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Crítica | Heroes – 2ª Temporada

por Lucas Nascimento
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estrelas 3,5

Após uma excelente temporada que garantiu sucesso de público, indicações ao Emmy e uma considerável legião de fãs, é uma pena que Heroes tenha decaído tanto em seu Volume Dois. Tim Kring teve o azar de começar sua nova temporada em um período crucial que abalou tanto a televisão quanto Hollywood: a greve dos roteiristas da WGA (Writers Guild of America), que durou entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008. Com isso, os 23 episódios da primeira temporada foram reduzidos para 11, e o resultado certamente é consequência direta deste turbilhão criativo.

Intitulado “Gerações”, o segundo volume começa quatro meses depois do explosivo clímax envolvendo Peter Petrelli (Milo Ventimiglia), com os heróis tentando voltar às suas vidas pacatas: Claire e sua família tentam recomeçar a rotina na Califórnia, Matt Parkman é promovido para detetive e logo começa a investigar um novo serial killer, Niki Sanders enfim embarca em um tratamento para se livrar de seu distúrbio de personalidade e Mohinder Suresh se infiltra na Companhia a fim de destruí-la com Noah Bennet. Isso por si só já representa uma certa repetição de temas da primeira temporada, além de mostrar-se entediante em seus primeiros episódios. O núcleo de Mohinder nunca impacta do jeito que promete (um homem infiltrado numa corporação inimiga) e o suposto “vilão” Bob de Stephen Tobolowsky é uma figura sem presença.

A  exceção mesmo fica por conta do mistério despertado ao fim de Four Months Later…, quando um grupo de criminosos irlandeses encontra um Peter Petrelli sem memórias trancafiado em um contêiner. Kring e sua trupe de roteiristas são ágeis ao criar suposições que expliquem o que teria acontecido a Peter após sua explosão, além de se divertir com a ideia deste não saber o que são seus poderes. Até mesmo um repentino interesse amoroso surge em sua estadia na Irlanda, e este poderia ser comovente se não fosse tão apressado. Outro estranho numa terra estranha é o querido Hiro Nakamura de Masi Oka, que foi parar no Japão feudal de 1671, onde encontra o lendário samurai Takezo Kensei; apenas para descobrir que este é um trambiqueiro britânico vivido pelo ótimo David Anders. Esse núcleo claramente se inspira, visual e tematicamente, na filmografia de Akira Kurosawa, mas destoa completamente do restante da série e – mesmo para uma série de orçamento considerável – é um tanto cartunesco e até amador na representação de certos personagens (uma princesa completamente estereotipada e vilões japoneses risíveis); mesmo que pontualmente seja capaz de divertir. Mas, assim como Petrelli na Irlanda, há pouquíssimo tempo para desenvolver apropriadamente seus personagens.

E como temporada nova é sinônimo de elenco novo, Heroes expande-se para a América do Sul com os irmãos Maya e Alejandro, que tentam desesperadamente cruzar a fronteira para chegar nos EUA e encontrar uma cura para sua tenebrosa habilidade – que é realmente uma das melhores ideias de Kring para esta temporada. Infelizmente, a jornada dos irmãos tem a dramaticidade e atuação dignas da teledramaturgia mexicana, especialmente pela atriz Dania Ramirez, que confere um novo significado a overacting com Maya. A trama dos dois só fica realmente interessante quando cruzam o núcleo de um enfraquecido Sylar, que não garante a mesma presença da primeira temporada, mas rende bons momentos – especialmente com sua perturbada relação com Maya. Outra novidade desperdiçada é a Monica Dawson de Dana Davis, uma carismática e esperançosa jovem de Nova Orleans, que tristemente é deixada em segundo plano durante boa parte da temporada. Kristen Bell até consegue chamar a atenção com sua eletrizante Elle, mas se limita a uma caricata – e por vezes irritante – garotinha mimada.

Mas, para citar um grande acerto, escolho sem hesitar a figura do antagonista desta temporada. Adotando a identidade de um certo Adam Monroe, o vilão da vez garante uma revelação surpreendente e que consegue, com habilidade, amarrar todas as tramas anteriores – especialmente a de Hiro no passado, o que é admirável considerando que um espaço de 400 anos a separa das demais. A ameaça do vírus Shanti também se prova uma consequência lógica, especialmente depois do perigo do homem que explode na primeira, mesmo que tenha uma escala bem menor.

E se o núcleo de Noah Bennet representou o pico mais alto da primeira temporada com Company Man, o mesmo acontece aqui com Cautionary Tales. Se o primeiro era um tenso e claustrofóbico registro sobre a vida de Bennet e sua luta para proteger a família, Tales é um empolgante duelo sob o a ensolarada paisagem de Costa Verde, com Bennet sendo forçado a enfrentar velhos amigos para garantir a segurança de Claire da Companhia. O confronto fica ainda mais complexo quando Bob Bishop também precisa proteger sua filha, Elle, representando um espelho mais sombrio de Bennet – mas igualmente preocupado pelo bem estar de sua família. O embate entre os dois, marcado por um belíssimo pôr do sol, quase transforma Heroes num western de Sergio Leone, assim como o trágico desfecho do evento… Que infelizmente é desperdiçado por um deus ex machina que viria a se tornar o grande problema da série no futuro.

Prejudicada por um número menor de episódios e uma escala bem menos grandiosa, o Volume Dois de Heroes falha ao manter o nível extraordinário alcançado em sua primeira investida, ainda que traga uma narrativa com mistério envolvente e boas ideias, mas que certamente precisavam de mais tempo para… evoluir.

YATTA: Cautionary Tales
Powerless: The Line

Heroes (Heroes, EUA, 2007)
Criador:
Tim Kring
Principais diretores:
Allan Arkush, Paul Edwards, Greg Beeman
Elenco: Milo Ventimiglia, Masi Oka, Hayden Panettiere, Greg Grunberg, Zachary Quinto, Ali Larter, Jack Coleman, Kristen Bell, Sendhil Ramamurthy, Stephen Tobolowsky, David Anders, George Takei, Dania Ramirez
Número de episódios: 11
Duração: 42 min (cada episódio)

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