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Crítica | Invencível – Vol. 11: Dias Felizes

Um prelúdio de dias trágicos.

por Kevin Rick
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Com a mesma duração de uma gestação, eu retorno para as críticas da série em quadrinhos de Invencível praticamente nove meses desde o texto do décimo volume. Peço perdão pela enrolação para quem que estava acompanhando a série comigo – inclusive dois dos leitores mais fiéis do PC que estão sempre comentando!. Também estou devendo em outras séries. Mas é a vida. E eu não poderia ter retornado a releitura de Invencível com um volume mais gostosinho do que Dias Felizes. Muito do que acontece na obra é sobre relações familiares, amizade e o romance de Mark e Eve, sempre incluindo a típica violência da série.

Aliás, Kirkman continua o debate de moralidade do arco anterior, carregado agora para um lado ainda mais íntimo e cotidiano. A primeira edição é ao mesmo tempo emblemática e sutil nesse sentido. Mark e Eve estão em um encontro, e o texto de Kirkman é extremamente honesto e afetuoso no retrato da relação do casal. Kirkman tem um curioso toque para romance sem cair em algo mais piegas, oferecendo um olhar particular cômico, descompromissado e autêntico à duplinha – gosto muito como ele injeta situações realistas com genuinidade, como namorados pensando em morar juntos, problemas de dinheiro e até o constrangimento de uma mãe escutando o casal transando. Ryan Ottley se mostra o parceiro confiável que é, criando diagramações maravilhosas como a imagem abaixo, que sumarizam o relacionamento de Mark e Eve com afeição.

Mas há um momento em especial nessa edição que traz a ótima discussão da violência na série. Durante o encontro, Mark é convocado para ir ao futuro. Lá ele mata um personagem, e então simplesmente retorna para o presente e sai para namorar. Não é como se nada tivesse acontecido, e Kirkman mostra a culpa e receio de Mark durante o momento e em outro diálogo posterior, mas o nível de facilidade e o aspecto rotineiro da ação de Mark que são interessantes de notar. O temperamento hostil do personagem está sendo mais normalizado. Podemos ver isso na própria maneira que Kirkman diferencia o retrato da violência, já que no começo da série sempre que isso acontecia, era uma situação de grande impacto, mas agora soa como algo recorrente, e até ordinário.

Kirkman faz isso propositalmente. A violência não está se tornando gratuita, mas perigosamente regular. O autor até tem uma ótima sacada ao trazer a questão do “mas ele é um cara legal”. Vemos isso primeiro não com Mark, mas sim com o novo namorado de Amber após ele bater na amiga de Mark – chegou a me incomodar como eu fiquei mais nervoso com a violência doméstica do que com o assassinato de Mark. Afinal, o protagonista e o temperamento dele são tão diferentes desse babaca que bate na namorada?

A edição final brutal do volume coloca esse lado negro da história em outro patamar. Diferente da abordagem da Marvel e da DC, Kirkman quer discutir como os atos do personagem afetam a vida de civis, mesmo quando a culpa não é necessariamente dele – um conflito sobre consequência ainda mais interessante, eu diria. Isso acontece porque o autor traz a dimensão heroica da história sempre para um círculo pessoal. Mesmo não criando debates super filosóficos e tematicamente aprofundados, Kirkman tem uma facilidade absurda em trazer esses subtextos realistas com sutileza, enquanto Ottley nos choca com a imagem.

De certa forma, Dias Felizes parece um volume final para a felicidade de Mark e Eve (e de outros personagens também) antes da história tomar um rumo mais trágico. É uma leitura deliciosa da perspectiva romântica, mas cheia de pistas do futuro violento da série. É como se tudo estivesse fervendo e esperando para estourar na superfície. Vemos isso na característica maneira que Kirkman dilui futuras tramas, como a Guerra Viltrumita – aliás, o capítulo de amizade entre Nolan e Allen é uma gostosura! -, os parasitas de Marte e as versões malignas de Mark de outras dimensões. Mas é visto principalmente no temperamento do protagonista, nesses indícios da violência se tornando parte do dia-a-dia e de sua personalidade, e das terríveis consequências do ofício de super-herói. Será que haverão mais dias felizes?

Invencível – Vol. 11: Dias Felizes (Invincible – Vol. 11: Happy Days?) – EUA, 2009

Contendo: Invencível #54 a 59 + The Astounding Wolf-Man #11
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Ryan Ottley
Colorista: Bill Crabtree, FCO Plascencia
Letras: Rus Wooton
Editora original: Image Comics
Páginas: 169

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