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Crítica | Home Economics – 1ª Temporada

Quando ideias econômicas são muito boas, a execução delas ainda pode demorar a render.

por Davi Lima
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Problemas econômicos criam boas histórias, bons conflitos e boas soluções. O conceito de apresentação de Home Economics se baseia em três irmãos de classes econômicas bem distintas e categorizadas pelas características dos personagens: a irmã do meio pobre, lésbica e ativista; o irmão mais novo super rico, ‘heterotop’  e empresário; o irmão mais velho classe média, nerd e escritor. Então, com uma dose de realidade da vida familiar do criador Michael Colton e com a ajuda do companheiro recorrente na TV, John Aboud, os dois criadores investem no básico estereótipo como base para o humor, quebrando a expectativa envolta em um  drama familiar que une os irmãos tão diferentes. 

A motivação principal da narrativa é o irmão mais velho Tom (Topher Grace) escrever um livro sobre sua família após perder dinheiro com seu último lançamento literário. Essa ideia foi apresentada aos executivos do canal ABC, nos EUA, em 2020, em meio à pandemia e à instabilidade do broadcast americano e não passou de uma suportável comédia em potencial. Regido pela simpatia do tema familiar sem desenvolvimento dos estereótipos, seu início é apenas a expansão do que ela pode alcançar, demorando a tornar os personagens em algo além de base para piadas e então se conectarem com a verossimilhança familiar.

O humor de Colton e Aboud se inspira bastante em comentários sobre diferentes  classes econômicas, como um reflexo californiano em constante atrito para propor imagens além do caricatural. Por exemplo, Tom precisa vestir uma blusa do Capitão América, precisa falar demais, precisa ser o tio chato e é o narrador do começo dos episódios. Todos os seus conflitos se revolucionam sobre si mesmo, ao ponto da esposa mexicana Marina (Karla Souza) ser uma coadjuvante ainda mais escanteada  por tentar quebrar a caricatura da mexicana caricata. Ela precisa se limitar para que sua personagem nunca se torne realista, pois quebraria a figura do esposo. 

A  irmã do meio, Sarah (Caitlin McGee), que a dupla de criadores enxerga de maneira até realista é uma personagem oprimida pela sociedade, e as piadas com ela nunca vão além da sua caricatura dela ser lésbica, com cabelo pintado e sempre nervosa com as pessoas. Com irmão mais novo, Connor (Jimmy Tatro), o trabalho parece mais fácil para os escritores, onde  o tal white people problems é “zoado” pelos irmãos, mas no final, o clímax continua sendo do irmão mais novo que parece uma criança. O atrito é sempre propor algo mais sério, vendo o  quão intrínseco é a situação econômica dos irmãos com suas figuras, mas é sempre uma piada segura envolta nela mesma, caracterizada pela  performance dos atores.

Entretanto, são os mesmos atores que conseguem tornar a single cam de Home Economics algo mais intrigante, até mesmo quando o ambiente se torna mais teatral. A casa de Connor é o cenário mais recorrente, mas Topher, Caitlin e Jimmy conseguem ter uma harmonia bem ensaiada que tornam os espaços, até mesmo a casa pequena de Sarah, em comédia bem ritmada. A linguagem da série acaba sendo formada por eles e  os fatores econômicos discutidos vão criando humor a partir de como reagem aos outros familiares. 

Denise (Sasheer Zamata), a esposa de Sarah, é a personagem que mais se destaca nesse sentido. Ela consegue ter uma visão panorâmica da família que foge de qualquer estereótipo mais impregnado, mais explícito. E por mais que isso reflita a graça, que formam os conflitos, os atritos sociais se fazem pela impossibilidade dessas brigas   serem efetivadas, mesmo que comente sobre eles. Denise interpreta melhor esses  flertes e desenvolve suas conexões com os problemas familiares, delatando os defeitos padrões de Sarah com seus irmãos e pais, se alinhando à  empolgação de Connor em ser empresário e incluindo Marina na história, como é descoberto no último episódio. 

A comédia fica boa de verdade quando as diferenças econômicas criam crossovers, fanfics que você não espera de um  ambiente familiar. São  tantas as diferenças que potencializam variações de situações cômicas, mas parecem sempre limitados pela incapacidade dos criadores fugirem do script no livro de Tom, do qual,  no segundo episódio, temos  uma espécie de transliteração. A linguagem dessa sitcom se desprende  de seus estereótipos quando Connor é dramático com sua ex-esposa, quando Tom faz uma aposta com a mulher Marina e quando Sarah se torna politicamente incorreta junto com Denise. E quando Tom apresenta seu livro, em busca de defender seus irmãos, mostrando como eles são, para ele, numa percepção além dos estereótipos, só repete o que a primeira temporada, felizmente e infelizmente, demora 7 episódios para descobrir.

Como qualquer sitcom, Family Economics se baseia em testes de piadas. No entanto, por focar tanto nos estereótipos como chamariz, demora-se demais para compreender que não há apenas novas maneiras de brincar com o realismo, que reverbera essas imagens figurativas dos irmãos, como pensar os crossovers de universos dos irmãos tão ricos. 

Os atritos que os showrunners não lidam muito bem tentam ser evitados com punchlines artificiais, como exemplo dos pais dos irmãos se tornarem o centro das atenções em alguns episódios apenas para repetir os conflitos do caçula, ao ponto de se criar um zigue-zague indeciso entre as categorias dos irmãos. A estética sobre economia, dinheiro, empréstimo e pessimismo financeiro não passam de uma farsa mal desenvolvida para se fazer uma série sobre a família e a vida de Michael Colton, mesmo que, no final, até valha a pena assistir quando as bolhas dos estereótipos se abrem na união familiar verdadeira.

Home Economics – 1ª Temporada (Home Economics, EUA, 7 de abril à 9 de maio de 2021)
Criação: John Aboud, Michael Colton
Direção: Dean Holland, Gail Mancuso, Randall Keenan Winston, Rebecca Asher
Roteiro: John Aboud, Michael Colton, Tucker Cawley, Julieanne Smolinski, Jess Pineda
Elenco: Topher Grace, Caitlin McGee, Jimmy Tatro, Karla Souza, Sasheer Zamata, Shiloh Bearman, Jordyn Curet, Jecobi Swain, Chloe Jo Rountree, Lidia Porto, Nora Dunn, Phil Reeves, Nicole Byer, Tetona Jackson, Justine Lupe, Roselyn Sanchez, Danica McKellar, Gio Randazzo
Duração: 21 minutos por episódio (7 episódios no total)

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