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Crítica | Hércules em Nova York

Um marco na vida de Schwarzenegger!

por Ritter Fan
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Se fôssemos tentar adivinhar que tipo de carreira cinematográfica que Arnold Schwarzenegger poderia ter com base exclusivamente em Hércules em Nova York, produção encabeçada pelo produtor e roteirista Aubrey Wisberg, provavelmente concluiríamos que o fisiculturista austríaco teria muito sorte se ele fosse capaz de fazer sequer uma ponta em um segundo longa trash desses. Mas a grande verdade é que seu primeiro filme foi um marco em sua vida, de uma maneira de outra, pois não só deu o pontapé nesse seu lado… hummm… dramático, lado esse que ainda demoraria um  pouco a engrenar, como serviu como amuleto da sorte, pois foi durante a produção que ele finalmente ganharia o título de Mr. Olympia pela primeira vez.

Com apenas 22 anos, músculos absurdos, cabelo de Príncipe Valente, feição de “burro” (pensei em um eufemismo, mas não tem como dourar a pílula aqui) e um pesadíssimo sotaque austríaco, além de assinando como “Arnold Strong ‘Mr. Universe'”, Schwarzenegger vive Hércules, o famoso semideus da mitologia grega e filho de Zeus (Ernest Graves) que enche a paciência de seu pai para que ele o deixe conhecer o “mundo real”. Ele tanto faz que Zeus, usando um de seus raios hilariamente feitos com vergalhões de metal, arremessa-o para longe do Monte Olimpo e ele acaba chegando em Nova York, como o título não deixa dúvida, logo fazendo amizade com Pretzie (Arnold Stang), um vendedor de pretzels que se afeiçoa por ele.

A premissa é simples e poderia funcionar com um mínimo de cuidado do roteiro, um mínimo de coerência narrativa. Mas não há nada disso aqui. O texto de Wisberg provavelmente foi escrito na medida em que as filmagens aconteciam, pois, com exceção da amizade entre Hércules e Pretzel, todos os personagens e situações restantes parecem meras execuções parciais de ideias. Peguem a jovem Helen Candem (Deborah Loomis), jovem que passa a ser o interesse romântico do grandalhão. Ela é filha do Professor Camden (James Karen), que demonstra “interesse” por Hércules e acaba convidando-o à sua casa. Essa linha narrativa continua e é desenvolvida? Claro que não. Peguem a chegada de membros da Máfia que querem controlar as lutas de Hércules? O filme sequer tem lutas em ringues com direito a apostas, apenas um estranho “campeonato” de levantamento de peso que não vai a lugar nenhum. É como se Wisberg tivesse começado por um caminho, mudado de ideia e não se dado ao trabalho de alterar a gênese da ideia, deixando-a lá como um “rabicho” mal feito…

No entanto, em meio à inabilidade completa de Wisberg em contar uma história simples com alguma lógica ou de Arthur Allan Seidelman de mostrar que realmente sabe o que está fazendo atrás da câmera, é absolutamente hilário ver Arnold Schwarzenegger “atuando” com seus bíceps, tríceps e peitoral “pulante” e, algumas raras vezes, com seu rosto, ainda que os músculos tenham atuação melhor, evidentemente. E é vital – absolutamente vital – que o espectador, para aproveitar o máximo desta obra, procure a versão em que a voz verdadeira de Schwarzenegger foi deixada, já que o filme foi originalmente lançado com a voz dele dublada por alguém desconhecido (mas que pode ser ouvido na sequência em que Hércules fala pelo rádio com Pretzie) em razão do pesadíssimo sotaque austríaco do fisiculturista. Os diálogos toscos sendo falados por ele desse jeito enrolado são impagáveis, verdadeiramente antológicos.

Além disso, há momentos que são inacreditavelmente trash, como quando um “urso” foge do zoológico e Hércules sai no tapa com o bicho. É de dar câimbras estomacais ver a tosquice da “fantasia” de urso que alguém ganhou uns trocados para vestir, se é que aquela fantasia é de urso mesmo, pois não passa nem por fantasia de gorila. E o que dizer dos momentos “olímpicos” no Central Park em que Hércules mostra a alguns atletas como arremessar discos e dardos e como fazer salto a distância? A montagem é grotesca, sem a menor preocupação em passar a sensação de que talvez pudesse, com boa vontade, ser Schwarzenegger ali pulando ou coisa parecida. É uma aula de como passar vergonha fazendo a montagem de um longa.

Hércules em Nova York, aliás, é todinho uma vergonha alheia. Mas é uma vergonha alheia benigna, simpática, que faz o espectador, mesmo com a mão no rosto, sorrir, rir e até gargalhar em alguns momentos. É um dos melhores exemplos de filme “tão ruim que é bom” que eu poderia listar e talvez por isso ele tenha dado tanta sorte para a vitoriosa carreira de Arnold Schwarzenegger em basicamente tudo o que tentou fazer na vida.

Hércules em Nova York (Hercules in New York – EUA, 1970)
Direção: Arthur Allan Seidelman
Roteiro: Aubrey Wisberg
Elenco: Arnold Stang, Arnold Schwarzenegger, Deborah Loomis, James Karen, Ernest Graves, Tanny McDonald, Taina Elg, Michael Lipton, Harold Burstein, George Bartenieff, Rudy Bond, Dan Hamilton, Mark Tendler, Dennis Tinerino, Richard Herd, Tony Carroll, Aubrey Wisberg
Duração: 92 min.

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