- Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica da 1ª Temporada.
A aposta da AMC nas artes marciais demorou a decolar. Começando com uma pouco badalada temporada de apenas seis episódios em 2015, a série desenvolvida por Alfred Gough e Miles Millar, dupla responsável por Smallville, somente voltou para as telinhas em 2017, desta vez maior, com uma encomenda de 10 capítulos. No entanto, mais nem sempre quer dizer melhor e, aqui, os episódios extras somente serviram para agravar o problema de origem de Into the Badlands, ou seja, o prestígio absoluto da forma sobre a substância, resultando em uma série linda, mas vazia.
Quando a 2ª temporada começa, seis meses se passaram e há um novo status quo para quase todos os personagens. Sunny (Daniel Wu) é um escravo em uma mina longe das Badlands, logo estabelecendo uma hesitante amizade com Bajie (Nick Frost, ótimo), M.K. (Aramis Knight) treina para controlar seu dom em um monastério misterioso, Minerva (Emily Beecham) – mais conhecida como A Viúva -, juntamente com Tilda (Ally Ioannides) e Waldo (Stephen Lang), engrenam em uma estratégia mortal para derrubar o sistema de baronato e libertar os cogs e Veil (Madeleine Mantock) teve seu filho com Sunny e vive, sob seu protesto, em um esconderijo subterrâneo com Quinn (Marton Csokas) que, com seu exército, por sua vez, planeja retomar o poder, livrando-se de Ryder (Oliver Stark) e Jade (Sarah Bolger).
Com isso, há uma divisão geográfica no foco da temporada, com os territórios externos servindo de palco para as histórias de Sunny e M.K. e as Badlands para todo o restante dos personagens. No entanto, os roteiros simplesmente não conseguem sustentar as narrativas de um lado ou de outro, com problemas mais graves justamente com Sunny que se torna o personagem menos interessante e menos desenvolvido da série, não sendo muito mais do que um grande lutador e matador que adora uma câmera lenta, cara de mau e poses heroicas. E o problema não está exatamente em Daniel Wu, mas sim nas escolhas de videogame da história que praticamente usa sete episódios para fazer com que ele retorne às Badlands, arrastando a narrativa no processo. Além disso, o pareamento de Wu com Nick Frost e seu simpático, mas misterioso personagem, tira a atenção do ex-Regente completamente. É aquela progressão básica que reestabelece o status quo anterior: Sunny precisa reunir-se com M.K. para, então, voltar às Badlands e salvar Veil e Henry (o bebê) das garras do mesmo vilão de antes.
Felizmente, nas Badlands a história é um pouco – mas só um pouco – mais eficiente. A Viúva ganha bom desenvolvimento, deixando de lado aquela pegada de boazinha que a 1ª Temporada dava a entender. Ao mostrar que Minerva está disposta a praticamente tudo para ter o que quer, o véu cai completamente, o que, aos poucos, vai afastando dela seus maiores aliados. Mas Emily Beecham rouba as cenas em que aparece e seu núcleo é, sem dúvida alguma, o mais interessante.
No entanto, o destaque de melhor personagem vai mesmo para Quinn. Se, antes, ele já era suficientemente malvado, agora o ótimo Marton Csokas amplifica os maneirismos de seu personagem, transformando-o, literalmente, em um típico vilão de filme de James Bond, cheio de planos sanguinários e uma lascívia deliciosa que permeia cada palavra que sai de sua boca naquele sotaque sulista estranho de Quinn. O que em outra série poderia ser um defeito, aqui é uma grande qualidade, pois Quinn combina perfeitamente bem com a atmosfera criada pelos showrunners e é a exata encarnação do que a série é: um mash-up caricato de filmes de artes marciais com distopias.
O problema é que, como disse, não há história e a 2ª temporada, com exceção de algumas revelações aqui e ali, notadamente envolvendo Bajie e M.K., é praticamente igual à 1ª, só que mais longa, mais enrolada e com mais “andar sem sair do lugar”, não muito mais do que uma desculpa para que cada episódio tenha, ao seu final, uma sempre espetacular luta de wire-fu repleta de sangue, membros decepados e golpes impossíveis. Um divertimento, sem dúvida, mas que não precisava de mais episódios para ser realizado.
O design de produção continua irretocável, com figurinos luxuosos e belíssimos, cenários detalhados e variados e armamentos originais e mortais aos borbotões, quase como um portfólio vivo demonstrando a capacidade de cada equipe responsável pelos elementos que compõem as sequências. O mesmo vale para as coreografias de luta que sempre tentam ser diferentes umas das outras, mesmo quando os mesmos personagens estão envolvidos. É um prazer visual (mas extremamente sanguinolento) como poucos na televisão que, porém, nem de longe é acompanhado pela qualidade dos roteiros. E olha que sou o primeiro a reconhecer que a série não tem como objetivo contar histórias complexas e nem desenvolver em sua plenitude os personagens. Mas tudo tem um limite, não é mesmo?
Into the Badlands, apesar dos pesares, continua divertida, ainda que cansativa e repetitiva. Se não há história para contar, então a estrutura original de seis episódios fazia mais sentido. Considerando que a 3ª temporada terá nada menos do que 16 (!!!), começo a ter muito receio pelo futuro dessa fantasia distópica de encher os olhos.
Into the Badlands – 2ª Temporada (EUA, 19 de março a 21 de maio de 2017)
Criadores e showrunners: Alfred Gough, Miles Millar
Direção: Nick Copus, Toa Fraser, Paco Cabezas, Stephen Fung
Roteiro: Alfred Gough, Miles Millar, Matt Lambert, Michael Taylor, Daniel C. Connolly, LaToya Morgan, Justin Britt-Gibson
Elenco: Daniel Wu, Aramis Knight, Nick Frost, Marton Csokas, Ally Ioannides, Emily Beecham, Sarah Bolger, Orla Brady, Madeleine Mantock, Sherman Augustus, Stephen Lang, Oliver Stark, Lance Henriksen, Maddison Jaizani, Eleanor Matsuura, Alan Wai, Cung Le, Chipo Chung
Duração: 420 min. no total (aprox.)