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Crítica | Ip Man: The Awakening

Deem um descanso para o mestre.

por Rodrigo Pereira
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Existe um momento para tudo na vida em que é preciso parar, respirar fundo e dizer: chega. Com Ip Man: The Awakening sendo o nono filme sobre o histórico e homônimo mestre de artes marciais lançado desde 2008, parece-me que esse é um momento oportuno para que toda e qualquer produção futura sobre o personagem seja colocada de lado. Pelo menos, por algum tempo.

Com direção dupla de Zhang Zhu Lin e Li Xi Jie, o mais recente longa sobre o mestre de Bruce Lee não apresenta absolutamente nada de novo, se limitando a recontar genericamente o início da trajetória do protagonista ao chegar em Hong Kong. Lá, ele cruza o caminho de um grupo de britânicos traficantes de seres humanos e os confronta, o que acaba fazendo com que tanto Ip Man quanto as pessoas próximas a ele sejam ameaçados e perseguidos pelos traficantes. Para quem assistiu a quadrilogia dirigida por Wilson Yip, pode ter quase um déjà vu com esse breve resumo, pois é exatamente a sensação que tive por quase toda a projeção: já vi isso antes. Ip Man: The Awakening parece a junção dos roteiros dos dois primeiros filmes realizados por Yip e misturados em um liquidificador junto de cimento. Bata tudo em alta velocidade e você obtém uma obra repetida, cinza e sem personalidade própria.

Nenhum núcleo criado pela dupla de diretores consegue ser realmente cativante. Tse Miu parece tentar (sem sucesso) emular Donnie Yen a todo custo. Chen Guanying não é nada mais do que razoável no papel de Bufeng. Todo o núcleo da família de Bufeng e seus conhecidos flertam com uma construção interessante ao integrarem Ip Man em seu meio, mas a direção não faz nada para que esse sentimento se firme de fato, acreditando que uma ou outra interação em meio a algumas risadas seria o suficiente para cativar os espectadores e criar qualquer laço com as personagens. E o que falar do núcleo do antagonista?

Não costumo utilizar essas frases cheias de certezas, mas o vilão interpretado por Sergio de Ieso talvez seja o pior que lembro de ter visto no cinema (no mínimo, luta por esse posto). Tenho dificuldade de lembrar algum antagonista tão caricato e cheio de trejeitos genéricos do arquétipo de vilão. Os olhos constantemente cerrados tentando intimidar (ou seduzir? Ou imitar Clint Eastwood?) seus adversários, os movimentos lentos tentando emular classe ao fumar um charuto e beber uísque, a fala pausada em meio as caras e bocas que o tornam uma versão que deu errado dos maiores gângsters do cinema. Tudo isso para tentar construir uma aura de suposto desafio ao herói e, em seguida, ser derrotado vexatoriamente por ele com meia dúzia de golpes. É tão ruim que se destaca negativamente em meio a uma obra que já não apresenta nada realmente bom.

Para não dizer que não há nada para se destacar, Ip Man: The Awakening consegue uma posição de destaque como uma das piores obras dentre as que abordam a vida do mestre chinês. Não traz nada de interessante sobre a vida do protagonista que já não tenha sido abordada anteriormente, sendo um filme completamente descartável. Agora, espero que deixem a história de Ip Man descansar, ao menos, por algum tempo.

Ip Man: The Awakening — China, 2022
Direção: Li Xi Jie, Zhang Zhu Lin
Roteiro: Liu Bayin, Fang Lan
Elenco: Chen Guanying, Tse Miu, Hao Yan Fei, Zhao Yu Xuan, Miao Xie, Sergio de Ieso
Duração: 80 min.

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