Home LiteraturaAcadêmico/Jornalístico Crítica | História dos Vampiros: Das Origens ao Mito Moderno, de Andrezza C. F. Rodrigues

Crítica | História dos Vampiros: Das Origens ao Mito Moderno, de Andrezza C. F. Rodrigues

Um eficiente panorama da mitologia vampírica que contempla das origens ao monstro na cultura atual.

por Leonardo Campos
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O interesse pelo entendimento acerca da mitologia dos vampiros gerou, ao longo dos anos, um manancial de textos interpretativos, tanto no mundo acadêmico quanto no circuito da crítica cultural, dos blogs e ainda hoje, nas redes sociais. História dos Vampiros: Das Origens ao Mito Moderno, da historiadora Andrezza Christina Ferreira Rodrigues, faz parte do ciclo de estudos científicos sobre os impactos culturais destas criaturas da noite que fascinam leitores, espectadores e internautas muito antes de Drácula, de Bram Stoker, publicado em 1897, considerado o livro definidor da mitologia em questão. Lançado em 2012 pela editora Madras, o livro se divide, além da introdução, de maneira didática em quatro capítulos: “Os Precursores dos Vampiros”, “O Vampiro Se Torna Vampiro”, “Enfim, O Vampiro Moderno” e “O Vampiro pós-Drácula: O Século XX”. São passagens de temáticas densas, mas retratadas pela autora de maneira simples, bem como contextualizada, o que permite uma dinâmica experiência de leitura.

Ao longo de suas 128 páginas, o livro versa sobre o fascínio das sociedades em torno da historiografia dos vampiros. A historiadora reflete estas criaturas da literatura iam além do entretenimento e permitiam ao público refletir sobre elementos da cultura popular que eram parte da agenda de seus respectivos momentos históricos de publicação. Nas histórias de terror com vampiros, autores como John William Polidori, H. G. Wells, Lord Byron, Edgar Allan Poe, Alexandre Dumas, dentre tantos outros, delineavam questões sensíveis para a sociedade, ainda em compreensão ao passo que na mesma época, anterior ao advento de Drácula, o discurso científico ganhava novos desdobramentos e explicava muitas coisas que até então eram associadas ao curioso apego da humanidade diante dos mitos. Ainda na introdução, a autora destaca o inegável legado e impacto cultural do romance epistolar de Bram Stoker, ressaltando a intensidade da sua pesquisa como um recurso que o faz ser centralizador nesta mitologia.

Compreender os vampiros é trafegar pelo longo caminho pavimentado por estas criaturas sugadoras da energia alheia. É adentrar pela Antiguidade, passar pela Idade Média, decifrar mitos da Idade Moderna até chegarmos ao contemporâneo, ainda abundante no quesito vampiros e suas relações com as narrativas ficcionais. Drácula, para a autora, é o livro detentor da chave do mito do vampiro. É a inspiração base do questionável (grifo meu) Crepúsculo, de Stephen Meyer. No desenvolvimento de Os Precursores dos Vampiros, temos explicado os motivos que levam tais criaturas, assim como bruxas, lobisomens e demais “monstros” a preferirem a noite como cenário ideal para o estabelecimento de seu império de medo. Neste momento do dia, é quando o homem trama a ruína, física ou espiritual, de seus inimigos. Referenciada em narrativas remotas, como os textos bíblicos, a noite coloca em cena a dicotomia luz e trevas, vida e morte, sendo um elemento essencial para a construção destas histórias.

Para melhor compreendermos o vasto alcance desta mitologia, o texto aponta traços vampíricos no Olimpo, viaja para o pensamento medieval, falando de Lâmia, das considerações de Santo Agostinho sobre o importante cuidado com os mortos, delineando ainda os fantasmas de Shakespeare, dentre outros exemplos elucidativos, antes de adentrar nos pormenores de Drácula. Em O Vampiro se Torna Vampiro, traça um painel sobre as contribuições dos iluministas para o assunto, explica características específicas do movimento romântico na literatura, indo ao encontro da modernidade e, consequentemente, do clássico romance de Bram Stoker e de seus desdobramentos em narrativas épicas mais recentes, como Entrevista Com o Vampiro, de Anne Rice, sem deixar de analisar também o fenômeno Crepúsculo. Em linhas gerais, um livro não apenas para quem gosta de vampiros, mas para qualquer pessoa interessada em conhecimentos gerais. Importante não se deixar levar pela capa, para não ter a mesma impressão de quem vos escreve: “parece mais um amontoado de informações sobre vampiros embalado numa capa vulgar”. As aparências enganam e, ao abrir e entrar na pesquisa de Andrezza Christina Ferreira Rodrigues, contemplei o quão o seu trabalho é empenhado não apenas com a missão de uma pesquisadora em estabelecer informações, mas também de como transmiti-las aos seus leitores.

História dos Vampiros: Das Origens ao Mito Moderno (Brasil, 2012)
Autoria: Andrezza Christina Ferreira Rodrigues
Editora: Madras
Páginas: 128

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