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Crítica | Hulk (2003)

por Guilherme Coral
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estrelas 2,5

Antes dos direitos do personagem serem revertidos à Marvel , o Hulk ganhou sua primeira adaptação cinematográfica moderna pelas mãos de Ang Lee, mas antes do diretor abraçar o projeto, muitos outros passaram por ele. O filme começara a ser planejado no início dos anos 1990, passando por diversas mãos dentro da Universal Studios, mas o roteiro custou a agradar os executivos do estúdio. O que recebemos, portanto, é fruto de um longo projeto e, apesar de ter sua linguagem bem definida, o filme não nos deixa com boas memórias.

A trama nos traz a história de origem do Gigante Esmeralda na visão dos roteiristas John Turman, Michael France e James Schamus. Nela, Bruce Banner (Eric Bana) já nascera com um código genético alterado, fruto dos experimentos de seu pai (Nick Nolte) em si próprio. Ao ser exposto à radiação gama quando já adulto, Banner se transforma em uma espécie de médico e o monstro, passando pela metamorfose que o transforma no Hulk quando ele perde controle de sua raiva. Nesse cenário, o cientista é perseguido pelo general Ross (Sam Elliott), pai da velha paixão e companheira de laboratório de Bruce, Betty (Jennifer Connelly).

O texto do trio de roteiristas evidentemente demonstra uma grande preocupação com o lado dramático do personagem. Muito tempo da duração total da obra é gasto explorando os personagens à volta de Banner e, de fato, eles conseguem garantir a profundidade desses, especialmente de Betty, que não é simplesmente colocada como o interesse amoroso do protagonista e sim como alguém que genuinamente se importa com ele. O mesmo zelo se demonstra na forma como o pai de Bruce é construído, nos entregando um dos raros casos de filmes de quadrinhos com vilões bem construídos.

Esse foco, contudo, não dialoga bem com as sequências de ação, que são exageradamente longas e repetitivas. O espectador, com isso, acaba se cansando pela longa duração que o filme assume (138 minutos!) e, inúmeras vezes, sentimos como se estivéssemos vendo mais do mesmo. Os efeitos especiais datados também não ajudam, criando verdadeiras tragédias como a famosa cena de Hulk lutando contra os cachorros super-poderosos. Há um evidente exagero de Lee nessas sequências e ele não chega a nos oferecer nada de novo em qualquer uma delas. É apenas destruição descerebrada, com socos para cá e pulos para lá.

A edição também faz escolhas bastante dúbias ao tentar emular a linguagem dos quadrinhos. Em inúmeras ocasiões vemos a tela ser dividida em diferentes quadros, mas eles, na grande maioria das vezes, não nos trazem nada de novo – temos apenas a mesma cena sendo mostrada por ângulos ou aproximações diferentes, a informação passada é a mesma. Com isso a imersão dos espectador é consideravelmente prejudicada, visto que somos forçados a percorrer toda a tela constantemente a fim de entender o que acontece, apenas para perceber que poderíamos ter mantido nosso olhar fixo em um dos quadros específicos, já que os outros são completamente desnecessários.

O mesmo pode ser dito em relação à direção de Ang Lee, que opta por realizar mais movimentos de câmera e menos cortes, como se nossos olhos pulassem de painel em painel, página em página dos quadrinhos. Embora, na teoria, a ideia funcione, na prática ela cria um desconforto visual – é preciso entender que estamos falando de duas linguagens completamente distintas. Em alguns momentos sentimos como se estivéssemos diante de um dos quadros que se movem de Harry Potter, quebrando a fluidez narrativa através desse recurso visual que salta aos olhos.

No fim conseguimos enxergar o que o diretor pretendia fazer com o Gigante Esmeralda, mas suas escolhas ousadas acabam prejudicando o filme. Com um roteiro que sabe explorar seus personagens e todo o drama envolvendo Bruce Banner, Hulk acaba se destacando pelo cansaço que sua edição e sequências de ação trazem ao espectador. Temos aqui um filme que justifica o retorno dos direitos do personagem à Marvel, o que, felizmente, nos proporcionou ótimas leituras do Verdão através das interpretações de Edward NortonMark Ruffalo.

Hulk — EUA, 2003
Direção:
Ang Lee
Roteiro: John Turman, Michael France, James Schamus
Elenco: Eric Bana, Jennifer Connelly, Sam Elliott, Josh Lucas, Nick Nolte, Cara Buono
Duração: 138 min.

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