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Crítica | Homem x Abelha: A Batalha

Uma deliciosa e hilária bobagem.

por Ritter Fan
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Rowan Atkinson chega ao streaming com um novo personagem, Trevor Bingley, um homem atrapalhado, como não poderia deixar de ser, mas também e talvez principalmente com problemas de controle de temperamento que, depois de divorciado e um tempo desempregado, começa a trabalhar como cuidador de casas em uma moderna mansão “estilo Minecraft” repleta de caríssimos objetos de arte e automóveis de colecionador, além de uma cadela com alergia à noz, enquanto seus donos estão viajando. Se tudo isso já não fosse o suficiente para preparar o espectador para o tipo de comédia pastelão que Atkinson sempre soube muito bem fazer, eis que uma teimosa e “imortal” abelha entra na equação para enervar Bingley até muito além de seu ponto de ebulição.

Essa é, portanto, a prosaica premissa de Homem x Abelha: A Batalha, com seu título explicando tudo o que precisamos saber e com Atkinson pegando emprestado – ainda que de longe – a base narrativa de Meu Tio, o clássico de Jacques Tati e seu Monsieur Hulot, por sua vez a maior inspiração para o Mr. Bean, talvez sua mais famosa criação. A casa exageradamente moderna é onipresente como no filme de 1958, mas sua função, aqui, é bem mais simples, sem pretensões satíricas sobre a modernidade em si e sobre a mecanização da sociedade francesa, com a mansão sendo usada, unicamente, como a arena ideal para Bingley soltar toda sua fúria destrutiva contra a solitária abelha de computação gráfica (muito eficiente, aliás) que não desiste de importuná-lo desde o primeiro segundo em que o personagem aparece em tela, com direito até mesmo a algumas cenas que enxergarmos sob seu ponto de vista.

A talvez inesperada estrutura de série com curtíssimos episódios, o que resulta basicamente em um longa-metragem de 108 minutos, é bem-vinda, pois compartimentaliza os esquetes, minimizando a impressão de repetição, mesmo que o espectador decida assistir tudo de uma só vez, o que provavelmente acontecerá quase sempre. O ponto é que a cadência de “começo, meio e fim” de cada capítulo ou esquete cria aquela gostosa sensação de saciamento todas as nove vezes, estabelecendo um bom ritmo narrativo que atrasa o desgaste da fórmula, segurando a série até seu bem redondo – mas talvez positivo demais para o meu gosto – final. Aliás, falando em final, outro artifício narrativo bem usado é o de enquadramento, com todos os episódios passando-se como se fossem flashbacks a partir da cena inicial em que vemos Trevor Bingley ser condenado por variados crimes de destruição de propriedade que chegam até a ser vistos em breves flashes enquanto a juíza os lista e com o último episódio retornando a esse início para, então, encerrar a história.

Com isso, Homem x Abelha: A Batalha é construído em cima de algo que muita gente reclama em filmes e séries, mas que eu considero como positivo, se bem feito, claro: a previsibilidade. Já de início, o espectador sabe o que acontecerá com a casa e os objetos de valor lá contidos. Além disso, cada momento de humor é telegrafado em detalhes, como por exemplo quando o dono da casa diz que os códigos para ativar e desativar o sistema de alarme são os anos de batalhas famosas que só ele conhece ou quando a dona deixa bem claro que Cupcake, a cadela, tem a tal alergia e que só pode comer a comida especial dela. Tudo é entregue de bandeja e de antemão e, mesmo assim, tudo o que acontece continua sendo muito engraçado graças ao timing cômico de Atkinson e à cuidadosa construção de cada cena que começa a criar aquela aflição no espectador, levando-o a visualizar tudo de antemão e a rir antes mesmo do momento destrutivo ou doloroso acontecer.

A série é completa e inafastavelmente no estilo velha guarda e cheia de conveniências narrativas como, por exemplo, com toda a modernidade da casa, ela não ter câmeras que permitem seus donos acompanharem tudo remotamente (há uma forma de racionalizar isso até, mas não mencionarei para evitar spoilers), mas os roteiros são enxutos, com pouquíssimos momentos que criam aquela quase que esperada barriga narrativa, e Atkinson está em ótima forma como aquele personagem ao mesmo tempo adorável e insuportável, terno e descontrolado e sempre, sempre pateta daquele jeito gostoso de ver. Os grandes espaços abertos da mansão e de seu jardim, onde quase toda a ação acontece, permite alguns excelentes truques de câmera, como a citada alteração de ponto de vista de Bingley para a abelha (que enxerga tudo em “favos”), ou a inspirada corrida em câmera lenta entre os dois, com direito até mesmo a uma tomada externa a esses ambientes com o inestimável automóvel Jaguar E-Type vintage, cujo destino o espectador já sabe qual será assim que o vê e é informado do quanto ele vale, sendo esmerilhado pelo protagonista.

Homem x Abelha: A Batalha é humor pastelão velha guarda da melhor qualidade que deixa evidente que, mesmo aproximando-se de seus 70 anos, Rowan Atkinson ainda consegue arrancar risos e gargalhadas sugando inspiração dos grandes mestres do passado e construindo personagens hilários em situações simples e improváveis. Não sei se haverá uma segunda temporada dessa grande batalha do homem contra a natureza, mas, se houver, eu certamente estarei lá para assistir mais destruição e ataques incontidos de raiva de Trevor Bingley!

Homem x Abelha: A Batalha (Man vs. Bee – Reino Unido, 24 de junho de 2022)
Criação: Rowan Atkinson, William Davies
Direção: David Kerr
Roteiro: William Davies
Elenco: Rowan Atkinson, Jing Lusi, Julian Rhind-Tutt, Greg McHugh, India Fowler, Claudie Blakley, Tom Basden, Gediminas Adomaitis, Christian Alifoe, Daniel Fearn, Chizzy Akudolu, Aysha Kala
Duração: 108 min. (nove episódios)

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