Por via de regra, sempre antes dos lançamentos de um novo filme pertencente ao Universo Cinematográfico Marvel, a Casa das Idéias lança uma ou duas edições de quadrinhos que atuam como prelúdios do lançamento, preparando o espectador para essas novas aventuras. Em geral, tratava-se de histórias as quais ofereciam um breve olhar sobre determinados personagens ou situações. Isso, contudo, mudou no prelúdio de Guardiões da Galáxia Vol. 2, que não passava de uma adaptação de baixa qualidade do primeiro filme, dirigido por James Gunn. O que já não era muito bom, portanto, foi substituído por algo pior ainda e, infelizmente, a revista correspondente a Homem-Aranha: De Volta ao Lar segue pelo mesmo caminho.
O roteiro de Will Corona Pilgrim até chega a nos dar alguma esperança de que veremos algo de diferente em sua primeira página. O Aracnídeo, ainda em suas vestimentas low-tech, aparece impedindo a colisão de um carro em Nova York, isso funciona, contudo, apenas como breve introdução, já que Peter logo se pergunta o que estariam fazendo os Vingadores agora. Pulamos, então, para os eventos de Capitão América: Guerra Civil, com Steve Rogers lutando contra o Ossos Cruzados, bem no início do longa-metragem. A partir daí acompanhamos um “resumão” da história do filme, nos sendo mostrados os eventos chave, como em um “anteriormente” de séries televisivas.
O grande problema dos quadrinhos, vendidos como Prelúdio do Filme, é que seu verdadeiro propósito pode enganar o leitor. Claro que a sinopse indica que se trata de uma adaptação de Guerra Civil, mas o incauto pode ser pego de surpresa, não muito diferente das centenas de clickbaits que vemos pela internet nos dias atuais. Essa sórdida estratégia de capitalizar ainda mais em cima do filme, ironicamente, não chega a funcionar nem para quem compra a ideia como prelúdio ou adaptação do longa anterior, já que aquele que não assistiu o terceiro Capitão América ficará sem entender praticamente nada, em razão das elipses constantes, que não servem para destrinchar a trama inteira da obra.
Fico me perguntando qual a dificuldade da Marvel Comics em nos mostrar o que o Aranha fazia antes de o conhecermos em Guerra Civil. E Corona Pilgrim até tenta nos mostrar isso com breves inserts aqui e lá do personagem chegando em casa se deparando com as notícias ao lado de sua tia May, mas esses momentos são tão curtos e dispensáveis à trama, que não chegam a sequer dar aquele gosto de querer conhecer mais da história pregressa do personagem (por mais que todos saibamos que ele fora mordido por uma aranha radioativa e que seu tio Ben morreu).
Para piorar, a arte de Todd Nauck é uma tragédia à parte, fazendo todo e qualquer personagem parecer o integrante de uma boyband, a tal ponto que seus olhos parecem brilhar e até mesmo Robert Downey Jr., nessa representação, fica com a cara de um jovem de vinte e poucos anos. Ironicamente, o Aracnídeo, enquanto veste o uniforme, é retratado como um adulto, demonstrando claramente a falta de proporção existente na obra, que não sabe retratar um menino adolescente vestindo seu traje mascarado. Nem mesmo nos trechos de ação Nauck parece acertar, distorcendo seus personagens excessivamente, além de não atentar minimamente aos detalhes, dispensando os rostos à distância, sejam eles de indivíduos de destaque ou não.
Dito isso, o prelúdio em quadrinhos de Homem-Aranha: De Volta ao Lar não passa de uma tentativa de ganhar ainda mais dinheiro em cima do filme, nos oferecendo uma obra que não acrescenta em absolutamente nada e que sequer consegue cumprir sua proposta de nos contar, da maneira devida, a história de Capitão América: Guerra Civil. Temos aqui o equivalente a um clickbait, algo que puramente engana seu leitor através de uma proposta atraente.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar – Prelúdio do Filme — EUA, 2017
Roteiro: Will Corona Pilgrim
Arte: Todd Nauck
Arte-final: Todd Nauck
Cores: Veronica Gandini
Letras: Travis Lanham
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: maio a junho de 2017
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de publicação no Brasil: não publicado no Brasil até a data de publicação da crítica
Páginas: 122