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Crítica | Homeland – 8X10: Designated Driver

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas das demais temporadas.

Depois de ser traída por Yevgeny ao final de In Full Flight para a surpresa de absolutamente ninguém, Carrie corre de volta para Cabul para corroborar o que ouviu na caixa-preta do helicóptero do presidente falecido e o que já havia ficado muito claro é realmente ratificado pelo mecânico-chefe Worley: foi mesmo um acidente. O que mais a ex-agente da CIA pode fazer nesse cenário?

Designated Driver, então, fornece a última peça nesse quebra-cabeças, finalmente revelando a razão do jogo duplo de Yevgeny. Ele quer descobrir a identidade de um agente duplo que, trabalhando para Saul Berenson, estaria infiltrado no alto escalão do Kremlin, no que parece ser o elemento que faltava para um plano de longo prazo que envolvia manter Carrie presa por meses, sendo manipulada psicologicamente de forma a criar uma conexão entre ela e o russo.

Confesso que minha primeira reação ao final do episódio foi de desgostar profundamente dessa história de agente duplo no Kremlin. Afinal, trata-se de uma novidade nunca antes nem de longe discutida ou levantada mesmo que indiretamente e que é largada como uma bomba aqui, no colo de Carrie, que também fica surpresa com a informação. Além disso, mesmo que fosse natural que Carrie aceitasse a “missão” de Yevgeny, tenho sérias dúvidas se o melhor caminho não seria abordar Saul diretamente, em uma conversa séria que fugisse do jogo de se entregar, depois pedir advogado para que, então, o FBI fosse obrigado a levá-la de volta aos EUA. Pode até ser que o plano seja confrontar Saul pessoalmente, ainda que eu ache isso pouco provável, já que ela disse que ele jamais entregaria um agente.

Mas será que não entregaria mesmo? Estamos falando de ameaça de guerra nuclear, afinal de contas, guerra essa que tem potencial de não ficar localizada apenas no Oriente Médio se outros países com bombas atômicas – mesmo que de relativamente baixa potência – envolverem-se no conflito. Seja como for, quer parecer que Carrie voltará para os EUA, onde tudo começou lá atrás, em 2011, para encerrar a série com uma temporada que, mesmo com todas as dúvidas que apontei acima, ainda tem o potencial de ser do mais alto nível, especialmente se considerarmos a circularidade da narrativa que, no fechamento, voltou à temática original que coloca em dúvida a idoneidade de um americano patriota.

Designated Driver tem a função específica de, mesmo mantendo o panorama geopolítico ainda em evidência, como não poderia deixar de ser – e o atentado a bomba ao final é a prova disso – voltar à essência da série. E essa essência, claro, é Carrie. Ela é quem sempre carregou a narrativa nas costas e é ela que deve cruzar a linha de chegada carregando a tocha, mesmo que ela não chegue viva ao final. E o episódio cumpre muito bem sua função, sem perder tempo algum com detalhes e já começando com uma elipse que não só mostra Carrie acordada depois da injeção de Yevgeny, como também já pronta para viajar no caminhão de seu fiel motorista da região até a base aérea americana em Cabul.

O que vem em seguida daí é a continuidade lógica de sua caçada enlouquecida, que inclui o encontro revelador com Yevgeny. Essa história “externa” de agente duplo no Kremlin, porém, precisa de mais reflexão. Apesar de minha reação inicial ter sido negativa, estamos falando do mundo da espionagem e agentes infiltrados são da natureza desse ambiente. Portanto, a grande verdade é que o que parece ser um artifício narrativo que cai de paraquedas na série não é absolutamente nada disso. Ao contrário, a existência (ou não) de um agente duplo infiltrado na Rússia não só faz todo sentido como há diversas bases históricas para isso e, como a questão da temporada não lidava com a ex-União Soviética, não havia razão para que esse elemento fosse introduzido antes. Seria estranho e anticlimático, potencialmente até perdendo-se completamente.

Dentro de uma história de espiões, a existência de espiões pode e deve ser mantida em segredo e é essa compartimentalização que vemos aqui. Sem algo muito valioso para chantagear Carrie, ela jamais concordaria em trair Saul. E Saul não necessariamente contaria algo dessa magnitude para ela e, diga-se de passagem, vice-versa. Além disso, temos que considerar que pode ser que, no final do dia, Saul realmente não tenha ninguém infiltrado no Kremlin, afinal de contas, como Carrie inclusive dá a entender em sua primeira reação ao que Yevgeny diz. Esse tal espião pode nem mesmo existir, mas, se ele existir, será que ele não pode ter sido plantado por outras fontes, talvez até mesmo pelo misterioso John Zabel?

São muitas perguntas para potencialmente pouco tempo para que elas seja respondidas a contento, mas temos que lembrar que Howard Gordon e Alex Gansa, no comando da série, até já erraram, mas erraram pouco. E o trabalho deles nessa temporada, mesmo com o pequeno soluço que foi o episódio anterior, tem sido exemplar. Não há razão alguma, portanto, para duvidar de que essa reta final será afiadíssima com Carrie de volta ao lar para encerrar com chave de ouro sua trajetória.

Homeland – 8X10: Designated Driver (EUA, 12 de abril de 2020)
Showrunner:
 Howard Gordon, Alex Gansa (baseada em série criada por Gideon Raff)
Direção: Michael Offer
Roteiro: Patrick Harbinson, Chip Johannessen
Elenco: Claire Danes, Mandy Patinkin, Maury Sterling, Linus Roache, Costa Ronin, Numan Acar, Nimrat Kaur, Sam Trammell, Hugh Dancy, Mohammad Bakri, David Hunt, Cliff Chamberlain, Andrea Deck, Sitara Attaie, Elham Ehsas, Hugh Dancy
Duração: 57 min.

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