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Crítica | Jogo Bruto

Um péssimo acordo.

por Kevin Rick
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Espremido entre alguns dos melhores filmes de ação do Schwarza nos anos 80 (Comando para Matar e O Predador), Jogo Bruto conta a história de Mark Kaminski (Arnold Schwarzenegger), um ex-agente do FBI que virou xerife de uma pequena cidade, e que acaba concordando em ajudar seu antigo chefe para se infiltrar na máfia de Chicago e destruir a organização por dentro. Distribuindo pancadarias e provocando bandidos, o personagem rapidamente chama a atenção do mundo do crime sob a identidade de Joseph P. Brenner.

Infelizmente, o que vemos a partir dessa premissa é a típica produção que não encontra um tom ou identidade narrativa, misturando a ideia original da história com o marketing de estrela de blockbuster do Schwarza. Por um lado, o roteiro escrito por quatro mãos quer criar uma história de thriller com a missão de infiltrado do protagonista, enquanto o diretor John Irvin está mais interessado em fazer um filme de ação formulaico bem no estilo oitentista, possivelmente por imposição do estúdio para aproveitar a persona de Arnold Schwarzenegger durante sua explosão de fama na década.

O resultado é, obviamente, uma bagunça. As situações em torno do trabalho infiltrado não têm boa direção de mistério ou tensão nas mãos de Irvin, resumindo o lado policial do enredo a pequenas provocações com outros bandidos e momentos de flertes com uma mulher viciada em jogos – numa narrativa chata, sem impulso ou urgência. Já no lado da atuação, Schwarzenegger desfila limitações dramáticas em todos os frames, principalmente nas dinâmicas românticas com a personagem de Kathryn Harrold (boa atriz com ótima presença de tela). Quando um roteiro não dialoga com a direção, é difícil um filme funcionar… ainda mais com um ator que tem tantas deficiências dramatúrgicas.

Ainda assim, existe algo inadvertidamente divertido na obra. Temos muitos momentos típicos de filmes “machos” do período, com Schwarza atirando em dezenas de pessoas, sempre com muitos enfoques exagerados de câmera em seus músculos gigantescos e feições fechadas – no ato final, o personagem é basicamente o Exterminador, assassinando bandidos a torto e a direita sem nenhum problema. O ator consegue trazer seu carisma e postura sisuda típica nesses momentos, o que sempre é uma simpatia de assistir para quem curte essa fase do Cinema americano, mas não espere encontrar muita substância ou boas sequências de ação.

John Irvin, como havia dito, adere a muitos focos exagerados no protagonista e não tem muita criatividade com coreografia ou montagem de lutas, mas o cineasta tem umas set-pieces… interessantes. Já viram uma retroescavadeira carregando um carro, enquanto outro caminhão vem em sua direção com intenção de bater? Pois é, eu também não. Irvin tem algumas dessas sequências automobilísticas piradas, mais ridículas do que necessariamente bacanas, mas deixa o filme recreativo e tolerável.

Em dado momento da fita, há uma menção à Dirty Harry por parte do personagem de Schwarzenegger. Com receio de estar abusando do bom senso, é possível ver algumas inspirações da franquia protagonizada por Clint Eastwood nesta produção, ainda que sem a mesma inteligência temática, o subtexto crítico, a ótima direção e tudo mais que fez o policial sem escrúpulos ser icônico. Mesmo assim, é curioso ver a versão oitentista e cheia de músculos de Harry. Jogo Bruto é ruim, não tenham dúvidas disso, mas tem seus momentos onde nos divertimos rindo do filme e não com ele, se me entendem.

Jogo Bruto (Raw Deal) – EUA, 1986
Direção: John Irvin
Roteiro: Gary DeVore, Norman Wexler, Luciano Vincenzoni, Sergio Donati
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Kathryn Harrold, Darren McGavin, Sam Wanamaker, Paul Shenar, Steven Hill, Ed Lauter
Duração: 106 min

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