Um dos traços que mais aprecio no cinema dos anos 80 é o fato de como muitos filmes do período, especialmente as narrativas com tons de fantasia e ficção científica, não tentam explicar suas premissas ou envolver lógica demais na forma de contar uma história. Ivan Reitman é um cineasta que abraça essa simplicidade como ideia central em seus longas de comédia da época, como no clássico Os Caça-Fantasmas e no incrivelmente charmoso Irmãos Gêmeos, filme que nos diz que Arnold Schwarzenegger e Danny DeVito são filhos de seis pais diferentes e uma única mãe, simplesmente porque sim.
A abertura da obra até parece a introdução de um conto de fadas urbano, com uma montagem com narração que conta sobre o nascimento absurdo dos personagens, sua separação e o início de uma jornada de reencontro. A partir daí, o humor é sempre feito de contrastes, brincando com a ideia de que os irmãos gêmeos são totalmente diferentes, tanto na aparência quanto nas personalidades. Vincent Benedict (DeVito) é um malandro e também é galinha, enquanto Julius Benedict (Scwarza) é um símbolo de perfeição, todo musculoso e brilhante, mas também ingênuo e sem malícia.
Depois de flertar com a comédia em Stay Hungry e também em Inferno Vermelho, podemos ver Schwarzenegger em sua primeira performance totalmente cômica. E caramba, como ele entrega ótimas gargalhadas. Se aproveitando da ideia de que seu personagem é um estranho numa terra nova, o ator sempre age com um senso de maravilha e descoberta mesclado com inocência. Do lado oposto do espectro, DeVito mergulha nos clichês e arquétipos do vigarista, sempre com olhares que denotam segundas intenções e um carisma safo.
A química entre os protagonistas é instantânea e essencial para o restante da obra, já que o entrosamento dos dois está em praticamente todos os frames. O roteiro é esperto em torná-los amigos rapidamente, sem desperdiçar tempo com o malandro Vincent tentando enganá-lo ou fugindo. Assim, podemos ver os dois personagens ensinando diferentes coisas um para o outro em uma narrativa que funciona como um mosaico de esquetes. Julius aprende a dirigir, a dançar e perde a virgindade, enquanto o solitário Vincent descobre como é confiar e ser amado.
Reitman tem ótimo timing e criatividade visual para estes momentos, como a maneira que filma os personagens andando numa passarela com ternos combinando, ou então em como se aproveita de momentos prosaicos, como Julius descobrindo a cidade. Infelizmente, o roteiro acaba criando algumas situações para dar prosseguimento à narrativa, como uma subtrama chata sobre um assassino e o contrabando de um produto misterioso, assim como a missão dos irmãos para encontrarem sua mãe. O cineasta consegue dosar essas tramas mais objetivas, mas, honestamente, preferia um longa apenas com a série de acontecimentos inusitados e as desventuras entre os irmãos Benedict.
Ainda assim, a saga para achar a mãe termina numa nota de ternura, um desfecho digno para um filme cheio de charme. Irmãos Gêmeos é um belíssimo exemplar de uma comédia familiar simples e efetiva, se aproveitando de uma premissa absurda para criar situações divertidíssimas para suas estrelas. Só os anos 80 para nos presentear com as dinâmicas fraternais entre um baixinho vigarista e um fisiculturista crianção.
Irmãos Gêmeos (Twins) – EUA, 1988
Direção: Ivan Reitman
Roteiro: William Davies, Timothy Harris, William Osborne, Herschel Weingrod
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Danny DeVito, Kelly Preston, Chloe Webb, Bonnie Bartlett, Tony Jay
Duração: 107 min.