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Crítica | Jackass – Cara-de-Pau: O Filme

Um espetáculo grotesco, mas hilário.

por Ritter Fan
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Não se espantem com os títulos abaixo. Se não tiverem interesse na minha história pessoal com Jackass, pulem direto para o quarto capítulo, originalmente batizado de “A Crítica”.

Era uma vez…
em um dos quatro primeiros meses de 2005…

Com minha esposa gravidíssima de nossa segunda filha, seguíamos nossa dieta tradicional – que perdura até hoje – de assistir filmes juntos algumas noites da semana, e nós alugamos o DVD de Jackass sem ter a menor ideia de que o filme era baseado em uma série de TV da MTV que foi ao ar entre os anos 2000 e 2002, com três temporadas, e que, ao longo do tempo, tornou-se um verdadeiro universo compartilhado com uma pletora de outras séries derivadas. Sequer sabíamos quem era Johnny Knoxville, para vocês terem uma ideia. Mas, como nossa regra era – e ainda é – assistir de tudo um pouco, embarcamos na proposta.

Depois que o claramente “ensaiado” esquete inicial, com a equipe liderada por Knoxville atravessando uma ponte em um carrinho de supermercado de Itu e sendo bombardeada por canhões que atiravam tijolos e esborrachando-se em uma venda de frutas, tudo em câmera lenta e ao som de Carmina Burana, estávamos fisgados. Dali em diante, tivemos que nos concentrar para pararmos de rir e não perdemos as esquetes seguintes, com as risadas só se avolumando ao ponto de termos ficado realmente preocupados se isso poderia de alguma forma acelerar o parto. Minha filha não nasceu prematura por causa de Jackass, mas os pais dela certamente choraram copiosamente até chegarem a ter câimbras estomacais com as imbecilidades vistas na tela da TV.

Corta para algum momento de 2021…

Diálogo entreouvido em nosso apartamento:

Eu, levantando a cabeça do computador com os olhos brilhando:
– Querida, sabia que vão lançar um novo Jackass? O quarto na série?

Ela, levantando a cabeça do tablet com um sorriso no rosto:
– Quando? Quero ver!

Eu, entusiasmado, mas triste por constatar que ainda demoraria:
– No começo de 2022. Só não sei se vai estrear nos cinemas por aqui em razão da pandemia.

Ela, dando ideia:
– Quando estiver próximo de lançar, vamos ver os outros novamente?

Eu, feliz, mas torcendo o nariz:
– Claro, mas acho melhor não esperarmos a mesma experiência que tivemos, especialmente com o primeiro filme.

Ela, reconhecendo que nostalgia é um problema:
– De fato, mas vai que…

Corta novamente, desta vez
para o começo de abril de 2022…

Com o anúncio de que Jackass para Sempre, o quarto filme da série, não mais seria lançado nos cinemas por aqui, aguardávamos a informação de quando ele chegaria ao streaming ou vídeo sob demanda e, quando descobrimos que seria na metade de abril, corremos atrás do primeiro longa, que não havíamos assistido novamente desde aquela fatídica noite em 2005.

O resultado, não tenho vergonha alguma de revelar, foi idêntico à primeira vez – mas sem a gravidez, claro – com nós dois rolando no chão de rir que nem idiotas. Ah, chamamos a filha que quase nasceu prematuramente em razão do filme (e que já escreveu aqui para o site quando menor) para assistir e ela, lendo a sinopse e vendo algumas imagens, fez cara de nojo, virou o rosto e se recusou, preferindo continuar seus estudos (o que só prova o nível da idiotice dos pais, obviamente…).

A Crítica:

Achei relevante começar com minha experiência pessoal com o primeiro filme das loucuras de Johnny Knoxville e sua gangue de tresloucados, babacas e sadomasoquistas porque Jackass definitivamente não é um filme para qualquer hora e qualquer lugar ou mesmo para qualquer pessoa. É necessário um estado de espírito específico para aguentar a proposta dessa sucessão de esquetes na forma de documentário ou reality show – nem sei classificar esse negócio, confesso -, pois há de tudo debaixo do guarda-chuva amplo das maiores imbecilidades já colocadas na forma de obra cinematográfica, incluindo muita escatologia, nojeira, babaquices, momentos de vergonha alheia e outros de pura dor e aflição.

Em outras palavras, esse é um filme 8 ou 80, ou seja, agradará muito ou desagradará muito, mas o bom é que o espectador consegue descobrir isso conferindo apenas poucos minutos do longa dirigido por Jeff Tremaine. No meu caso pessoal, ele agradou e continua agradando muito, ainda que “agradar” não seja lá a expressão correta, já que há diversas sequências difíceis de ver e outras que eu simplesmente desgosto profundamente, basicamente todas que envolvem animais (não os animais humanos, mas os outros…), pois, apesar de não ser o maior defensor do mundo da natureza, acho de mau gosto usar os bichinhos (e bichões) para brincadeiras desse tipo.

Como filme, Jackass – Cara-de-Pau nada mais é do que a versão alongada de um episódio da série original sem qualquer estrutura formal que não seja uma sucessão de esquetes longas entremeadas por outras mais curtas em que os membros da equipe – inclusive dos bastidores – passam pelo que só posso classificar como autoimolações variadas que vão de filhotes de crocodilos mordendo mamilos, passando por choques elétricos na região entre o ânus e o saco escrotal e chegando a um carrinho Matchbox sendo enfiado no ânus de um deles para sair no raio-X. E isso sem contar com as pegadinhas como a do vaso sanitário na loja de construção (lembro-me distintamente de cair no chão de tanto rir desse momento, o que, claro, arquivo como momentos vergonhosos de minha vida que eu não conto para ninguém…), Knoxville, com ótimas próteses para transformá-lo em um senhor de idade (personagem que ganharia o spin-off Vovô Sem Vergonha), furtando produtos de uma loja de conveniência ou o carro alugado que eles devolvem completamente demolido depois de usá-lo em um derby de destruição.

Tremaine não tem nenhuma intenção de entregar mais do que exatamente isso que descrevi acima, ou seja, um monte de marmanjos agindo como adolescentes irresponsáveis ao longo de 85 minutos, com direito a sequências até no Japão em que os coitados dos nipônicos sofrem na mão deles nas esquetes que considero as mais sem graça no geral e que poderiam muito bem terem sido cortadas. Apesar de o uso de câmeras escondidas fazer parte da infraestrutura da proposta, o diretor não tem o menor cuidado em polir cinematograficamente a obra, entregando uma costura qualquer de found footage de baixa qualidade fílmica que deixa evidente o caráter de “série de TV” do longa. Não há, também, roteiro para ser analisado, já que não é perceptível qualquer lógica na ordem do que é mostrado ou qualquer tipo de preparação mínima dos diálogos, que parecem realmente ser todos espontâneos mesmo que algumas das imbecilidades mostradas por vezes demonstrem um certo “ensaio” ou, no mínimo, a perda do frescor pela escolha de takes que não são os primeiros.

Portanto, Jackass não é um produto audiovisual que possa muito facilmente ser analisado pelos aspectos formais da crítica cinematográfica. É muito mais algo de momento, de “pegar ou largar”, um espetáculo grotesco, mas também engraçado – por vezes de chorar de rir – que, de certa forma, revela um pouco da natureza humana, seja dos que estão do lado de lá ou do lado de cá da tela. Se isso é bom ou é ruim, não sei dizer, mas só resta tentar ver o lado positivo, seja ele qual for.

Jackass – Cara-de-Pau: O Filme (Jackass: The Movie – EUA, 2002)
Direção: Jeff Tremaine
Roteiro: Jeff Tremaine, Spike Jonze, Johnny Knoxville e demais
Com: Johnny Knoxville, Bam Margera, Ryan Dunn, Steve-O, Wee Man, Chris Pontius, Preston Lacy, Dave England, Ehren McGhehey, Loomis Fall, Brandon DiCamillo, Raab Himself, Rake Yohn, April Margera, Phil Margera, Jess Margera, Stephanie Hodge, Mike Kassak, Manny Puig, Rip Taylor, Tony Hawk, Clyde Singleton, Eric Koston, Mat Hoffman, Naoko Kumagai, Butterbean, Henry Rollins
Duração: 85 min.

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