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Crítica | Invasão Secreta – 1X04: Beloved

Invertendo papéis.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Infelizmente, Beloved confirma minhas suspeitas do episódio passado: a espionagem de Invasão Secreta é só fachada. Logo no começo deste episódio, vemos que G’iah não morreu (para a surpresa de zero pessoas…), tirando qualquer impacto do cliffhanger e nos roubando dos efeitos que isso traria à história. Além disso, dos quatro episódios até aqui, três – incluindo esse – terminam com um personagem “morto” no chão, comprovando a falta de ideias dos roteiristas da obra e um sentimento de repetição chato da trama. Esteticamente e tonalmente, estamos vendo um programa de espiões, mas a narrativa não está convencendo, tampouco nos envolvendo nas promessas iniciais de um thriller internacional de metamorfos e agentes especiais.

É tão frustrante ver o potencial da minissérie ser desperdiçado no teste de gênero que o MCU não investiu desde Capitão América 2: O Soldado Invernal. Notem como Beloved prioriza revelações previsíveis e falsamente chocantes (o retorno de G’iah; a confirmação de que Rhodes é um Skrull; a morte de Talos), do que subterfúgios e subtextos realmente engajantes. Quer dizer, a falta de criatividade para com artifícios para mover uma trama de espionagem é a maior surpresa do episódio, com momentos como o rastreador na bebida e a escuta em Priscilla demonstrando a carência de imaginação do texto.

O roteiro é objetivo demais, sem os característicos desvios e twists que fazem uma narrativa ambígua de espionagem se tornar interessante. G’iah volta à vida. Fury descobre a traição de Priscilla e Rhodes. O protagonista rastreia o falso Máquina de Combate. Salva o presidente dos EUA do ataque de Gravik. Talos morre para a audiência sentir algum tipo de peso numa história inexistente de tensão ou suspense. E, no final, temos a impressão de ter visto a mesma trama de Betrayed, com um ataque de Gravik “dando errado” e um dos mocinhos morrendo, só que dessa vez espero que a morte não seja apenas outro cliffhanger barato.

Felizmente, algo também é repetido em Beloved: os bons diálogos e as diversas cenas de conversação que ditam o ritmo de uma série com bons desenvolvimentos dramáticos para os personagens. Temos a ótima discussão de G’iah e Talos sobre a relação complicada entre pai e filha numa situação impossível, e o olhar ingênuo e otimista do ex-general Skrull colidindo com o cinismo de G’iah. Existe até um leve subtexto nessa conversa sobre pertencimento com o desejo dos Skrulls de “viver na própria pele”, algo que vem sendo abordado na série e ganha outros contornos aqui, como na cena de “Rhodes” olhando no espelho ou quando Varra questiona se Fury amaria sua verdadeira face.

É uma pena que esse conceito não tenha ganhado mais gravidade na série até aqui, considerando que serve para trazer mais peso e envolvimento com a insurgência, mas como pouco vemos do círculo interno dos Skrulls e Gravik se mostra mais unidimensional do que nunca neste episódio, é difícil extrair empatia desse lado dramático. Chega a ser estranho que a produção tenha feito um episódio tão curto (38 min.), desperdiçando a oportunidade de explorar outros lados dessa guerra, de trazer estofo político e social, e, como já disse, de desenvolver com mais cuidado o thriller de espionagem.

Outros momentos de destaque incluem as interações de Fury com Priscilla/Varra e posteriormente com o falso Rhodes. Novamente, os diálogos continuam disfarçando a trama vazia da série, com o encontro do protagonista com sua esposa trazendo uma intensidade dramática necessária, inclusive com um bom flashback que dá base a um momento com viés poético de uma tragédia romântica. O roteiro e os atores têm que comprimir anos de relacionamento e amor para vender a magnitude da traição, e acredito que fazem isso com qualidade o suficiente para sentirmos o momento. Apesar de eu não gostar da revelação ou da cretinice pouco engenhosa do rastreador na bebida, o momento com Rhodes também é bacana e bem-escrito, com Cheadle se divertindo horrores no papel vilanesco.

Outro tema recorrente da série que aparece em Beloved é a impotência de Fury, que está sempre dois passos atrás de Gravik e continua vendo aqueles a seu redor morrerem, desaparecerem ou lhe trair. Em termos dramáticos, acredito que a série continua acertando ao focar nessa desconstrução do personagem e suas falhas, como tanto pontuei na crítica do episódio passado, com os diálogos e o tom maduro do roteiro mantendo a qualidade da produção. Já a narrativa em si, me conformei com o fato de que não teremos nada além de um disfarce de thriller de espionagem com características políticas. É uma pena, porque a série tem potencial para explorar o subgênero e transformar os Skrulls em mais do que um pretexto para desenvolver Nick Fury. Notaram o quão pouco realmente vimos da Invasão Secreta propriamente dita?

Invasão Secreta – 1X04: Beloved (Secret Invasion – EUA, 12 de julho de 2023)
Desenvolvimento: Kyle Bradstreet
Direção: Ali Selim
Roteiro: Brian Tucker
Elenco: Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Kingsley Ben-Adir, Emilia Clarke, Olivia Colman, Killian Scott, Samuel Adewunmi, Dermot Mulroney, Richard Dormer, Charlayne Woodard, Don Cheadle
Duração: 38 min.

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