Com altos e baixos na dinâmica da produção cinematográfica global, os filmes de tubarões constantemente retornam para as salas de cinema, com resultados medianos, em sua maioria, ou muito abaixo do esperado para o mínimo de qualidade. Depois de Águas Rasas, bom momento para o horror ecológico com estas feras marinhas, nós tivemos o ótimo Medo Profundo e o insosso Megatubarão, num painel de outras narrativas demasiadamente desprezíveis. Em 2023, os misteriosos animais selvagens em questão estiveram em Demônio dos Mares e retornam, mais pretensiosos ainda, para a óbvia continuação do tubarão pré-histórico com Jason Statham. Retomados a todo tempo, tais criaturas ainda devem garantir momentos de entretenimento rotineiros nos próximos anos, comprovando o que venho delineando em críticas sobre o legado e o impacto cultural de Tubarão, tradução para o cinema do romance de Peter Benchley, nos anos 1970, o pontapé para um tipo de narrativa que ganhou o público e ainda gera muito interesse.
Em 2021 foi Huge Shark, sob a direção de Zaosheng Huang, um filme que tive acesso aos pedaços apenas pelo trailer que demonstrou, apenas em alguns segundos, uma similaridade absurda com o já mencionado Águas Rasas. Inspiração? Não apenas. Menções? Também. Aqui, estamos falando de uma cópia exata de determinados trechos, passando pela captação de imagens da direção de fotografia ao trabalho exercido na edição. Se fosse uma retomada do filme estadunidense com a mesma qualidade nos efeitos visuais e no direcionamento da tensão, tudo bem, mas o que esta trama faz ao longo de seus 78 minutos é entediar o espectador. É extremamente irritante a falta de coragem de ir além e entregar um material mais envolvente.
Nem tudo em Huge Shark, também conhecido por aqui como Red Water, é abominável. A protagonista faz o maior esforço para conduzir a narrativa, mesmo que a sua boa vontade, sozinha, não dê conta da falta de qualidade em outros setores. E, não adianta jogar a culpa no orçamento, pois com criatividade e firmeza, a trama poderia funcionar melhor, sem depender exclusivamente de efeitos visuais de um tubarão criado como recurso de Power Point. Sim, caro leitor, esta crítica se fragmentou por minha indignação, mas sigamos com a análise do conteúdo. Basicamente, o que temos é a trajetória de uma médica que surfa nas horas de lazer, mas acaba passando por alguns percalços após ela, sua irmã e outros personagens rasos, serem atacados por um tubarão que ronda aquele pedaço do oceano onde os incautos estão.
Depois de destroçar todos os demais, como numa estrutura narrativa slasher, o filme foca na batalha entre ser humano e natureza, com a personagem de Chloe Zhao lutado bravamente para salvar a sua vida e aniquilar a fera assassina que pretende transforma-la em alimento, sempre patrulhando a jovem, do bote salva-vidas ao pequeno recife de corais onde a moça se aloja para tentar organizar a sua salvação. Pronto. Em linhas gerais, esse é o mote de Huge Shark, sem reviravoltas, tensão sempre no mesmo nível morno, sem a intensidade esperada para um filme de tubarão, numa demonstração de falta de engajamento dos realizadores em fazer algo de qualquer jeito, aparentemente para confirmar a possibilidade do cinema chinês em conduzir um subgênero mais associado aos estadunidenses. O encontro do tédio com efeitos visuais constrangedores embalam esta narrativa que não engana ninguém em relação a sua qualidade desde o trailer, portanto, foi conferida por um cinéfilo e crítico curioso e interessado no tema, ciente das grandes chances de decepção, confirmadas ao passo que os créditos sobem após a última cena.
Huge Shark/Red Water (China, 2022)
Direção: Zaosheng Huang
Roteiro: Zaosheng Huang
Elenco: Chloe Zhao, Zhao Yihuan, Hong Shuang, Xie Yiqing, Zhang Lei, Luan Tian, Katarina Mahan, Tao Huang
Duração: 78 min
