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Crítica | Hypnotic – Ameaça Invisível

Ben Canastrão e a cura da insônia.

por Luiz Santiago
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Diz a lenda que Robert Rodriguez tinha o argumento de Hypnotic – Ameaça Invisível pronto desde o ano de 2002, mas que nunca tinha conseguido um estúdio interessado em produzir a obra, fato que, para a nossa tristeza e desespero da Sétima Arte, foi modificado quando alguns estúdios pequenos abraçaram o projeto e deram um orçamento de 65 milhões de dólares para viabilizar essa pataquada que copia (sim, copia, já que o diretor nem se dá o trabalho de fingir que homenageia), a essência de A Cura (1997), de Kiyoshi Kurosawa, e traz elementos bastantes óbvios, narrativos e estéticos de A Origem (2010), de Christopher Nolan. Um filme até caro para o padrão, confiado a um cineasta cult que já passou de sua Era Dourada e tem a exposição e a necessidade de criar “surpresas e revelações mirabolantes” a todo custo.

Assinando o roteiro ao lado de Max Borenstein, Rodriguez tenta manter o público preso à história que tem para contar, mas seja por pressão do estúdio para adequar o texto a um padrão palatável às massas, seja para aliá-lo ao baixíssimo nível dramatúrgico de Ben Affleck aqui, quase tudo em Hypnotic descamba para o risível, o exagerado ou o sem sentido algum, principalmente no final, com aquela tenebrosa cena pós-créditos. Affleck “interpreta” Danny Rourke, um detetive do Departamento de Polícia de Austin que segue sofrendo pelo sequestro de sua filha, há três anos, e que é arrastado para uma situação impossível, onde pessoas com imenso poder de influenciar o pensamento dos indivíduos através da hipnose, entram em sua vida.

Devo admitir que minha boa vontade para com a obra durou até demais, pelo que ela merecia. Por gostar muito de Cure, esperava que o filme fosse realmente assumir a homenagem e criar algo interessante em cima, especialmente na abordagem para a hipnose. Além disso, a personagem de Alice Braga (que está muito boa no papel, mas tem um parceiro de cena que é uma palmeira, então o desequilíbrio entre as atuações atrapalha) sugere que existe um contexto amplo e perigoso a ser considerado, levando a trama para uma seara de teoria da conspiração que aponta para um bom suspense. Mas vejam, tudo isso faz parte de um olhar simpático para a temática e, em nenhum momento, indica que o filme, em pelo menos uma de suas partes, consegue acertar em todas as escolhas.

O diretor perde a oportunidade de brincar com os perigos que a história sugere, utilizando a força de uma fotografia em espaços abertos e diferenças no mínimo curiosas, com a intenção de reforçar as mudanças de visão sob domínio da hipnose. Mas todas essas boas possibilidades são atacadas pelo próprio diretor, que parece sentir orgulho em dar muita atenção aos diálogos expositivos, às explicações constantes de coisas que não são mostradas (e em cinema, quando a imagem não prevalece e o roteiro toma as rédeas centrais do “fazer sentido para o que deveria estar na tela” temos um sério problema) e a blocos complexos de ação dos personagens que nunca se completam. O desfile de promessas aqui é imenso. As camadas que devem desaguar em revelações bombásticas são muitas, mas quando se completam, trazem apenas decepção. E mais uma vez: com Ben Affleck atuando como um paralelepípedo incorporando uma “voz de Batman“, tudo fica ainda mais descartável.

Com muito coração aberto, paciência e capacidade de aceitar desvios sérios de lógica, é possível pescar eventuais sequências divertidas, ao menos em certos aspectos técnicos. Destaco a bela cena noturna em que Danny encontra-se com Diana pela primeira vez, na loja de tarô (o uso da cor vermelha, nesta cena, é fantástico) e abertura do longa, no consultório da terapeuta de Danny. A saturação de cor ali, a escolha por começar o filme partindo do olho do paciente e a tensão criada nesse momento inicial são coisas tão bacanas, que enganam o público por uns cinco minutos, até que as bizarrices começam a acontecer.

Se em algum momento o enredo deste filme foi bom, isso foi antes de Robert Rodriguez começar a filmá-lo. Porque o que temos na tela, em Hypnotic, é um desastre de grandes proporções. Lamento por Alice Braga, que está levando o filme a sério. William Fichtner também está muito bom, mas o que fazem com o seu personagem do meio para o final da película estraga a experiência e torna o personagem pouco palatável. Rodriguez precisa voltar ao ambiente onde tinha liberdade para trabalhar sem amarras. Caindo na linguagem e nas exigências de um “cinema de massas”, seus trabalhos simplesmente se tornam ridículos. Não temos mais tempo para isso.

Hypnotic – Ameaça Invisível (Hypnotic) — EUA, Reino Unido, Canadá, 2023
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: Robert Rodriguez, Max Borenstein
Elenco: Ben Affleck, Alice Braga, JD Pardo, Dayo Okeniyi, Jeff Fahey, Jackie Earle Haley, William Fichtner, Zane Holtz, Ruben Javier Caballero, Kelly Frye, Sandy Avila, Ryan Ryusaki, Hala Finley, Ionie Olivia Nieves, Corina Calderon, Nikki Dixon, Bonnie Discepolo, Kelly Phelan, Evan Vines, Patrick A. Grover
Duração: 93 min.

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