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Crítica | Heróis em Crise #8: Vivo

por Luiz Santiago
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  • Há SPOILERS! Confira as críticas para as outras edições da série aqui.

Quando Heróis em Crise começou, em Eu Estou Apenas Aquecendo, eu fiquei imensamente animado. Pode ir lá conferir a minha nota e ler a crítica. É um primor. Na minha visão do que seria a história — ou melhor, naquilo que a história apresentava/prometia na época — o tratamento para o Transtorno de Estresse Pós-traumático seria posto numa realidade muito complicada para os heróis, algo que flertava com Crise de Identidade, mas que ia além, pela quantidade de gente morta e pelo impacto que isso teria para a DC, afinal de contas, envolvia diretamente a Trindade… Muitas promessas.

E cá estamos, na oitava e penúltima edição da minissérie, vendo o quão absurda e intragável se tornou essa jornada, agora com Wally West assassino e suicida. Vamos direto ao ponto: numa situação de Transtorno de Estresse Pós-traumático, muita coisa é possível sim, inclusive isto. A grande questão é: por quê? Qual é o sentido de trazer Wally West de volta e fazê-lo perder o controle da Força de Aceleração, acidentalmente matar todo mundo e se matar depois? Sim, a premissa é interessantíssima, tem um peso enorme, mas sejamos frios na análise: isto é o puro choque pelo choque! Não chega a lugar algum, ao menos até esta penúltima edição (alguém aqui acredita em milagres e acha que a nona revista irá ser a obra-prima dos quadrinhos de 2019?) e piora ainda a situação de Wally por diversos motivos, começando pela consideração da edição passada, Muito Rápido Para Salvar o Mundo.

Se Tom King tivesse o mínimo de preocupação em realmente tratar a questão de forma séria, por que ele não trabalhou com os indícios psicológicos de um Wally afetado já nas outras edições? Pessoalmente achei as confissões dele muito condizentes com sua personalidade, mas aquilo era tudo parte de um plano para despistar o leitor? Para a gente chegar na penúltima edição e ter que engolir que foi uma perda de controle de poderes causado por dor extrema da perda e choque por tudo o que ouviu de outros super-heróis? Simplesmente não dá para engolir essa invenção de elementos narrativos tão sérios brotando do nada para justificar uma atitude injustificável e que piora a cada momento que a gente tenta gostar um pouco mais da revista buscando nela — e na saga da qual faz parte — um chão para poder pisar. Não existe “gostar mais” quando a gente repara as entrelinhas e as questões lógicas ligas às ações de Wally aqui.

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Antes de aprofundar nesse aspecto, é importante deixar claro, para os que porventura gostaram do que foi feito e vão tentar defender a saga entortando o que eu disse para fazer o roteiro parecer melhor do que é: Transtorno de Estresse Pós-traumático é algo sério. Está aliado a diversos problemas emocionais e comportamentais que fazem pessoas agirem das formas mais avessas ao seu “normal cotidiano“, fora do Transtorno. Para alguém com poderes, algo assim é bastante perigoso. Mas como em QUALQUER distúrbio emocional e comportamental, existem indícios disso antes da crise. E é aí que Heróis em Crise se torna uma grande piada de mal gosto já no núcleo do problema que supostamente deveria discutir, chegando à visão final do que eu disse cima, isso aqui é o choque pelo choque — alguns leitores tentaram me avisar lá na primeira edição, mas eu não quis ouvir, achei que existiria uma justificativa maior, boa, realmente ligada ao problema proposto pelo autor. Só que não houve nada disso.

Se a Trindade (notem: eu não estou falando do Manezinho da Ilha. Da Maria-Ninguém. Do Senhor-Inútil. Eu estou falando da TRINDADE!!!) constrói um lugar chamado Santuário para tratar heróis em crise, o que você imagina? Que a Trindade, sendo quem é, considerou todas as possibilidades para que um lugar como este existisse. Não é como se a DC não tivesse a sua cota de vilões velocistas, certo? Será que Batman não considerou a possibilidade de um vilão velocista, ou qualquer outro vilão, em algum momento, invadir o Santuário? E depois: todas as pessoas estavam fazendo confissões ao mesmo tempo? Porque o Santuário não trabalhava com arquivos, não havia armazenamento de dados.

Quando Wally hackeia o sistema e vê “todas as confissões” e aí fica sobrecarregado e triste e descontrolado e “precisa ir para fora, para tomar um ar“, como é que ele consegue ver todas aquelas confissões? Todos estavam falando ao mesmo tempo? Ele só viu algumas e ficou daquele jeito? Ou Tom King mentiu e, na verdade, era tudo uma pegadinha do Mallandro e existem arquivos infinitos do Santuário? Wally viu aquilo “ao longo do tempo“? Mas se a questão da viagem no tempo via Força de Aceleração foi tirada, como é que ele pode ter visto essas confissões todas “ao longo do tempo” sem ter pego o dispositivo do Gladiador Dourado, para poder fazer esta viagem, como de fato ocorreu em seguida? E por que ele, do jeito que estava, precisando ficar sozinho, foi apenas para alguns metros do Santuário? Sendo alguém tão inteligente e pressentindo o perigo, ele não considerou correr dos colegas que acabou matando? Ir para longe de tudo e todos não lhe passou pela cabeça quando ele resolveu “ficar sozinho“?

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Além disso, volto à questão dos sintomas. O Santuário era equipado com robôs criados justamente para tratarem dos inúmeros problemas psicológicos e emocionais possíveis. Ora, como é que eles não perceberam isso no Wally? Como é que não notaram essa dor enorme e fixa? Como é que o próprio sistema, tendo tratado de Wally por tanto tempo, não deu um jeito de impedi-lo? Ou será que a Trindade é incompetente o bastante para JAMAIS ter sequer IMAGINADO que um dos internos do Santuário poderiam ter um distúrbio tão grande a ponto de querer destruir tudo? Mas não acabou: o poço ainda é mais fundo e impacta mesmo os defensores do Wally assassino-sem-querer (sério, DC Comics? Sério mesmo que você fez isso com Wally?), basta a gente considerar as seguintes perguntas:

  1. Por que Wally precisou fazer todo aquele teatro com os corpos? Então além do EPT ele é psicopata também?
  2. Por que Wally destruiu todas as provas que o incriminariam? Isso não é EPT! Isso é vilania pura e simples!
  3. Por que Wally incriminou Arlequina e Gladiador Dourado? Isso não é EPT! Isso é vilania pura e simples!
  4. Por que a DC se deu o trabalho de trazer o cara de volta pra fazer toda essa palhaçada com ele? O choque pelo choque, à guisa de estar discutindo algo “à frente de seu tempo“, mostrando como heróis podem perder o controle também?

Não. Não. Não. Simplesmente não. Isto é uma vergonha sem fim. Meia estrela só pela arte mesmo, que é fantástica. Agradeço a todos os Deuses do Céu e da Terra por faltar apenas uma edição para acabar esse negócio. Maldita hora que eu peguei para escrever isso aqui por edição. Que desgraça!

Heroes in Crisis #8: Too Fast to Save the World (EUA, 24 de abril de 2019)
Roteiro: Tom King
Arte: Mitch Gerads, Clay Mann
Cores: Mitch Gerads
Letras: Clayton Cowles
Capa: Mitch Gerads
Editoria: 
22 páginas

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