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Crítica | Invencível – 3X07: O Que Foi Que Eu Fiz?

A Guerra (quase) Invencível.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série.

Antes de falar do episódio em si, quero pedir uma pequena licença para vocês. Como alguns devem saber, conheço todo o material de origem da série e fiz as críticas dos primeiros vinte volumes dos quadrinhos de Invencível (faltando apenas os últimos cinco, que pretendo reler e escrever em algum ponto no futuro), mas tento evitar ao máximo trazer qualquer informação das HQs nos textos da série. Faço isso por dois motivos: 1) spoilers, obviamente; 2) e para evitar críticas com muitas comparações, que penso serem desnecessárias e, honestamente, chatas de ler. Dito isso, preciso abordar rapidamente Ainda de Pé, o décimo segundo volume da obra que retrata os eventos adaptados deste sétimo episódio. Preciso fazer isso porque esse volume é um dos melhores exemplares de pura porradaria que já li em quadrinhos, com um trabalho espetacular de diagramação do ilustrador Ryan Ottley, que traz um dinamismo e um senso de movimentação pelos painéis da obra que é uma aula de ação em gibis, e com uma narrativa simples e eficiente de Robert Kirkman em escalonar a tensão e o senso de urgência da história em torno da invasão de vários Marks de outras dimensões, todos sob o comando de um determinado Angstrom Levy com sede de vingança.

Kirkman inclusive é o roteirista deste episódio e confesso que eu estava esperando não só um banho de sangue, mas um trabalho técnico a altura do material de origem. No entanto, me peguei um pouco decepcionado ao final de O Que Foi Que Eu Fiz?. Eu sei que muitas pessoas estão reclamando da animação (não é o meu caso), mas não penso que o problema tenha sido esse, e sim algo mais de ordem da direção e da montagem (talvez até da trilha sonora também, que vem caindo de qualidade desde a temporada passada), que parecem não conseguir criar no audiovisual o mesmo sentimento de perigo, de alucinação e do caos que existe no décimo segundo volume referido. Ainda é, claro, um capítulo extremamente gráfico, que entretém bastante com as variantes malignas de Mark, que tem muitos momentos de pancadaria divertidíssimos e que se aproveita da presença sempre marcante do psicótico Angstrom Levy (com destaque para seu flashback de body horror), mas ficou faltando aquele “algo a mais” para mim, com muitos momentos durante os combates sem o peso dramático ou sem a intensidade visual que claramente querem passar. Talvez seja a minha expectativa falando alto ou talvez realmente seja a execução da série; quem sabe aqueles que não leram as HQs possam dar uma visão menos “contaminada” do episódio.

Feito esse longo parênteses, O Que Foi Que Eu Fiz?, mesmo com as minhas ressalvas em termos da ação e da tensão, se mostra um ótimo capítulo dentro do desenvolvimento narrativo da série. Mesmo soando um pouco desgarrado da trama principal da Guerra Viltrumita, que definitivamente ficou escanteada para a próxima temporada, tudo que vemos aqui é uma extensão das discussões morais em torno de Mark, que mais uma vez é colocado contra a parede com as consequências dos seus atos, mas com um pequeno twist: a culpa do protagonista nasce do fato dele não ter matado Angstrom. Depois de um longo processo de arrependimento, de problemas com seu temperamento e de vários discursos para Oliver, o personagem se encontra agora pensando que deveria ter assassinado o vilão para evitar todos os desastres que acontecem no evento global (se tem algo que a estrutura e a edição do episódio fazem bem é evidenciar a escala do conflito, aliás). O fato dos monstros terem o seu rosto (com ótimos e por vezes cômicos designs), bem como a participação de Powerplex, são elementos perversos do texto, trazendo requintes de crueldade psicológica e emocional para um já conturbado Mark.

O turbilhão de emoções do protagonista ganha algumas consequências importantes, passando pelos ferimentos graves de Eve, gerando a ótima cena dele com os pais da sua namorada, e o sacrifício de Rex – muito mais carismático na série do que nas HQs, aproveitando que estou mergulhando nas comparações, em grande razão pelo trabalho humorístico do sempre excelente Jason Mantzoukas. Em um seriado que adora achar conveniências para ninguém de importância morrer, é importante sentir algum senso de real repercussão, ainda mais dentro do teor subversivo de Kirkman com o gênero, razão pela qual a morte de Rex é importante em termos narrativos e dramatúrgicos, assim como mostra a necessidade da pequena subtrama do mesmo com Rae. Sinto até que a adaptação poderia ter eliminado mais alguns personagens de expressão, mas tudo bem, deu para comprar o resultado final do embate – principalmente no sentimento de destruição global – e os vários figurantes, de pessoas normais a heróis paródicos das Eras de Ouro e de Prata dos quadrinhos, cumprem seus papéis de buchas de canhão e de choque visual. Não sei se gosto da resolução com Angstrom, que acaba sendo parado por fatores externos para, mais uma vez, retornar no futuro, mas o antagonista também cumpre seu papel, pela segunda vez, colocando Mark em uma posição complicadíssima consigo mesmo.

O Que Foi Que Eu Fiz? pode acabar não sendo o espetáculo que eu esperava (a maldita expectativa!), mas definitivamente é um episódio poderoso em toda a sua selvageria e principalmente no que ela significa para Mark e companhia, com destaque dramático principalmente para a possível – e provável – mudança de coração do personagem sobre sua visão moralista-monocromática do que é ser um super-herói. Gradualmente, o personagem se aventura na ideia em ser mais Frank Castle do que Peter Parker (he, he), o que é muito interessante, principalmente na forma que o episódio termina com a aparição de Conquest, um soldado Viltrumita, em que Mark está prontinho para descontar todas as frustrações em alguém. Gosto do conceito de emendar um conflito com outro logo de cara assim (fazendo referência ao comentário de Cecil), no que promete ser um grande desfecho de temporada com a batalha dos dois, que, inclusive, fecha o tal décimo segundo volume. Difícil baixar as expectativas (sim, sou teimoso…), mas de uma coisa eu sei, Mark vai de cara nessa batalha com outra visão de mundo.

Invencível – 3X07: O Que Foi Que Eu Fiz? (Invincible – 3X07: What Have I Done?) – EUA, 06 de março de 2025
Criado por: Robert Kirkman, Cory Walker, Ryan Ottley
Direção: Haylee Herrick
Roteiro: Robert Kirkman
Elenco: Steven Yeun, Sandra Oh, J.K. Simmons, Jason Mantzoukas, Gillian Jacobs, Zazie Beetz, Walton Goggins, Grey Griffin, Chris Diamantopoulos, Khary Payton, Jay Pharoah, Andrew Rannells, Ross Marquand, Seth Rogen, Sterling K. Brown, Eric Bauza, Clancy Brown, Cliff Curtis, Shantel VanSanten, Reginald VelJohnson, Luke Macfarlane, Calista Flockhart, Aaron Paul
Duração: 51 min.

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