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Crítica | Imaculada (2024)

Religiosidade e o corpo feminino.

por Felipe Oliveira
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É interessante observar como Imaculada tenta disfarçar suas inspirações mesmo abrindo com uma cena típica para um filme do gênero. Embora o trecho sirva como um red herring, é a semente que Michael Mohan precisava para criar o clima de tensão e desconfiança em torno da chegada de Cecilia, uma jovem religiosa americana que se muda para um convento isolado na Itália. Há uma tentativa do filme em soar autêntico enquanto não demora a remeter a trama de Suspiria, substituindo o atraente mundo do balé pelos votos de devoção. Parte da configuração do longa se esforça em criar impressões à medida que quer trazer outras discussões.

Por isso se encontram aqui elementos de um horror sobrenatural gótico, flertando com convenções do gênero como jumpscares, movimentações estranhas e acontecimentos noturnos bizarros que fazem de Immaculate um atrativo comum, com um familiar mistério para ser desvendado – pela recém-chegada irmã Celilia. Mas tudo se trata de peças propositais que o roteiro utiliza para levar a história para um caminho diferente, na ideia de que há uma quebra de expectativa sendo elaborada. Contudo, é fácil visualizar esse exercício, principalmente quando o filme se apoia nas inspirações de Suspiria e O Bebê de Rosemary para compor sua trama religiosa que logo passa a beber também do nunsploitation, ou menos tenta explorar o gênero que teve seu auge nos anos 70 trazendo questionando a repressão sexual e religiosa, e crítica a igreja.

É como se a ideia fosse de transitar entre referências e convenções do gênero a fim de provocar uma abordagem diferente ao tema. Porém, mesmo a atmosfera carregada em criar um clima de tensão para a protagonista, Imaculada arranha sempre na superfície de suas ideias e articulações. Ao tempo que Mohan quer trabalhar a iconografia católica – o que entra ótimas ideias visuais, em especial uma em paralelo ao título da produção –  o filme não abre espaço para que essa representação seja realmente explorada, enquanto que a preocupação maior fica em pintar o longa como sobrenatural mas sem nunca sustentar os elementos. A impressão não deixa de ser que a ideia é plantar uma subversão, até mesmo para o impacto de Rosemary’s Baby em falar do horror da gravidez. E são nesses momentos que Imaculada mais acerta por inserir uma perspectiva feminina a um tema constantemente usado no terror.

São nos questionamentos e desconforto da personagem de Sydney Sweeney que o filme lança a reflexão sobre autonomia do corpo feminino e olhar religioso sobre o propósito da mulher. A abordagem teria muito mais impacto se o filme se preocupasse menos em parecer sobrenatural e investisse no terror psicológico; mas desde o primeiro momento a direção oscila para qual categoria quer atrair a atenção do telespectador, tudo pela garantia do seu desfecho ousado e controverso. Nesse sentido, parece que a maior aposta do filme foi pelo final, ainda que significasse usar uma estrutura de filmes semelhantes e até referenciá-los, pegando então o tema do horror da gravidez e trazendo um prisma autêntico e chocante para chamar de seu. 

É inevitável chegar nos minutos finais e não lembrar de O Bebê de Rosemary, com o vislumbre de uma Sweeney consagrando uma performance cheia de furor para uma cena controversa em um filme que não acompanha um desfecho divisor. Mesmo a atriz dando seu nome para o primeiro papel no terror, não é o suficiente para quando Imaculada deixa de ser um exercício com apanhados genéricos do gênero para seguir por um caminho absurdo banhado a gore. Talvez, se o mesmo empenho para causar reações em seu final fosse o mesmo ao flertar com outros elementos, Immaculate não ficaria só na promessa como um ato disruptivo do seu tema.

Imaculada (Immaculate – EUA – Itália, 2024)
Direção: Michael Mohan
Roteiro: Andrew Lobel
Elenco: Sydney Sweeney, Álvaro Morte, Simona Tabasco, Benedetta Porcaroli, Dora Romano
Duração: 89 min.

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