Considerando o baixo orçamento do primeiro Jackass, apenas cinco milhões de dólares, o retorno impressionante da bilheteria, aproximando-se de 80 milhões, e a relativa “facilidade” de se produzir uma obra assim, somada à sana de Hollywood por sequências, chega a ser impressionante que uma continuação tenha demorado quatro anos para ser lançada. A explicação que a própria equipe ofereceu é que eles mesmos não achavam que havia espaço para mais um filme, com cada um – junto ou separadamente – partindo para projetos paralelos, muitos relacionados com a franquia em geral.
Foi Jeff Tremaine que, percebendo a sede de Johnny Knoxville e outros pelo tipo de humor que é ouro para o “Jackass raiz” e que eles estavam demonstrando em outras produções, plantou a semente para um novo projeto cinematográfico que acabou sendo lançado, novamente com grande sucesso – e com orçamento mais do que dobrado, de 11,5 milhões – em 2006, mostrando que essa completa bobajada ultrajante, nojenta, sadomasoquista, escatológica e grotesca que eles inventaram tinha ainda muito fôlego, o que, confesso, não me surpreende nem um pouco, até por eu mesmo – não sei bem porque ainda – gostar bastante dessa maluquices. O resultado de mais dinheiro ter sido derramado pela Paramount na produção é visível, com a mesma sucessão de esquetes de autoflagelação da equipe e de pegadinhas com terceiros (e entre eles mesmos) ganhando um bem-vindo polimento cinematográfico, como uma leve camada de verniz por sobre o amadorismo visual da primeira tentativa.
Toda a equipe por trás e pela frente das câmeras – com exceção de Raab Himself, que lutava contra o alcoolismo na época – retornou ao projeto e isso é visível na conexão muito próxima entre eles que rende um número maior de pegadinhas internas, dentre elas especialmente a épica “pegadinha dentro da pegadinha dentro da pegadinha” do “Táxi do Terror” que tem como vítima o desdentado (e a razão para a conspícua ausência de um dente dele só aparece nos créditos) Ehren McGhehey e cuja natureza não vou descrever aqui para evitar spoilers. É, novamente, um bando de homens adultos agindo como adolescentes descerebrados em uma sucessão de esquetes que variam entre algumas sem graça e diversas de boas para absolutamente hilárias, mas se – e apenas se – o espectador estiver psicologicamente preparado para lidar com grosserias, nojeiras e muita escatologia, já que, como todo adolescente hiperativo, o foco nas “partes pudendas”, por assim dizer, é constante.
Em termos comparativos com o primeiro filme, apesar da inegável maior qualidade geral da continuação, que conta até mesmo com um elaborado número musical que homenageia a Hollywood clássica, diria que há um pouco menos de humor rasgado, daqueles de dar dores estomacais em que comprar o conceito. Sim, continua sendo hilário – pelo menos para o meu gosto – mas parece haver um grau maior de “domesticação”, com as devidas bolas fora da curva como o “capacete de flatulências” que é uma sensacionalmente hilária nojeira pura e a própria sequência inicial, com a equipe sendo perseguida por uma manada de búfalos pela rua central de uma cidade cenográfica, um começo bem mais eficiente e bem coreografado que o “carrinho de compras de Itu” do longa de 2002. No entanto, não é algo quantificável matematicamente, por óbvio, dependendo do humor de cada um no momento da “experiência cinematográfica”.
O que realmente importa é que, no conjunto geral, há uma coesão maior para as coisas grotescas que Knoxville e companhia se infligem, mesmo que, pessoalmente, as piadas envolvendo animais ainda me incomodem um pouco. Jackass 2, portanto, parece mais um filme – ou um documentário, pois continuo sem saber classificar esse negócio -, ou algo que se assemelhe a isso pelo menos em lógica interna, com um pouco menos de aleatoriedade e um acabamento mais profissional. Claro que, no final das contas, é a mesma coisa novamente, só que com um merecido banho de loja. Mas querer algo diferente de uma proposta como Jackass é tão louco quanto as ideias absurdas que a equipe executa na frente das câmeras.
Jackass 2: O Filme (Jackass Number Two – EUA, 2006)
Direção: Jeff Tremaine
Roteiro: Jeff Tremaine, Johnny Knoxville, Bam Margera, Steve-O, Chris Pontius, Ryan Dunn e demais (baseado em criação de Jeff Tremaine, Johnny Knoxville e Spike Jonze)
Com: Johnny Knoxville, Bam Margera, Chris Pontius, Steve-O, Ryan Dunn, Dave England, Wee Man, Ehren McGhehey, Preston Lacy, Brandon DiCamillo, Brandon Novak, April Margera, Phil Margera, Jess Margera, Loomis Fall, Stephanie Hodge, Mike Kassak, Thor Drake, David Weathers, Manny Puig, Jim Karol, Mat Hoffman, Tony Hawk, Clyde Singleton, Jason Taylor, Mark Zupan, John Waters, Jay Chandrasekhar, Ville Valo, Three 6 Mafia, Roger Alan Wade, Rip Taylor, Luke Wilson, Willie Garson, Mike Judge
Duração: 92 min.