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Crítica | Identidades em Jogo

Uma noite quase alucinante.

por Felipe Oliveira
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Fazendo sua estreia como do diretor e roteirista em um longa-metragem, Greg Jardin parte de uma premissa familiar do suspense e da ficção científica ao trazer a trama de um grupo de amigos que marcam uma noite de reencontro, mas são surpreendidos com um membro do passado ou um evento incomum. Na verdade, o cineasta está sempre remetendo a um elemento comum espalhados em títulos alheios, mas que aqui vai sendo atualizada através do formato dinâmico ao qual o filme é inserido. Longe de querer subverter a fórmula, Greg apela para a inspiração enquanto sugere caminhos opostos no seu longa. Ainda que seja fácil apontar Fale Comigo por ser um dos exemplos mais recentes do gênero por falar de jogos, a referência vem do velho tabuleiro ouija, que já passou por uma série de reformulações ao longo do tempo mas a principal segue com o “slasher sobrenatural” dos anos 2000 O Jogo dos Espíritos. Mas evitando o viés da sátira embalada em filmes do tipo, Identidades em Jogo preza o estilo pelo estilo à medida que navega por influências distintas.

Embora remeta a produções como Coherence e O Convite por contar com um núcleo de personagens adultos convidadas para uma residência, It’s What’s Inside termina esbarrando em resquícios de tramas adolescentes ao reunir pessoas com questões internas mal resolvidas e conflitos entre si, o que faz o desenvolvimento seguir por um lugar cômodo ao se apoiar no humor ácido — além de gags com jumpscares — e falas expositivas que são disfarçadas pelo estilo ambicioso com o qual o diretor movimenta a câmera. Um trecho que serve como ilustração é a cena em que os membros seletos da reunião começam chegar e um a um e se encontram no mesmo ponto, e a câmera faz o conhecido movimento de travelling ao redor de sua protagonista. Junto disso, a edição é interessante pelo uso de cortes rápidos, telas com quadros divididos e uma criativa narrativa com recursos de imagens, o que dá ao filme um tom estiloso e dinâmico — o que entra também a fotografia com cores vibrantes e neon.

Além da exploração de ângulos alternativos para contar essa história, a edição feita pelo próprio Jardin brinca com a ideia de um jogo em movimento, o qual as partidas trocam o que poderia ser mais um filme inspirado em Clue ou em games como Enemy on Board, Detetive e Amoung Us ao imaginar a clássica premissa de troca de corpos em uma dinâmica inesperada. Tudo isso faz de It’s What’s Inside divertido pela agilidade a qual envolve o público numa proposta diferente de game night. E assim como a troca de corpos, Jardin muda as inspirações do seu debute directorial, até chegar no momento whodunnit que termina sendo uma consequência sem impacto pela forma que o cineasta suaviza o potencial que esse jogo imprevisível poderia atingir.

Jardin é ágil ao compor uma trama envolvente que a todo tempo se certifica que está deixando o telespectador confuso, mas a produção nunca ganha traços além do tom expositivo já que os personagens aqui não são desenvolvidos, são apenas peças dessa versão pop que mistura Clue, qualquer filme de reunião entre amigos com um membro inconveniente e Scooby-Doo. Se por um lado há uma composição estilosa que torna o longa visualmente atraente, termina sendo o que disfarça em como tudo fica no meio termo aqui: o humor não é tão ácido, é pseudo a Agatha Christie e tenta fazer sátira social, uma vez que a ideia é ser despretensioso e rápido seguindo uma lógica própria. Melhor do que fazer jumpscare é rir do jumpscare, melhor do que ser tenso é provocar situações que quebram o ritmo, melhor do que manter o mistério é solucioná-lo com autoexplicações. Pior do que reunir adultos num encontro de pré-casamento, é no fim ainda parecer uma trama adolescente.

Nunca é tão insano quanto imagina e muito menos uma experiência alucinante como promete, mas, ainda assim, para sua estreia, Jardin atinge o objetivo de ter um filme estilístico e constantemente dinâmico, o que mantém o entretenimento sempre a vista. Não é um whodunnit como Entre Facas e Segredos e seu elenco recheado, mas é um Morte Morte Morte com mais luzes e um jogo divertido com personagens intencionalmente insuportáveis e egocêntricos descobrindo uma forma de compensar suas frustrações baseadas em status e segundas intenções.

Identidades em Jogo (It’s What’s Inside – EUA, 2024)
Direção: Greg Jardin
Roteiro: Greg Jardin
Elenco: Brittany O’Grady, James Morosini, Alycia Debnam-Carey, Gavin Leatherwood, Nina Bloomgarden, Reina Hardesty, Devon Terrell, David Thompson, Madison Davenport
Duração: 104 min.

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