- Há SPOILERS! Confira as críticas para as outras edições da série aqui.
Ao fim da leitura desta terceira edição de Heróis em Crise fica difícil não fazer a seguinte pergunta: para onde está indo essa história? Por um lado, grita em nossa mente a ideia de que estamos em uma minissérie de nove edições e que há tempo de sobra para que o roteirista Tom King desenvolva o que tiver para ser desenvolvido até o final. E sim, isso é verdade. Mas não é exatamente uma verdade livre de problemas, concordam?
Para um saga com uma temática tão forte como esta, e pelo número de mortes que estamos vendo a cada edição (na verdade, repetição ou detalhamento da carnificina mostrada em Eu Estou Apenas Aquecendo), a pergunta sobre o andamento do enredo acaba não sendo tão apressada ou “birrenta” assim. Peguemos esta terceira edição, por exemplo, e vamos olhá-la por dois diferentes ângulos, sendo o primeiro — e acredito, o mais importante em se tratando de uma edição mensal — como a revista funciona sozinha. Dessa vez, diferente da publicação anterior, os diálogos funcionam de maneira inteligente. Não existe nada que desafie o bom senso e a paciência do leitor e ainda é possível se impressionar um pouco com a forma como o autor liga as confissões dos internos, o modus operandi do Santuário e os assassinatos que geram o trauma maior da série. Até aí, quase tudo bem. Mas há algo que precisa ser dito.
Vocês já conseguiram digerir bem a ideia de que o Santuário foi inicialmente apresentado como um lugar para HERÓIS e depois pareceu ser um lugar também para anti-heróis, personagens de alinhamento moral “neutro” e até vilões mais ou menos reformados? Eu tentei justificar de maneira muda, na minha mente, a questão de a Arlequina estar lá, no início de tudo. Mas ok, a gente sabe como a personagem é tratada pela DC Comics, certo? E depois do efeito Esquadrão Suicida, não parece assim tão maluco, até dá para adequar. Mas nesse caso, o roteiro deveria ter sido mais específico a esse respeito, relativizado a presença de algumas pessoas no lugar, criado um cenário de possível desconfiança que talvez até servisse como um serviço dramático — falando, inclusive, da ingenuidade da Trindade em achar que personagens não-heróis poderiam tranquilamente visitar e gozar dos benefícios psicológicos de um Santuário que supostamente deveria ser um lugar seguro para… heróis em crise, tentando lidar com algum trauma. Pensem.
Mas voltando à revista bastando a si mesma. As conversas do Gladiador Dourado com o sistema, o uso da máscara do Pirata Psíquico como ajuda no processo de análise e entendimento dos traumas, a representação do que parece ser o primeiro momento do ataque… tudo isso cai muito bem aqui. Faz sentido, é sólido como mostragem do que a série está se dispondo a nos entregar… Mas falta algo. E este algo é o segundo ângulo que eu falei anteriormente. A parte em que nós também precisamos encarar as mensais como peças de um quebra-cabeça que precisa avançar a cada novo estágio. E mesmo que o resultado final aqui seja melhor que o da edição passada, ainda fica a sensação de que a gente mal andou.
Alguns quadros de Clay Mann e Lee Weeks saltam aos olhos pela cruel beleza de movimentos, pelos ângulos e pelos detalhes da arte, o que nos ajuda a comprar a dor e o desespero de algumas situações. Mesmo assim, fica a sensação de que as próximas edições precisam um pouco menos de confissões e muito mais do que essa história se prontificou a ser desde o início: uma investigação que estivesse ligada a traumas heroicos. Que venha, pois, a boa parte da investigação, da qual só tivemos raras (e insossas) migalhas até agora.
Heroes in Crisis #3: Master of the Lagoon (EUA, 28 de novembro de 2018)
Roteiro: Tom King
Arte: Clay Mann, Lee Weeks
Cores: Tomeu Morey
Letras: Clayton Cowles
Capa: Clay Mann, Tomeu Morey
Editoria: Jamie S. Rich, Brittany Holzherr
27 páginas