O grego Hipócrates é considerado por muitos uma das figuras mais importantes da história da saúde. Muitos o consideram o “pai da medicina” como a conhecemos hoje. Hipócrates, assim como Benjamim (Vincent Lacoste) personagem principal do filme que leva seu nome, é membro de uma família de médicos que passam de geração em geração os conhecimentos no cuidado de pacientes e suas doenças.
O problema é que Benjamin está longe de ser o gênio grego. É um menino perdido que, após encerrar o curso de medicina, ingressa com apenas 23 anos no hospital onde seu pai é uma espécie de “Deus”. Será nesse ambiente que o jovem médico precisará enfrentar seus medos, dúvidas em relação ao seu futuro profissional e andar na corda bamba da ética médica.
Perdido também está o diretor Thomas Lilti que não sabe bem para onde pretende levar a história de Hipócrates. O roteiro, assinado por ele mesmo, parece querer abraçar todos os problemas vivenciados pela França neste momento: tensão racial entre franceses e argelinos, problemas de estrutura médica, o paciente visto como um número, ética médica, greves e muito mais.
Quando tenta abordar todos esses problemas, Thomas acaba não acertando alvo nenhum e o filme acaba sendo um emaranhado confuso de boas intenções, mas que não traz nenhuma discussão mais a fundo.
A trama que mais se destaca (e talvez por isso seja a que mais funciona e flui ao longo da fita) é a do colega de Benjamin, o argelino Abdel. O médico, mais velho que o protagonista, acaba roubando a cena (tanto no filme como no hospital). O ator Keda Kateb, que dá vida ao personagem, mostra toda a fragilidade de Abdel, que luta todos os dias para se manter em uma França que ainda precisa resolver seu passado e acertar as contas com os argelinos. Ele busca seu lugar ao sol e mantêm uma bonita relação com os pacientes que trata, que claro, é vista com maus olhos pela administração do hospital.
Ao final, fica aquele sentimento que o diretor poderia ter focado em um ou dois assuntos e ido mais fundo na questão, tocado mais o dedo na ferida e não apenas dado um tapinha no problema. É interessante fazer um paralelo com os problemas vividos aqui no Brasil, no que diz respeito à saúde pública. Mesmo na França, que mesmo com a crise mundial é um país desenvolvido, a saúde é um problema sério. Pacientes esperam horas por macas, os médicos são negligentes, a indústria toma conta até mesmo das nossas doenças. Vale a reflexão e a discussão. Afinal, Thomas Lilti estava com ótimas intenções quando decidiu fazer Hipócrates, pena que se perdeu no meio do caminho.
Observação: Filme originalmente assistido durante o Festival Varilux de Cinema Francês.
Hipócrates – (Hippocrate, França – 2014)
Direção: Thomas Lilti
Roteiro: Thomas Lilti
Elenco: Vincent Lacoste, Reda Kateb, Jacques Gamblin, Marianne Denicourt, Félix Moati, Carole Franck, Philippe Rebbot, Bertrand Constant
Duração: 102 minutos