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Crítica | Horácio – Mãe

por Luiz Santiago
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Enfim, o Horácio! É muito conhecida a extrema proteção de Mauricio de Sousa tem em relação ao Horácio, o T-Rex vegetariano criado em 1961, estreando no Diário de Bauru. O fato de o personagem ser um filhote sozinho no mundo trouxe para o seu criador um senso de responsabilidade e cuidado que, ao longo do tempo, se fez ver claramente nas falas do pequeno, com um forte teor reflexivo, emotivo e filosófico. Após sua primeira aparição colorida e falante na Folhinha de S. Paulo, em 8 de setembro de 1963, Horácio seria constantemente visitado por Mauricio de Sousa, passando de um simples mascote da aldeia de Lem, nas tiras do Piteco, para um querido questionador com sua própria história.

Em 1964 o comedor de alface ganhou alguns companheiros de jornada: os Napões, a bela dino rosa chamada Lucinda e o simpático Tecodonte. Nesta releitura do personagem feita por Fabio Coala (roteiro e arte), na décima nona edição da Graphic MSP, temos um dilema conhecido trabalhado com um forte apelo emotivo e de modo bastante inteligente pelo autor, dividindo a narrativa em três tempos distintos, cada um com seus personagens centrais, emoções e coloração específicas.

No tempo presente, marcado pelo uso de tons térreos, temos uma arqueóloga que encontra um garoto observando a escavação. A conversa entre a profissional e o menino é terna e traz à tona uma paixão que muitas crianças e adolescentes compartilham: o amor pelos dinossauros. Sobre este tema eu os convido a ler a minha descrição para Jurassic Park: Parque dos Dinossauros na nossa lista Top 5 – Os Filmes Que Mais Vezes Assistimos e devo estabelecer que parte desse amor em mim perdura até hoje. Logo, a forma como o menininho é retratado por Fabio Coala foi muito “perto de casa“, assim como algumas questões que envolvem a vida do garoto. No segundo plano, com cores mais fortes (e grande uso de verde) temos um flashback que costura a trama de modo tocante, sem precisar de uma única palavra. Já no corpo central do enredo temos o tempo de Horário, marcado por um amplo uso de cores e a eterna busca do pequeno T-Rex por sua mãe, como o título da graphic novel deixa claro.

plano critico tecodonte lucinda horácio

Horário, Napinho, Tecodonte e Lucinda.

O que torna esse trajeto diferente é que Fabio Coala expõe as reflexões do protagonista de forma que elas sejam realmente Universais e que a sensação de ser sozinho, deslocado, diferente, rejeitado ou “como se não se encaixasse no mundo” pudessem ser lidas como sensações ligadas a muitos outros temas da vida de uma pessoa. O incômodo de Horácio, sua busca pela mãe e o que ele encontra no meio do caminho (as experiências e as amizades) são vivências com as quais nos relacionamos facilmente, o que torna uma história como Mãe algo extremante íntimo, fator reafirmado pelo autor no desfecho do livro.

Os perigos da vida, as reflexões de alguém que está aprendendo a enxergar o mundo e um humor gostoso de se acompanhar são marcas centrais dessa história, que assim como Jeremias – Pele, nos faz perceber o novo momento que marca a editoria das Graphic MSP, com uma roupagem claramente mais madura, porém, sem perder a ternura e leveza que esses personagens possuem originalmente. Da trama, eu tive apenas alguns problemas com a sequência no “Buraco Tenebroso da Morte Agonizante”, especialmente no final dela, mas nada que suplantasse a lição de coragem, superação, importância da amizade, aceitação de si mesmo e de seu lugar no mundo que esta aventura no traz. E sim, eu chorei no final.

Horácio – Mãe (Brasil, julho de 2018)
Graphic MSP #19
Roteiro: Fabio Coala
Arte: Fabio Coala
Cores: Fabio Coala
Editora: Panini Comics, Graphic MSP, Mauricio de Sousa Editora
Páginas: 98

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