Home QuadrinhosArco Crítica | Jimmy Woo e Garra Amarela: Primeira Aparição e Aventuras Originais (1956)

Crítica | Jimmy Woo e Garra Amarela: Primeira Aparição e Aventuras Originais (1956)

por Ritter Fan
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Como Sax Rohmer deixou muito claro com sua criação máxima, o Dr. Fu Manchu, todo vilão de origem chinesa é sinistro, maquiavélico, místico, tem mãos com dedos longos e unhas pontudas e, claro, uma barbicha fina e longa, além de um quimono multicolorido. Seu personagem da primeira metade do século XX ajudou a sedimentar essa imagem estereotipada que, claro, acabou influenciando um sem-número de outros personagens, dentre eles o Imperador Ming, de Flash Gordon, o Mandarim, clássico inimigo do Homem de Ferro e até mesmo Ra’s Al Ghul, da mitologia do Batman.

A Marvel Comics, antes de ser Marvel Comics, também não demorou a apropriar-se dessas característica para criar o Garra Amarela, vilão místico chinês que, provocado pelo governo comunista de seu país, parte para colocar em movimento planos próprios de dominação mundial, sempre sendo impedido pelo inteligente e intrépido agente do FBI sino-americano James “Jimmy” Woo. Surgindo em uma revista própria publicada pela Atlas Comics (antecessora da Marvel) que durou apenas quatro edições entre 1956 e 1957, o Garra Amarela pode ser considerado como o antecessor direto de praticamente todos os vilões orientais da editora e Jimmy Woo, por seu turno, claramente galgado nos filmes de espião da época, pode ser considerado como o molde pelo qual todos os agentes especiais da editora – da S.H.I.E.L.D. mais notavelmente – seriam criados.

Em cada revista, quatro pequenas histórias eram publicadas, com textos e arte de grandes nomes ainda em formação nesse ramo como Al Feldstein, Don Heck, Bill Everett e o insuperável Jack Kirby, todos sob editoria de Stan Lee antes da fúria criativa dos anos 60. A primeira história, que lida não com a origem do Garra Amarela, mas com o despertar de seu plano maquiavélico e sua viagem aos EUA onde se estabelece em São Francisco, com Jimmy Woo logo surgindo ao seu encalço, é a que mais pé no chão tem de todas, com os poderes místicos do vilão ficando limitados a controle mental e a uma bola de cristal que lhe permitia ver basicamente tudo que quisesse. É também nessa história que somos introduzidos ao sidekick do Garra Amarela, ninguém menos do que um ex-oficial da Gestapo chamado Fritz von Voltzmann, com direito a sotaque germânico que ele perde logo na edição seguinte, trocando-o por um monóculo que o torna uma espécie de antecessor do Barão Von Strucker, além da neta-sobrinha do vilão chinês, Suwan, eternamente dividida entre sua lealdade familial a Garra Amarela e o amor (ou algo semelhante) que sente por Jimmy Woo.

Nas histórias seguintes, o nível de absurdo vai aumentando, com o Garra Amarela demonstrando ter poderes que são tirados da cartola de cada roteirista na medida do conveniente, além do uso de aparatos tecnológicos diversos, inclusive robôs gigantes e seres estranhos como aves mutantes. Cada história lida com um plano sinistro do vilão que, porém, sem maiores dificuldades, é impedido pelo agente do FBI que, muitas vezes, sequer precisa fazer alguma coisa. Chega a ser engraçado, mas era bem o espírito da época nos quadrinhos, especialmente considerando que não estamos falando exatamente de uma história de super-heróis.

No quesito arte, a primeira edição da publicação é de fazer cair o queixo em termos do detalhamento de cada personagem, de cada pano de fundo, de cada artifício que aparece nos quadros. Não há arroubos criativos na disposição das páginas e na progressão narrativa, mas a arte de Joe Maneely merece comenda. Depois, apesar de outros grandes nomes terem se envolvido no trabalho, o resultado saiu mais simplista, talvez pela falta de exigência de algo mais sofisticado em razão de roteiros também cada vez mais básicos.

De toda forma, é curioso notar elementos que influenciariam o futuro da Marvel Comics. Não só temos o Garra Amarela e Jimmy Woo influenciando as figuras de “vilão oriental” e “agente secreto” da editora, como o sidekick alemão que inspiraria Von Strucker, mutantes com poderes mentais que seriam a base dos X-Men (não é a primeira vez que “mutantes” são usados em quadrinhos, mas sim uma das primeiras vezes) e, também, poderes ou habilidades especiais como diminuir e aumentar de tamanho e, também, manipular o que parece ser outra dimensão. Garra Amarela, apesar de ter tido vida curtíssima como revista própria, funciona como um laboratório de experiências que viria a criar parte dos alicerces para a Marvel Comics nas décadas seguintes.

O Garra Amarela seria absorvido depois para dentro da mitologia da editora então ainda em formação, como vilão de diversos heróis, inclusive Capitão América e Nick Fury, mas sem maiores destaques diante da “concorrência” de outros semelhantes como Fu Manchu (que depois seria rebatizado como Zheng Zu depois que a Marvel perdeu os direitos à obra de Sax Rohmer) e o Mandarim. Jimmy Woo, no entanto, continuou firme e forte primeiro como agente da S.H.I.E.L.D. e, depois como fundador da agência A.T.L.A.S., com constante participação em um variado número de histórias até mesmo ganhando uma versão de carne e osso em Homem-Formiga e a Vespa.

Garra Amarela #1 a 4 (Yellow Claw, EUA – 1956/7)
Roteiro: Al Feldstein, Jack Kirby
Arte: John Severin, Don Heck, Jack Kirby, Jim Mooney, Bill Everett
Arte-final: Joe Maneely, Werner Roth, Jack Kirby, Roz Kirby, George Roussos, Manny Stallman
Editora original: Atlas Comics (antecessora da Marvel Comics)
Data original de publicação: outubro e dezembro de 1956 e fevereiro e abril de 1957
Editoria: Stan Lee
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