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Crítica | Highlander II – A Ressurreição

Para quê?

por Luiz Santiago
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Em 1986, o lançamento de Highlander – O Guerreiro Imortal criou um novo capítulo na história do cinema, integrando a lista de filmes icônicos de uma Era, pelo estrondoso sucesso que fez diante do público. O que ninguém em sã consciência pediu foi que surgisse uma continuação da saga de Connor MacLeod, embora não fosse difícil prever que algum estúdio iria pagar muito para obter os direitos e surfar no prestígio da obra original. O que chama a atenção em Highlander II – A Ressurreição, é o núcleo do drama, com o roteiro de Peter Bellwood criando um cenário de ameaça à vida na Terra por conta do afinamento da camada de ozônio. Tudo isso, porém, está colocado em elipse, e embora tenhamos cenas explicativas (em flashback) do que aconteceu em 1999, elas não bastam para dar contexto ou mesmo convencer o espectador dessa nova realidade humana.

É na extrema dificuldade de vender a sua ideia para o espectador que o filme estaciona, perdendo força antes mesmo de começar a ganhar. Se por um lado é possível apreciar os figurinos e a direção de arte, na construção de um cenário futurista mesclando atmosfera e ideias arquitetônicas de Tim Burton e Ridley Scott, não há nada no filme que faça um uso coerente e correto desse aparato plástico, que exatamente por este motivo, torna-se vazio. Sim, é compreensível que um planeta escurecido por um filtro de raios solares acabe se tornando viciado, doentio e decadente, mas se era a intenção do diretor Russell Mulcahy trabalhar com esse ambiente tão diferente, que pelo menos justificasse a sua existência, o que não acontece aqui. Este é apenas um cenário hostil e arruinado onde a luta do Highlander com o General Katana deve acontecer. Então vemos o texto pegar uma estrada paralela, para focar nesse assunto supostamente tão importante, que também acaba mal trabalhado.

A capacidade de um coqueiro que Christopher Lambert tem de transmitir emoções, é piorada pelas novas regras que o roteiro escreve em relação à imortalidade do protagonista, justificando assim a sua velhice e posterior rejuvenescimento. A inclusão do passado no planeta Zeist, a contextualização sobre a inimizade entre MacLeod e Katana, mais o retorno de Ramírez, são narrativamente simplistas e mal encaixadas na trama, com um único ponto positivo identificável: a entrada de Sean Connery em cena para trazer boa dramaturgia e presença de tela. Ainda assim, as melhores cenas do personagem estão antes de se encontrar com MacLeod, e quero destacar o diálogo sacana que ele tem com uma passageira do avião. De resto, sua presença sujeita-se à história cheia de contradições e escolhas inexplicáveis, como o envio de dois “agentes” de Zeist para matar MacLeod; como a horrenda “luta aérea” contra um desses agentes; e como a abordagem de crítica à ganância capitalista dos administrados do filtro planetário, uma linha de argumento que, no contexto do filme, não tem lugar e não serve para absolutamente nada.

Espectadores com mais de dois neurônios ativos vão se sentir agredidos ao ver utilizarem indiretamente as músicas do Queen (mais precisamente, A Kind of Magic e Who Wants to Live Forever) em um contexto de tanta bagunça e carência de sentido — aliás, até as lutas entre os personagens são imprestáveis, com uma coreografia repetitiva e travada, não raramente mal editada. O que sobra de bom na obra são cenas isoladas de Sean Connery e o projeto de construção estética desse planeta sem Sol, no ano de 2024. O resto é uma lamentável tentativa de explorar uma história que tinha se encerrado com muita competência no primeiro filme, e não deveria ser mexida de forma alguma. Obras com essa premissa e com um contexto tão difícil de gerar enredos convincentes e necessários, deveriam seguir a regra de ouro da mitologia dos imortais: só poderia existir uma.

***

Esta crítica é um pagamento de prenda, por eu ter perdido a corrida literária de 2022.

Highlander II – A Ressurreição (Highlander II: The Quickening) — Reino Unido, França, Argentina, EUA, 1991
Direção: Russell Mulcahy
Roteiro: Peter Bellwood (com história de William N. Panzer e Brian Clemens. Baseado nos personagens de Gregory Widen).
Elenco: Christopher Lambert, Sean Connery, Virginia Madsen, Michael Ironside, Allan Rich, John C. McGinley, Phillip Brock, Rusty Schwimmer, Ed Trucco, Steven Grives, Jimmy Murray, Pete Antico, Peter Bucossi, Peter Bromilow, Jeff Altman, Diana Rossi
Duração: 91 min.

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