- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série.
Só Posso Pedir Desculpas traz um evento dos quadrinhos que eu estava bem ansioso para assistir: a apresentação de Powerplex. O antagonista não é exatamente um grande vilão, oferecendo pouco perigo para Mark e tendo uma caracterização bastante genérica em sua mistura de Electro e Speedball, mas a bagagem de culpa e moralidade que o personagem traz para o arco do protagonista é o verdadeiro destaque. Em síntese, o personagem, Scott Duvall, é um funcionário da GDA que, no fatídico ataque de Omini-man em Chicago, perde sua irmã e sua sobrinha. Tendo testemunhado a brutalidade da luta entre Nolan e Mark, o personagem culpa ambos pela morte da sua família, passando todo esse período desde a catástrofe tentando abrir uma investigação contra o Invencível. Após esgotar suas tentativas, ele e sua esposa roubam e utilizam tecnologia da GDA para amplificar os poderes de Scott para que o mesmo possa matar Mark.
O texto aqui traz uma das melhores características da série: a exploração de consequências. Não é sempre que as grandes batalhas megalomaníacas de heróis e vilões ganham espaço para uma reflexão posterior dos rastros de destruição que ficam para trás, ainda mais com algo tão individual como aqui – é fácil demais jogar sangue, membros e tripas por aí, como muitas produções de violência gráfica gratuita têm feito, sem depois ponderar sobre os efeitos disso e, melhor ainda, colocando face em estáticas. Esse tipo de trama quando abordada com qualidade normalmente traz bons frutos – como o próprio UCM fez em Capitão América: Guerra Civil -, algo que se manifesta em um misto de sentimentos para Mark, de culpa a arrependimento, e que principalmente traz a tona o complicado arco de redenção de Nolan.
A presença de Oliver ajuda a dar algumas camadas para esse lado dramático do episódio, incluindo alguns diálogos bonitos e desconfortáveis na ótima sequência do jovem conversando com Mark e Eve sobre os diferentes aspectos do seu pai e como perdão é algo longe de existir no contexto da situação, que ganha uma dimensão na também ótima sequência do memorial. Mais uma vez, o roteiro ganha contornos familiares bem charmosos e simpáticos, passando pelo desenvolvimento dos relacionamentos de Debbie e Paul, bem como do amadurecimento do namoro de Mark e Eve, incluindo uma participação bacana de Amber. O episódio ainda ganha blocos similares com alguns coadjuvantes, com Robô encontrando uma “cura” para a Garota-Monstro, enquanto Rae e Rex aparentemente terminam antes de começarem – os núcleos são meio desgarrados e não oferecem nada de muito relevante, mas também não atrapalham a narrativa, além de deixarem algumas migalhas de questões que serão importantes mais para frente (é injusto essa análise porque eu já li os quadrinhos, mas fazer o que).
O destaque, claro, fica com a participação de Powerplex. As lutas dele não carregam urgência, nem um entretenimento mais simples em termos de ação (o uso dos poderes dele é visualmente muito ruim, apesar da metáfora de dor transformada em poder ser boa), mas, como falei anteriormente, o elemento de qualidade que o personagem traz é o peso dramático que ele dá para o desastre em Chicago e como sua presença levanta alguns dos melhores temas em torno do arco de Mark, cada vez mais distante da simplicidade do início da série. Tenho, porém, alguns sentimentos mistos com a dublagem de Aaron Paul, que traz sim sua ótima intensidade ao papel, mas que em muitos momentos soa inadequado para o estilo do personagem – me peguei imaginando o Todd, de Bojack Horseman, várias vezes. O resultado ainda é mais do que satisfatório, com Powerplex cumprindo seu dever narrativo ao longo do episódio e no desfecho absolutamente perturbador, seja na cena da morte da sua família, seja na sequência da prisão com a fala extremamente equivocada do Mark. Só Posso Pedir Desculpas acaba sendo mais um episódio autocontido, mas que mais uma vez traz ótimo desenvolvimento de personagens e que lida com vários elementos da trama principal, sem falar do gancho com Angstrom – que tem que aparecer logo, porque os cliffhangers repetitivos estão cansativos – e os diversos Marks. Como sempre, mais problemas chegando.
Invencível – 3X06: Só Posso Pedir Desculpas (Invincible – 3X06: All I Can Say Is I’m Sorry) – EUA, 27 de fevereiro de 2025
Criado por: Robert Kirkman, Cory Walker, Ryan Ottley
Direção: Jason Zurek
Roteiro: Ross Stracke, Simon Racioppa
Elenco: Steven Yeun, Sandra Oh, J.K. Simmons, Jason Mantzoukas, Gillian Jacobs, Zazie Beetz, Walton Goggins, Grey Griffin, Chris Diamantopoulos, Khary Payton, Jay Pharoah, Andrew Rannells, Ross Marquand, Seth Rogen, Sterling K. Brown, Eric Bauza, Clancy Brown, Cliff Curtis, Shantel VanSanten, Reginald VelJohnson, Luke Macfarlane, Calista Flockhart, Aaron Paul
Duração: 50 min.
