A primeira coisa que eu pensei quando terminei este pequeno arco chamado Wild Type — oficialmente abarcando as edições #81 a 83 da revista Animal Man, mas tendo como edição de apresentação a revista #80, De Volta ao Lar — foi o seguinte: “um leitor um pouquinho mais preguiçoso largaria isso aqui nas primeiras dez páginas“. E é verdade. Este início de Era de Jerry Prosser à frente do Homem Animal é carimbado por uma sequência verborrágica de quatro edições que essencialmente dão conta de duas coisas: a nova volta de Buddy à vida e o primeiro “acontecimento estranho” que agitará as coisas nesse início de fase com um novo escritor no título.
Aqui estamos em uma faxina geral, ou algo perto disso, após a partida de Buddy para o Vermelho, em uma orgia mística e vital no meio da Terra Prometida, num evento da Igreja Maxine do Poder da Vida. Como disse no primeiro parágrafo, a edição #80 trata unicamente dessa nova viagem, tomando uma perspectiva bastante diferente e não mostrada antes por nenhum dos roteiristas que escreveram para a publicação até aqui. E com isso não quero elevar a qualidade das ideias de Jerry Prosser a um patamar além do que ele merece — embora eu tenha certeza que vocês já perceberam isso pela nota atribuída ao arco, que não é nada demais… O fato é que o autor se esforça e realmente termina fazendo uma passagem muito interessante do Sr. Baker pela Teia da Vida, aqui e ali colocando referências principalmente à origem secreta intitulada O Mito da Criação e ao arco Carne e Sangue. Alguns motivos visuais e noções de “concepção e nascimento” aqui apresentadas voltariam a aparecer no encerramento do título.
Nessa viagem, temos os melhores momentos da arte de Fred Harper (com finalização de Jason Temujin Minor), lançando mão de ideias de fecundação, de desmembramento de memórias, de gestação de um feto e integração de vidas já vividas para gerar um novo corpo. O conceito é conhecido nosso, mas os caminhos tomados pelo roteiro assumem uma característica bem diferente. Há uma separação pragmática entre o IDEAL da formação de um corpo e os MEIOS PELOS QUAIS a natureza “se vira” para conseguir acoplar os dois. E isso é muito interessante. O problema é que ao executar essa boa ideia, Prosser se esquece de que tudo já está muito complicado e que o leitor precisa mesmo é de menos mistérios ou bizarrices e de mais simplicidade. Rapidamente o texto parece se agarrar a coisas (até então) aleatórias e não entendemos muito do se passa entre a fase final da viagem vermelha e a chegada de Buddy à Terra Prometida. Este é o primeiro momento que pensamos “começou bem e terminou de maneira estranha”, uma ideia que seria a toada de toda esta fase do autor.
O principal “cipó aleatório” a que o roteiro se agarra na edição #81, O Retorno do Xamã, é a ligação de Buddy com um grupo de babuínos, o primeiro sinal efetivo de que ele estava novamente se ligando ao “mundo dos homens”. Nesta edição, assim como nas próximas, Prosser não tem medo de ser feliz e escreve uma quantidade enorme de palavras, fazendo balões gigantescos, atrapalhando em parte o trabalho artístico de Harper e também a fluidez geral da história, uma vez que estamos falando de uma mídia que funciona em dois níveis: texto e imagem. E vejam, eu não sou, sob nenhum aspecto, um leitor preguiçoso. Mas uma coisa é uma quantidade grande de texto que tragam coisas instigantes e essenciais para a história e não definições pseudo-científicas ou trechos inteiro de um processo, como na edição mais chata do arco, Julgamento de Macaco (#83).
A principal função de Tipo Selvagem foi trazer Buddy Baker de volta e isso o volume faz de maneira até que satisfatória. Ficam como insatisfações o escanteamento de alguns personagens e a bomba-relógio herdada de Jamie Delano, a Igreja do Poder da Vida, com sua luta contra a mídia e contra um grupo de fanáticos religiosos que não perdem a oportunidade de gritarem palavras de condenação ao inferno na entrada do acampamento.
Mesmo sendo uma história levemente acima da média, Tipo Selvagem nos deixa com uma sensação bastante estranha de buracos para coisas que, justamente nesse recomeço e na apresentação de novos ingredientes para a fase, precisavam ganhar peso ou resolução parcial (falo dos dramas herdados da jornada anterior), a fim de que o drama todo pudesse avançar. Esses pontos, porém, mas não recebem do autor a atenção que deviam. Para um arco com tanto texto, era o mínimo que o autor deveria nos entregar.
Animal Man: Wild Type (EUA, fevereiro a maio de 1995)
Homem Animal Vol.1 #80 a 83
Roteiro: Jerry Prosser
Arte: Fred Harper
Arte-final: Jason Temujin Minor
Cores: Tatjana Wood
Letras: Comicraft, Richard Starkings
Editoria: Lou Stathis, Axel Alonso
Capas: Rick Berry
96 páginas