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Crítica | House of Hammer: Segredos de Família

A pauta pelo fenômeno.

por Felipe Oliveira
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Se pudermos bem lembrar, depois das denúncias contra Armie Hammer por estupro, abuso emocional e canibalismo em janeiro de 2021, a repercussão em torno da chocante exposição se resumiu apenas a terceira prática, sendo o foco das discussões em como um homem tão bonito e em crescente carreira seria canibal. Precisou a agência a qual assinava, WME, dispensá-lo, desistências de papéis e demissões ao longo dos meses para a ficha cair e entendermos que o cara de olhos azuis penetrantes, branco, loiro e beleza incontestável não poderia ser perfeito; algo obscuro sobre Armie Hammer veio à tona e a internet parecia resistir.

Pouco mais de um ano depois, o Discovery+ anunciou a produção de uma série documental que não iria só abordar as denúncias, e sim, explorar uma narrativa sobre o astro e sua família, na intitulada House of Hammer: Segredos de Família. Temos, então, um material de três episódios que somam quase três horas de duração sobre um caso em que Hammer sequer ainda foi acusado, porém, reúne o relato de quatro vítimas e como a internet foi fundamental para repercutir as conversas do ator nas redes sociais, algo que começou pelo perfil do Twitter “House of Effie“,  gerenciado pela sua primeira vítima.

Um comentário curioso de Candice Cronkhite, uma usuária da web que adora acompanhar a cultura pop, é de que, quanto mais lia os trechos das mensagens que Hammer trocava com mulheres, onde o conteúdo descrevia práticas BDSM, era que aquilo ia muito além de Cinquenta Tons de Cinza. Cronkhite desempenhou um papel essencial ao se incomodar que muitos faziam piadas sobre Hammer ser canibal enquanto outros não queriam acreditar nas acusações, mas ninguém falava das vítimas, o que fez ir mais a fundo, investigar o que o astro teria deixado escapar em suas publicações, no entanto, essa colocação comparando o BDSM que Hammer era tão fascinado, se torna uma questão aqui.

O efeito de Cinquenta Tons de Cinza na cultura pop reflete uma influência oriunda no mundo fanficário onde a autora E.L. James criou sua versão erótica sobre Edward Cullen e Bella Swan. Observemos que foi questão de tempo para histórias semelhantes ganharem adaptações, a exemplo das franquias After: Depois da Verdade, 365 Dias e Através da Minha Janela se caracterizarem por um padrão controverso de histórias amorosas e eróticas: o perfil do homem recluso, enquanto Fifty Shades of Grey recebia atenção pelo sexo sadomasoquista. Assim, o gênero erótico, visto em alguns suspenses como De Olhos Bem Fechados e Instinto Selvagem, agora parece comum pela ótica da narrativa abusiva de um relacionamento.  O ponto é que a breve comparação de Cronkhite ressoa o que impede House of Hammer de atingir o que a produção prometia: é um material resumindo o que dá pra ler na internet; o comentário veio deste lugar de consumo. Aliás, a docu-series aponta como duas mulheres, Cronkhite e Lauren Skae, foram capazes de promover ao compartilharem o que pesquisaram além dos prints publicados por Effie (que não teve o nome real revelado).

Não é como se Elli Hakami e Julian P. Hobbs, os idealizadores da série, fizessem um bom trabalho ao condensar o que há na web com trechos exclusivos do que dá pra ler na Wikipédia   a polêmica explodiu, até porque, isso Cronkhite fez muito bem no seu Instagram assim como Skae no TikTok, o que vale notar aqui que a dupla nem saberia do livro Surviving My Birthright, escrito por Casey Hammer, tia do ator, que revela os podres e sua experiência com a família para usar como uma chamariz bombástico não sendo pouco o ex-astro ser um canibal e abusador se não fosse por Skae. Eis que quase um ano depois o Discovery+ lança um documentário para informar a quem não leu nos sites sobre Hammer, com um adendo que indica falar do histórico corrosivo da família e como isso respinga nas práticas do ator.

A intenção foi reverberar sobre um caráter de abuso e poder dos membros masculinos da família, mas que termina soando sensacionalista ao não conseguir equilibrar o foco da discussão que deveria ser sobre as vítimas de Hammer e o que a casca da beleza americana escondia por trás do estrelato ao se aproveitar de mulheres. Ao menos, o primeiro episódio teve êxito ao trazer o relato de Courtney Vucekovich, ex-namorado de Hammer com um testemunho sensível em que a empreendedora revela a conturbada relação tóxica que viveu, experimentando episódios de abuso, gaslighting e controle, acreditando estar num compromisso saudável com alguém que a estimava e dissuadia;  Também, entra o relato de Julian Morrison que conseguiu escapar dos papos do ex-ator, além de outra namorada, Paige Lorenze, que sofreu das mesmas coisas que Vucekovich, e as relações iniciaram de maneira semelhantes. E principalmente, Effie, vítima de estupro e que participou da série por meio de vídeos retirado da sua primeira denúncia em que alegava que Hammie a violentou por quatro horas em 2017. Ao Los Angeles Times, Effie contou que não quis se envolver com o documentário visto que há uma investigação em andamento pela polícia de Los Angeles, mas também afirma que mesmo rejeitando o convite, teve sua imagem usada.

Em três episódios, House of Hammer resume a sua rasa pesquisa para conseguir reunir e debater devidamente um caso ainda em andamento, visto que, além das vítimas com exceção da participação inapropriada de Effie e a contribuição de Skae e Cronkhite, há o obstáculo o sensacionalista que insiste em unificar duas questões diferentes (Hammer e sua família) para polemizar ainda mais uma polêmica.

House of Hammer: Segredos de Família (House of Hammer – EUA, 2022)
Criação: Elli Hakami, Julian P. Hobbs
Direção: Elli Hakami, Julian P. Hobbs
Roteiro: Elli Hakami, Julian P. Hobbs
Elenco: Courtney Vucekovich, Julian Morrison, Effie, Candice Cronkhite, Lauren Skae, Casey Hammer, Ryan Bailey, Seth Abramovitch, Francesca Bacardi
Duração: 59 a 52 min (3 episódios, cada)

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