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Crítica | Ingeborg Holm (1913)

Uma vida trágica.

por Luiz Santiago
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Importantíssimo drama sueco de 1913, dirigido por Victor Sjöström, Ingeborg Holm escancara o desespero humano e as falhas institucionais de uma sociedade que esquece de seus mais vulneráveis. Baseado em uma peça de Nils Krok, o longa continua muito atual, pois aborda as lacunas do sistema de previdência social e o impacto devastador que tais falhas geram na vida dos indivíduos. Sjöström desenha uma tragédia íntima, inserindo-a no contexto coletivo que levou às mudanças nas leis dos abrigos para pobres na Suécia, fazendo do filme um catalisador do debate público.

O enredo é centrado em Ingeborg (Hilda Borgström), uma mulher cuja vida é virada do avesso após a morte de seu marido, Sven (Aron Lindgren, que também interpreta o filho crescido do casal), deixando-a sozinha com três filhos e uma loja para administrar. O fracasso em manter o negócio e a subsequente perda de sua saúde a empurram para um abrigo, colocando a personagem num caminho sem volta, de onde nem mesmo a conquista positiva do final da película consegue retirá-la. A atuação de Hilda Borgström é carregada de nuances, transmitindo o desespero crescente de uma mãe que, mesmo diante das adversidades, tenta desesperadamente manter algum resquício de dignidade. Sjöström, numa direção precisa, transforma cada escolha de Ingeborg em um soco emocional, fazendo-nos acompanhar sua queda lenta e irremediável.

O diretor utiliza-se de enquadramentos longos e fixos, reminiscentes de uma encenação teatral (fonte do roteiro do filme) e típicos daquela fase da Sétima Arte, fazendo com que o público perceba como cada elemento diverso do quadro contribui para a narrativa emocional e simbólica do filme. Mesmo que de forma lenta e mantendo a estrutura narrativa sem amplitude de desenvolvimento (pontos enfraquecedores do projeto, claro), o diretor consegue comunicar a queda de uma mulher, as perdas de uma vida inteira e um conforto tardio que serve ao menos como compensação momentânea de um grande sofrimento. Ingeborg é destituída não apenas de seus bens materiais, mas também de sua identidade enquanto mãe e enquanto indivíduo que busca sobreviver em meio às adversidades. Sua transformação numa figura de insanidade, embalando uma tábua de madeira como se fosse o filho, é uma imagem tocante que fica o tempo inteiro na mente do espectador.

Ainda assim, a resolução dessa camada superficial dos problemas, com o retorno da sanidade de Ingeborg ao ver uma foto antiga sua e reencontrar o filho, não me agradou. Embora seja tocante a ideia de que a conexão com o passado pode resgatar algo que foi perdido, essa solução parece quase milagrosa. A reunião com o rebento é um eco agridoce de tudo o que jamais poderá ser recuperado, e isso dói no espectador. Nesse sentido, o filme se recusa a oferecer conforto, subvertendo expectativas de uma narrativa melodramática da época e reforçando sua natureza como um retrato cru da condição humana e social. Talvez seja nessa variação entre elegância formal e brutalidade emocional que reside o maior triunfo do filme. Sjöström demonstra controle sobre seu material, construindo uma narrativa que é profundamente pessoal e universal. Apesar disso, é inegável que o seu ritmo deliberadamente lento e a solução rápida e simbólica estejam entre os pontos menos interessantes da fita. Em Ingeborg Holm não temos respostas, mas muitas perguntas. E talvez seja exatamente por isso que este filme, com toda a sua simplicidade e profundidade emocional, continua tão marcante para quem assiste, mais de um século após sua criação.

Ingeborg Holm (Suécia, 1913)
Direção: Victor Sjöström
Roteiro: Nils Krok, Victor Sjöström
Elenco: Hilda Borgström, Georg Grönroos, Aron Lindgren, William Larsson, Erik Lindholm, Richard Lund, Carl Barcklind, Hugo Björne, Bertil Malmstedt, Thure Holm, Axel Janse, Hugo Tranberg, Robert Johnson, Ruth Weijden
Duração: 73 min.

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