Como disse na crítica da 1ª temporada, High School Musical: The Musical: The Series foi uma inteligente maneira de a Disney capitalizar em cima da bem-sucedida franquia High School Musical sem fazer apenas mais do mesmo. E isso continua na 2ª temporada, mesmo que, em essência, haja uma repetição temática macro de outra peça sendo montada pela trupe de teatro da verdadeira East High. Também como disse em meus comentários anteriores, o maior problema do ano inaugural foi justamente o casal principal formado por Olivia Rodrigo e Joshua Bassett, como Nini e Ricky, dois atores que empalidecem diante de seus coadjuvantes, algo que também continua na nova temporada, ainda que de forma mais suave.
A premissa geral e idêntica de montagem de uma nova peça é apimentada pelo encontro de Miss Jenn (Kate Reinders) com Zack (Derek Hough), ex-namorado dela que assumiu o cargo de professor de teatro da escolha North High, que a leva a cobiçar vitória no fictício prêmio Menkies. Isso a faz sugerir uma mudança “radical” a seus alunos: no lugar de montar uma versão de High School Musical 2, que todos mais do que esperavam, eles adaptarão A Bela e a Fera. Essa troca é puramente cosmética em termos narrativos, claro, pelo que o que realmente importa é a concorrência acirrada que é estabelecida entre as duas escolas, algo que é impulsionado pela pretensiosa, mas talentosa Lily (Olivia Rose Keegan) que, ao não se ver reconhecida por Miss Jenn, parte para North High, tornando-se a vilã da história.
Essa minimamente nova estrutura funciona bem para trazer novidades à temporada e criar algum grau de tensão que desvia a atenção para os mesmos velhos dramas adolescentes – e adultos – que ocupam a maioria da duração dos agora 12 episódios. Faz parte de uma série em que os protagonistas e quase todos os coadjuvantes são adolescentes, pelo que o retorno ao vai-e-vem de namoros, desentendimentos, brigas, além de caras e bocas de felicidade, arrependimento, teimosia, surpresa e também tristeza é algo que não havia como contornar. O problema é que os arcos narrativos de Nini e Ricky continuam os mesmos, com os mesmos dramas: Nini querendo se achar na vida, o que a afasta de East High pelos primeiros episódios e Ricky insuportavelmente ainda sofrendo pela separação nada traumática de seus pais ao ponto de ele se recusar a aceitar que seu pai sequer se aproxime de Miss Jenn.
No entanto, no meio da mesmice, eis que a 2ª temporada faz o que precisava fazer e abre mais espaço para os atores e respectivos personagens que realmente fazem a diferença: Matt Cornett como E. J. Caswell, Sofia Wylie como Gina Porter, Larry Saperstein como Big Red, Julia Lester como Ashlyn Caswell, Dara Reneé como Kourtney Greene, Frankie Rodriguez como Carlos Rodriguez e, finalmente, Joe Serafini como Seb Matthew-Smith. Eles tanto em conjunto como em duplas ou até separadamente carregam a série nas costas e conseguem tornar até mesmo o draminha entre Nini e Ricky mais interessante do que é. Os roteiros fazem um bom esforço para criar arcos decentes para eles, por vezes até mesmo dedicando o foco principal de episódios inteiros a alguns deles, como é o caso de The Quinceañero, focado em Carlos e facilmente o melhor deles, Spring Break, de certa forma mais focado em Gina.
Sei muito bem – por intermédio de minhas filhas, obviamente – que Olivia Rodrigo e Joshua Bassett são os mais famosos, que têm álbuns de sucesso e assim por diante, inclusive tendo namorado e passado por um bem público término de relacionamento. Mas isso não tem relevância aqui, já que ou eles não ganham dos roteiristas oportunidades suficientes para dizerem a que vieram como atores, o que duvido, ou eles simples e realmente ainda não têm gabarito para se sobressaírem em meio a seus colegas de série. A repetição temática ao redor dos dois e a artificialidade de suas atuações servem como âncora para uma série que só continua mesmo boiando graças aos demais que estão ao redor dois. Tomara que uma futura 3ª temporada escanteie ainda mais a duplinha, trazendo os demais de uma vez para a luz dos holofotes.
A estrutura da temporada para a inserção de novas composições musicais é um tanto quanto didática demais, com cada canção diegética sendo escrita como um passe de mágica pelos personagens para ilustrar ou explicar determinada situação por que passam. E isso acontece uma, duas, três, todas as vezes em que há a necessidade de introdução de uma música que já não preexista nos filmes que dão base à história, o que acaba cansando e tirando completamente a naturalidade dos eventos. Pior ainda, os dois episódios finais, dedicados à montagem da peça, cometem o mesmo erro dos episódios correspondentes na temporada anterior, ou seja, apressam o que deveria ser o clímax, intercalando-o com tentativas de amplificar os momentos dramáticos, o que inclui até mesmo a introdução de um personagem novo que cai completamente de paraquedas na história. Com isso, o espectador é roubado de potenciais grandes momentos da trupe, com números musicais famosos sendo esburacados por elipses atrapalhadas que despedaçam o ritmo e levam a uma conclusão sem fim só para estabelecer uma desnecessária sucessão de cliffhangers marotos.
Mesmo ao trancos e barrancos, porém, a temporada funciona. Tim Federle soube acrescentar uma camada extra à premissa da série ao criar a competição entre escolas e percebeu que seus coadjuvantes são mais valiosos que os protagonistas, mas o criador e showrunner ainda não encontrou o melhor caminho para fazer HSMTMTS brilhar com o potencial que felizmente ainda parece ter.
High School Musical: The Musical: The Series (EUA, 14 de maio a 30 de julho de 2021)
Criação: Tim Federle
Showrunner: Tim Federle
Direção: Kimberly McCullough, Paul Hoen, Brent Geisler, Joanna Kerns
Roteiro: Tim Federle, Ann Kim, Zach Dodes, Ritza Bloom, Emilia Serrano, Ilana Wolpert, Carrie Rosen, Nneka Gerstle, Natalia Castells-Esquivel, Jessica Leventhal
Elenco: Olivia Rodrigo, Joshua Bassett, Matt Cornett, Sofia Wylie, Larry Saperstein, Julia Lester, Dara Reneé, Frankie Rodriguez, Mark St. Cyr, Kate Reinders, Joe Serafini, Derek Hough, Olivia Rose Keegan, Roman Banks, Andrew Barth Feldman, Kimberly Brooks, Asher Angel, Jordan Fisher, Alex Quijano
Duração: 419 min. (12 episódios)