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Crítica | Jack Ryan – 4ª Temporada

Despedindo-se de Jack Ryan e apresentando Domingo Chavez.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas da série e de todos os filmes protagonizados por Jack Ryan.

Sou o primeiro a defender que séries não devem continuar eternamente e que, em princípio, elas tendem a ser melhores na medida em que têm menos temporadas, mas, quando o Prime Video anunciou que a quarta seria a última temporada de Jack Ryan – mesmo que ela talvez sirva de trampolim para uma série spin-off focada no Domingo Chavez de Michael Peña, indicando que o Ryanverso continuará – confesso que fiquei triste. Não que a série seja a melhor coisa do mundo ou algo semelhante, mas, ao longo de suas três primeiras temporadas, ela acertou no equilíbrio entre ação e espionagem no estilo velha guarda e sensibilidades modernas seja na abordagem de seus temas, seja na direção e montagem mais contemporâneas, além de um John Krasinski vivendo com grande desenvoltura e qualidade a quinta versão audiovisual do personagem titular. Além disso, as histórias consideravelmente estaques que começam e acabam basicamente em uma temporada basicamente são propícias para a continuidade por mais alguns anos.

Mas, não tem jeito. A encurtada quarta temporada de Jack Ryan será a última, pelo menos por enquanto, com o personagem (vai que Krasinski volta um dia, não é?) e, fico feliz em constatar, ela é um retorno à melhor forma da série que caiu levemente de qualidade no ano anterior. No lugar de uma trama que ameaça o mundo e sem fazer com que Ryan seja apenas um super-herói de arma em punho, o ano final da série começa quente com o protagonista capturado e prestes a ser torturado em lugar incerto e não sabido, com a história então retornando para três semanas antes, com uma operação secreta aparentemente comandada pela CIA que acaba com o assassinato do presidente da Nigéria e Jack Ryan, agora vice-diretor interino da agência, em uma audiência com uma comissão do senado americano para explicar o que aconteceu, como parte do processo de sua possível confirmação no cargo e a de Elizabeth Wright (Betty Gabriel), introduzida como aliada hesitante de Ryan na temporada anterior, como diretora da CIA.

Com apenas seis episódios e muito chão para cobrir, a temporada é muito ágil, com seus diretores imprimindo um ritmo feroz em uma história particularmente complexa que envolve a criação de um canal clandestino de contrabando de qualquer tipo de “produtos” – de drogas a bombas, passando por seres humanos – para os Estados Unidos por um conjunto de forças misteriosas que vão de Myanmar até o México, passando pela Nigéria e pela Croácia e que utilizam um equipe secreta da CIA comandada pelo citado Chavez que, por seu turno, acha que está agindo pelo bem dos EUA. Como é padrão na série, tudo começa de verdade com Ryan analisando fatos e dados aparentemente desconectados e percebendo ligações suspeitas, o que o leva a acionar seus parceiros de longa data James Greer (Wendell Pierce) e Mike November (Michael Kelly), além de arregimentar Chavez para seu lado, para desbaratar o conglomerado criminoso multinacional, ao mesmo tempo em que faz de tudo para proteger o cargo e a lisura de Wright que, para conseguir se confirmar em sua posição, precisa afastar-se de missões não sancionadas.

A adição de Michael Peña ao elenco para encarnar uma nova versão de Domingo Chavez (a primeira e até a presente temporada única no audiovisual – fora os games da série Rainbow Six – foi por Raymond Cruz, em Perigo Real e Imediato), outro personagem criado por Tom Clancy como parte do Ryanverso, foi inspirada, pois o ator, mesmo tendo enveredado, no passado, por papeis cômicos, consegue reformular-se por completo aqui, passando estoicidade, frieza e eficiência, sem deixar o carisma de lado. E, mesmo que a temporada funcione como uma porta de entrada para a mencionada série spin-off focada no personagem, ela não é descaradamente isso, já que Chavez permanece muito claramente como um coadjuvante que se soma de maneira orgânica a Greer e November, deixando Ryan brilhar no palco. Aliás, também de maneira inspirada, a temporada marca o retorno de Abbie Cornish ao seu papel da Dra. Cathy Mueller, namorada de Ryan, que vimos apenas no primeiro ano, agora com função narrativa que vai além de ser um interesse romântico do protagonista.

Se a temporada tem um defeito é que ela, por ser mais compacta e por ter uma história que se passa em diversos países apesar de o foco ser o olhar crítico da política interna e externa dos EUA, precisa recorrer a pulos espaciais constantes, com protagonistas e antagonistas navegando intensamente o mapa-múndi, com a direção elegendo inserir legendas de cada localização sem realmente precisar. Pode parece picuinha minha – e talvez seja -, mas eu consigo imaginar uma temporada mais concentrada, com as ações em países diferentes mais longas e menos fragmentadas e definitivamente sem indicações por escrito sobre onde elas se passam já que a direção e montagem já cumprem bem a função de estabelecer os países em establishing shots bem evidentes.

Seja como for, as sequências de ação tanto em solo americano quanto nos mais diferentes países são do mais alto gabarito e, melhor ainda, variadas, já que até Greer tem os holofotes apontados para ele em uma investigação solo que se conecta diretamente com a operação clandestina que Ryan encabeça ao lado de November e Chavez, formando, aliás, uma trinca altamente eficiente, com uma química excelente entre os três atores. E o mero fato de ninguém ser esquecido na história – nem mesmo o presidente dos EUA, que tem participação razoavelmente relevante – já mostra que o roteiro foi muito bem construído, ainda que – e isso é um aspecto muito positivo – ele não seja tão explicativo quanto muito gente talvez desejasse, exigindo uma curva de aprendizado razoavelmente longa sobre o que exatamente está acontecendo, especialmente no que diz respeito a Chao Fah (Louis Ozawa Changchien), segundo em comando do crime organizado birmanês, e que é personagem muito relevante à toda a trama.

Com um complexo caso internacional que, porém, olha com visão crítica de raio-x para dentro da também complexa – e muitas vezes perversa – mecânica da política interna e externa dos Estados Unidos, a quarta temporada da série é uma excelente, ainda que cedo demais, despedida para o Jack Ryan de John Krasinski que, espero, retorne ao papel de alguma forma em futuro próximo. Fica a torcida para que a série protagonizada por Michael Peña realmente vingue, algo que, na data de publicação da presente crítica, é algo incerto não só pelo suposto desenvolvimento de um longa-metragem de Rainbow Six como continuação de Sem Remorso, de 2021 (baseado no livro homônimo de Clancy), que potencialmente teria outra versão de Domingo Chavez mas também, claro, pelas greves dos roteiristas e atores que toma conta de Hollywood.

Jack Ryan – 4ª Temporada (Idem, EUA – 29 de junho a 14 de julho de 2023)
Desenvolvimento: Carlton Cuse, Graham Roland (baseado em personagens e romances de Tom Clancy)
Showrunner: Vaun Wilmott
Direção:
Lukas Ettlin, Jann Turner, Shana Stein
Roteiro: Vaun Wilmott, Aaron Rabin, Steven Kane, Jada M. Nation, Robert Port, Joe Greskoviak
Elenco: John Krasinski, Wendell Pierce, Michael Kelly, Betty Gabriel, Abbie Cornish, Michael Peña, Okieriete Onaodowan, Louis Ozawa Changchien, Zuleikha Robinson, John Schwab, David Bedella, Derek Cecil, Michael McElhatton, Adam Bernett
Duração: 339 min. (seis episódios)

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