- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série.
Quando vi o nome de Robert Kirkman como roteirista do oitavo episódio dessa temporada, eu sabia que teríamos um desfecho fielmente brutal aos quadrinhos, mas ao mesmo tempo com alguns problemas e cacoetes do autor em termos de amarras narrativas, resoluções e subtramas. E não foi diferente. Achei Que Você Fosse Mais Forte é tudo e mais um pouco que a audiência gostaria em uma conclusão de temporada para um material como Invencível: violento, intenso e perturbador de muitas maneiras diferentes. A questão é que temos alguns desvios e incongruências narrativas que, da minha leitura, não deixam o desfecho da temporada alçar a excelência de todo o seu potencial.
O início do episódio é arrasador. A direção e o texto são ágeis em estabelecer o conflito e o público é rapidamente inserido em um cenário familiar aterrorizante, com todos os requintes possíveis de crueldade, passando pela impotência do protagonista e os toques de insanidade mental de um antagonista que parece onipotente. Acredito ser impossível não criticar a falta de Angstrom Levy ao longo da temporada, deixando sua aparição repentina um pouco menos envolvente e coerente do que poderia ser, mas isso é detalhe frente a sua presença ameaçadora, dominadora e arrepiante, dispondo de grande trabalho de dublagem do sempre impecável Sterling K. Brown. Nosso querido Steven Yeun também não fica para trás, desesperadamente chegando ao ponto de explosão.
Mesmo alguns alívios cômicos forçados e deslocados na viagens multidimensionais, como os dinossauros falantes ou uma paródia do Homem-Aranha, não atrapalham a atmosfera desse bloco carregado de tensão e ansiedade. Sua conclusão, obviamente, é selvagem e agressiva, com sequências de ações divertidas entre as dimensões e os socos pesados dos personagens, até chegarmos a um Mark que é levado para além de seus limites em uma cena icônica dos quadrinhos e, agora, igualmente inesquecível nas telinhas. Escutar os golpes, o sangue voando e os gritos de Mark dão outra dimensão para a mesma cena das HQs. Diagramação é uma arte subestimada, mas nada se equivale ao audiovisual.
Se tenho uma crítica para esse bloco em específico seria o fato de que ele poderia ter durado mais. Vemos pouco do conceito do multiverso e na minha opinião a produção poderia facilmente ter esticado o conflito, ainda mais quando vemos o desperdício de tempo com desvios narrativos e subtramas desnecessárias, como a cena obrigatória de Robô e Menina Monstro; o retorno desnecessário de Kate, que tira o peso dos acontecimentos na batalha contra a Liga Lagarto; e aquele núcleo aleatório com a múmia (?). Clássico Kirkman enfiando coisa demais na história e picotando a narrativa ao ponto de quebrar um pouco a atmosfera do início do episódio e deixar o terço final um tanto anticlimático.
Felizmente, o autor tem qualidades que sobrepõem seus cacoetes. Por mais safada que seja aquela saída de roteiro com a aparição dos Guardiões do Globo do futuro, as consequências dramáticas do que Mark fez recebem a atenção e o espaço devido na reta final do episódio. De sua risada maníaca até seu choro no telhado, Kirkman repousa no trauma e na melancolia de seu protagonista se dando conta de sua falta de controle e seus receios em se tornar seu pai. Dada as circunstâncias, até penso que seu dilema moral não é tão complexo, uma vez que o personagem já matou antes e sua ações aqui são mais do que justificadas, vamos combinar, mas dado o contexto do momento, seu esgotamento mental e o nível de brutalidade da batalha, tudo acaba sendo coerente e impactante. Ver Mark voando em um ataque de nervos ao som de Michael Kiwanuka (um dos meus artistas musicais contemporâneos favoritos; sério, chequem seu álbum Love & Hate) é uma das minhas cenas favoritas da temporada. Um garoto quebrado com responsabilidades impossíveis e poderes irresponsáveis.
Se formos pensar apenas no bloco de Angstrom Levy, Achei Que Você Fosse Mais Forte é quase perfeito em suas ironias dramáticas e violentas com o gênero, mas como resolução de temporada não funciona tão bem assim entre alguns tropeços narrativos de Kirkman. Mas isso é detalhe. A conclusão do segundo ano de Invencível é perturbadora e catastrófica para Mark e sua família. Se não fosse o bastante, agora seu pai genocida quer começar um caminho de redenção para terminar de arrebentar com seu psicológico. O gancho com Nolan e Allen prepara a Guerra Viltrumita para a próxima temporada, onde Mark definitivamente vai ter que repensar seus conceitos morais.
OBS: Alguns leitores reclamaram da animação do episódio anterior, mas confesso que não vi nada negativo – em regra, sou extremamente pouco exigente com esse tipo de questão. Mas caramba, o que foi que aconteceu com o design da Eve nos minutos finais desse episódio? hahahaha Um horror! Foi um jeito esquisito de terminarmos a temporada.
Invencível – 2X08: Achei Que Você Fosse Mais Forte (Invincible – 2X08: I Thought You Were Stronger) – EUA, 04 de abril de 2024
Criado por: Robert Kirkman, Cory Walker, Ryan Ottley
Direção: Tanner Johnson
Roteiro: Robert Kirkman
Elenco: Steven Yeun, Sandra Oh, J.K. Simmons, Jason Mantzoukas, Gillian Jacobs, Zazie Beetz, Walton Goggins, Grey Griffin, Chris Diamantopoulos, Khary Payton, Jay Pharoah, Andrew Rannells, Ross Marquand, Seth Rogen, Sterling K. Brown, Eric Bauza, Clancy Brown, Cliff Curtis, Shantel VanSanten, Reginald VelJohnson, Luke Macfarlane, Calista Flockhart
Duração: 52 min.