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Crítica | Inverno (2022)

Ecos de clássicos do terror no cinema brasileiro.

por Leonardo Campos
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Com bastante potencial para se tornar uma produção de referência sobre os desdobramentos da pandemia da covid-19 que nos acompanha desde 2020, Inverno é um dos clássicos casos de narrativas com propostas interessantes, mas que falha em sua execução. Poucos espaços, quantidade tímida de personagens e muitos conflitos, uma receita que geralmente rende bons frutos, mas que aqui, se perde em meio às escolhas do texto e da direção. Isto tudo, no entanto, não depõe contra para afirmar que o filme é ruim, longe disso, é apenas uma trama que tinha tudo para ser aterrorizante, mas demonstra o quão a falta de ritmo pode prejudicar uma boa história. Ademais, há também um excesso de situações sobrepostas que encalham os obstáculos centrais desta produção realizada num dos períodos mais caóticos do isolamento social, delineadas pela direção de fotografia constantemente soturna de Breno Cunha, estruturada em torno de imagens que reforçam a desorientação dos personagens.

Dirigido e escrito por Paulo Fontenelle, num texto dramático que teve como apoio, Thaila Ayala, a protagonista do filme, Inverno parte da seguinte premissa: um casal, Rodrigo (Renato Góes) e Beatriz (Ayala), atravessa as demandas originadas pelas etapas angustiantes da mencionada pandemia. Precisam se isolar socialmente, usar máscaras, álcool em gel, ser cauteloso na recepção de qualquer encomenda que chegue na porta da casa e outras medidas que mudaram o cenário de nossas vidas nos últimos anos, pegando a todos de surpresa e causando desconforto e uma nova perspectiva para encarar o cotidiano. As coisas começam a ficar ainda mais estranhas com a chegada de Ana (Bárbara Reis), amiga de Beatriz, convidada por Rodrigo para passar os dias de isolamento, numa era em que não havia vacina, apenas os protocolos e o clima de claustrofobia diante da necessidade de se precaver diante da ameaça microbiológica.

Certo momento, a paranoia é instalada quando Rodrigo, num momento de curiosidade, lê um jornal que noticia a lista de pessoas mortas pela covid-19 e acaba encontrando o nome de Ana entre os ceifados pela pandemia. Ela consegue desconversar, mas a situação soa estranha para o personagem que começa a investigar para entender o que está acontecendo diante da chegada desta visitante que delineia os conflitos já existentes, dentre eles, a perda de um bebê, o casamento em crise, num feixe de referências aos excelentes Os Outros, O Bebê de Rosemary, O Iluminado, etc. Bia parece adentrar numa redoma de loucura, o marido atravessa um cotidiano sem rumo e Ana, o novo corpo a habitar o espaço domiciliar, parece a única equilibrada neste cenário numinoso, tomado por muita estranheza, reforçado pelo design de som, pelas notas elevadas da trilha sonora, num filme com desfecho aberto, amplo em suas interpretações.

Em Inverno, um feixe de situações se embaralha e os personagens passam por uma etapa de suas vidas que parece encaminhá-los para um final sem garantias de retorno da ordem. Trancafiados não apenas na casa, mas em suas condições internas, as figuras ficcionais desta produção lançada em 2022 se esforçam para criar uma trama substancial, tributária de clássicos estrangeiros, mas dedicada a criar uma história autenticamente brasileira, num resultado que fica abaixo da média e do potencial disposto no argumento, mas que ainda assim, é uma contribuição para a ascensão do terror enquanto gênero em formatação no cinema produzido no Brasil. Tendo aborto, estupro, novos modelos de relacionamento, dentre outros temas, o filme dirigido por Paulo Fontenelle abraça um numeroso arsenal de histórias, mas as desenvolve num ritmo irregular para uma trama com pouco mais de uma hora de duração. Tem potencial, como já dito, no entanto, há falta de emoção e eficiente utilização dos conflitos dispostos pelo texto dramático.

Inverno — Brasil, 2022
Direção: Paulo Fontenelle
Roteiro: Paulo Fontenelle
Elenco: Renato Góes, Thayla Ayala, Bárbara Reis
Duração: 69 min.

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