norte do que queria abordar e, quando isso acontece, o interesse pelo destino dos personagens já se foi há muito tempo.
Lennie James, certamente mais conhecido como o amado e odiado Morgan, da franquia The Walking Dead, tem um papel ingrato que emula o Homem Sem Nome de Clint Eastwood, só quase que na literalidade, o que retira dele todo e qualquer mistério que o personagem poderia ter. É como uma versão pálida desse arquétipo de pistoleiro, especialmente porque o roteiro faz questão de classificá-lo como um homem pacífico, que sequer porta arma de fogo em seu cotidiano, um clichê já mais do que usado e que, aqui, não tem função alguma para além de atrasar o inevitável.
Os demais personagens são arquétipos genéricos de vilões durões. Não são ruins vejam bem, especialmente Van Damme, que tem mais nuanças do que eu poderia esperar do pouco que ele aparece, mas o problema é que eles entram e saem do longa sem realmente acrescentar muita coisa à narrativa a ponto de seus nomes e funções serem quase que fungíveis ao longo da projeção. A própria conexão de longa data de Pike (o nome verdadeiro de Bishop) com Cole é algo que fica apenas nos diálogos, sem que ela seja sentida, sem que o embate entre os dois faça sentido para além do confinamento do momento.
Jogo Sujo tinha tudo para ser um bom filme: premissa interessante e engajante, personagens que poderiam ter sido bem construídos, atmosfera de faroeste clássico e uma estrutura que não precisava de muito para funcionar. Infelizmente, porém, Keith Parmer não soube aproveitar o que tinha e deixou seu longa perder a coesão na medida em que ele avança na narrativa. Uma pena.
Jogo Sujo (Swelter – EUA, 2014)
Direção: Keith Parmer
Roteiro: Keith Parmer
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Lennie James, Alfred Molina, Catalina Sandino, Grant Bowler, Josh Henderson, Brad Carter, Daniele Favilli, Freya Tingley, Abby Miller, Guy Wilson, Courtney Hope, Peter Vack, Arie Verveen, Richard Whiten, Dawn Lewis, Tracey Walter
Duração: 96 min.