Como indicado no título, o décimo oitavo volume de Invencível é bem violento e sangrento. Depois do épico espacial romântico e trágico do volume anterior, Kirkman retorna a narrativa para sua trajetória normal, acompanhando Mark Grayson e suas dificuldades familiares. A história em questão envolve os erros dos heróis, suas consequências fatais e a discussão bem longe do preto no branco que Kirkman gosta de explorar.
A narrativa começa com Zandole explicando para seus pais (se é que esses monstros podem ser chamados assim) o que aconteceu com seu irmão e de onde vem seus poderes. Obviamente, a discussão escalona para a agressão, com a namorada do herói matando sua sogra, enquanto Zandole assassina seu pai. É um bloco bem perturbador (e Ottley não economiza no gore), mas tem pouco efeito no restante da história. Parece mais uma das subtramas que Kirkman gosta de encaixar nas edições, sendo desenvolvidas posteriormente na série – já fiquei acostumado com esse estilo do autor, mas confesso que fiquei com a sensação de que a sequência é deslocada para além da conexão temática sobre as mancadas dos heróis. Veremos o que sai do arco de Zandole nos próximos volumes.
Depois disso, o foco do texto está em Mark. O cenário da história aqui também leva o protagonista a confrontar suas escolhas ruins e ter que arcar com seus resultados catastróficos. Estou falando, claro, de Dinosaurus, o gênio maquiavélico que Mark soltou e vinha mantendo na linha até perder os poderes. Sem supervisão, o anti-herói jurássico arquiteta um plano que irá matar milhões de pessoas, sob a desculpa de preservar o meio ambiente e o futuro da humanidade. É um final apropriado para o estranho relacionamento entre os personagens, começando com a decisão bem duvidosa de Mark em soltá-lo (até hoje acho essa escolha do roteiro fora de personagem, mas tudo bem), passando por um arco de amizade e agora o embate final. Ainda que o drama seja envolto por culpa e moralidade, elementos sempre caros à escrita de Kirkman, o desenrolar da leitura é bastante frenético, com muitos blocos de ação e destruições visuais – como sempre, Ottley arrasa na diagramação e na fluidez da leitura.
No mais, a trajetória da história é bem orgânica com os temas apresentados pela série, mantendo a jornada de amadurecimento de Mark. O tratamento do texto explora bem a arrogância do protagonista (algo bem típico da juventude), novamente desconstruindo a visão do personagem sobre o que é heroísmo e o “panorama geral” que ele vem prezando à algumas edições. Sinto que Kirkman poderia ter explorado mais o drama do herói sem poderes, mas o desperdício da trama resulta em bons frutos por outro ângulos, com Mark refletindo sobre o impacto de seus atos. Também acho bacana como Kirkman começa a introduzir temas mais adultos na vida de Mark e Eve com matrimônio e um bebê.
Tangencialmente, Kirkman continua desenvolvendo boas tramas, como o início de uma rivalidade entre Mark e Robô, e especialmente o drama imperial e cultural dos Viltrumitas, agora com Nolan assumindo a liderança. Adoro os blocos sobre os conquistadores ganhando humanidade, aprendendo a ter afeição e compaixão. Como sempre, a narrativa da série mescla muito bem os exageros visuais com momentos humanos, sobrando destaque para os encontros e conversas sempre cheias de ternura e amor entre Mark e Eve. Nosso protagonista está crescendo, ficando em termos com seus erros e com o heroísmo. Adoro quando ele relembra a facilidade do início, aprendendo a voar e agindo por impulso, mas aos poucos a maturidade dá perspectiva e a vida bate na gente, ao mesmo tempo que nos dá novas experiências.
Invencível – Vol. 18: Morte de Todos (Invincible – Vol. 18: Death of Everyone) – EUA, 2013
Contendo: Invencível #97 a 102
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Ryan Ottley
Colorista: John Rauch, Cliff Rathburn
Letras: Rus Wooton
Editora original: Image Comics
Páginas: 198