O décimo terceiro volume de Invencível tem uma estrutura bem picotada, mesmo para os parâmetros de Kirkman que adora desenvolver múltiplos núcleos e subtramas ao mesmo tempo. Após o sensacional Ainda de Pé e sua épica batalha contra Conquest, o autor decide respirar um pouco na ação e arquitetar o começo da Guerra Viltrumita para o próximo volume. Kirkman normalmente faz isso, seguindo um volume agitado com outro mais morno e cadenciado, cheio de pequenas pistas e cliffhangers para o prosseguimento da narrativa. Eu costumo gostar desse desenvolvimento na série, oferecendo um espaço pessoal para os personagens lidarem com as consequências das grandes batalhas, enquanto planeja o futuro, mas, novamente, Dores de Crescimento tem um arranjo meio estranho, principalmente no ato final.
O volume começa com duas edições focadas em Nolan e Allen no espaço. Já devo dizer logo de cara que é meu núcleo favorito do compilado. Primeiro que o texto prepara muito bem o terreno para a guerra em larga escala que está esquentando, esclarecendo a história do vírus que dizimou os Viltrumitas, introduzindo o líder da Coalizão de Planetas (também um traidor viltrumita, como Nolan) e sua organização bélica para um ataque – aliás, a construção de mitologia aqui é bem fascinante em sua simplicidade; um traço da escrita de Kirkman que raramente é elogiado. A tarefa da dupla é simples: encontrar armas e seres que conseguem ferir viltrumitas.
O que se segue, então, é uma deliciosa leitura de sci-fi pulp com toques de buddy comedy entre Nolan e Allen. Apesar dos altos riscos da guerra, Kirkman tece uma aventura bem leve e divertida. A dupla procura uma arma indestrutível que pode atravessar qualquer coisa, em posse de um space rider; uma planta venenosa; criaturas congeladas que comem viltrumitas; e até o gladiador Battle Beast. No meio dessas buscas, Nolan precisa dormir no sofá de Allen, enquanto ele constantemente faz sexo com sua parceira, o que proporciona bons risos. Eu diria que existe até um leve toque de space opera nas edições, algo que se tornaria mais característico da série em volumes posteriores com a narrativa se tornando mais e mais intergaláctica – mas é conversa para outro momento. Minha única ressalva é a arte de Cory Walker (primeiro desenhista da série), que retornou para, talvez, dar um descanso para Ottley, mas o artista tem um traço meio “juvenil” e pouco detalhista que não combina mais com a obra. Ainda assim, a trama de aventura espacial, as doses de lore, as personalidades de Allen e Nolan que se misturam bem e o humor agradável nos dá uma leitura extremamente prazerosa.
Após a pequena aventura de Nolan e Allen, a narrativa retorna para a Terra, onde acompanhamos Mark enfrentando vários inimigos diferentes. É aqui que começo a achar a estrutura do volume estranha. Em primeiro lugar, acho difícil de entender porque Kirkman não estendeu a ótima aventura espacial das duas primeiras edições, decidindo retornar para Mark com pouca história para contar no restante do volume que conta com 4 edições. Os conflitos na Terra são, de certa forma, meio bobos, começando com um dinossauro com ideologia extremista (isso mesmo que você leu), uma guerreira alienígena e o exército de Sequids que vieram de Marte e vêm sendo indicados há bastante tempo. Não sou lá fã da construção dessas batalhas, jogadas a torto e a direita na narrativa sem um senso real de perigo ou mesmo de paródia, e a diagramação de Ottley está estranhamente genérica em muitas delas, com poucos painéis contendo o dinamismo visual para ação característica do artista.
A verdade é que os conflitos são basicamente desculpas para discutir a crescente raiva de Mark e sua moralidade turva desde que matou Angstrom e (acha que matou) Conquest. Eu gosto do desenvolvimento dramático em torno dos atos extremistas de Mark, algo que vai de encontro com a linguagem da série de desconstruir e desiludir a visão de heroísmo para o protagonista. Mas sinto que faltou um cuidado visual e narrativo de Kirkman e Ottley na construção dos momentos (durante as lutas) em torno do tema, em especial do impacto de ver Mark matando um inocente. Ainda assim, o conflito interno do herói é ótimo no volume, fazendo um paralelo com a transição da adolescência para a vida adulta, indicada no próprio título do volume, de que crescer é descobrir que nem tudo é preto no branco. O manto carrega um sacrifício. Vale notar os ótimos diálogos íntimos de Mark com Eve e, em especial, o momento de desabafo do protagonista com Art – notem como o artista usa sombreamento no rosto de Mark para adicionar uma carga visual e peso dramático para a conversa; simplesmente sensacional.
O décimo terceiro volume de Invencível fecha com o momento mais estranho da série. Após o diálogo com Art citado acima, Mark decide voltar a usar seu uniforme original de amarelo, azul e preto, simbolizando que o herói decidiu que irá seguir o código moral de não matar. Logo em seguida Nolan aparece, em um reencontro de pai e filho há muito tempo esperado, convocando ele para uma guerra (e para matar, obviamente). É o desfecho perfeito, não? Bem, seria. Kirkman decide jogar mais umas 10 páginas com Mark e Eve (com uma arte horrorosa de Walker), recapitulando eventos da obra, em um momento bem de começo de série procedural que relembra o espectador do que aconteceu nos capítulos anteriores. É tão estranho, e meio que sumariza a estrutura esquisita do volume, com um começo curto demais, um miolo longo demais e um final anticlimático. Apesar dos deslizes, há muita qualidade no 13º volume da série, como eu já expus, em especial no terreno que ele prepara para um dos melhores arcos de quadrinhos de heróis – além da gravidez de Eve. Que venha a Guerra Viltrumita!
Invencível – Vol. 13: Dores de Crescimento (Invincible – Vol. 13: Growing Pains) – EUA, 2010
Contendo: Invencível #66 a 70; Invincible Returns #1
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Ryan Ottley, Cory Walker
Colorista: Bill Crabtree, FCO Plascencia
Letras: Rus Wooton
Editora original: Image Comics
Páginas: 166