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Crítica | Hell Divers III: Deliverance, de Nicholas Sansbury Smith

O encerramento de uma trilogia e a abertura de portas para novas histórias.

por Ritter Fan
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  • spoilers.

Talvez seja possível dizer, mas não tenho certeza, pois não li os volumes posteriores, que Hell Divers III: Deliverance encerra o primeiro arco narrativo da série literária pós-apocalíptica que Nicholas Sansbury Smith iniciou em 2016 com o fraco Hell Divers e continuou em 2017 com o levemente melhor Hell Divers II: Fantasmas, arco esse girando ao redor do Comandante Xavier “X” Rodriguez, líder da equipe de paraquedistas Raptor que mergulha ao inferno nuclear cheio de mutantes que é a superfície da terra para recolher células de energia e peças de reposição para o dirigível autossuficiente (ou quase) Hive que fica eternamente voando com, em tese, os últimos 500 humanos 250 anos depois que uma guerra nuclear devastou o planeta. No primeiro capítulo X lidera uma missão impossível e acaba se sacrificando pela equipe, sendo dado como morto. No segundo, passado 10 anos depois, descobrimos que X está vivo e perambulando pelas ruínas do que fora os EUA ao lado de Miles, um cachorro geneticamente modificado, a equipe Raptor é liderada por Michael Everheart, filho do melhor amigo de X e o Hive é capitaneado pelo cada vez mais ditatorial Leon Jordan que, dentre outras coisas, esconde que X está vivo, algo que ele sabe pelas esparsas transmissões que o ex-comandante faz.

No terceiro capítulo da saga, Michael e sua equipe desconfiam fortemente que X está vivo e pressionam um cada vez mais obsessivo Leon que acaba os exilando na superfície, o que os leva a encontrar um dirigível novinho em folha que eles batizam de Deliverance (Libertação, em português), além de uma inteligência artificial que, por meio de holografia, toma forma do humano Timothy e que pode ou não ser confiável. A narrativa é tripartite, com três histórias paralelas – duas delas simultâneas – que, aos poucos, ganha a necessária convergência, com a primeira delas sendo a nova equipe Raptor usando o novo dirigível com Timothy no comando para chegar ao ponto da última mensagem de X, a segunda sendo o Capitão Leon Jordan criando uma nova equipe de paraquedistas quase que do nada para tomar o dirigível de Michael e a terceira sendo uma sucessão de flashbacks que contam pequenas historietas que servem como “contos de X ao longo de 10 anos”.

Essa variedade narrativa, que se torna especialmente interessante pela presença de Timothy e pelo agravamento da loucura de Leon no Hive a ponto de ele ordenar que todo o passado seja literalmente apagado das paredes do dirigível, cometendo alguns assassinatos no processo, mantém o romance interessante por todo o seu ainda desnecessário enorme tamanho, ainda que não haja surpresas alguma, especialmente o aguardado reencontro de Michael e X e uma abertura de mitologia que revela que há humanos vivendo na superfície (ou melhor, em algum lugar no Oceano Atlântico), ainda que sejam humanos canibais, já que o autor parece não ser capaz de resistir ao uso dos clichês mais banais e repetitivos de um subgênero literário que se beneficiaria muito de ideias refrescantes e não da mesma coisa sempre. Seja como for, o que importa é que, em termos de fluidez narrativa, esse terceiro volume de Hell Divers consegue ser o melhor e trazer X de volta de verdade, especialmente carregando traumas de 10 anos de exílio, empresta um novo sabor à obra que Smith sabe cultivar, sem fazer desse retorno algo simples demais, com o ex-comandante, por exemplo, imediatamente readaptando-se à sua nova situação.

No quesito criaturas mutantes, que são onipresentes nesse universo, a variedade da imaginação do autor, diferente da linha narrativa tripartite, não ajuda em nada, pois tudo o que ganhamos são exemplares novos de exatamente a mesma coisa, ou seja, monstrengos feios e mortais que não são mais do que obstáculos para nossos heróis alcançarem o objetivo. E isso é particularmente sensível neste terceiro volume, já que, aqui, não há revelações particularmente importantes sobre a natureza dos bichos, o que contribui para deixar evidente o quão genéricos eles são e o quanto a saga se beneficiaria de algo um pouco mais elaborado para os próximos capítulos, o que, imagino, deva acontecer alguma hora em razão da quantidade de livros escritos até o momento. Mas o bom é que essa abordagem bem qualquer coisa para as ameaças cheias de dentes, tentáculos e veneno que acontece em Deliverance fica em um confortável segundo plano em relação ao coração da ação, pelo que não é algo que incomode tanto assim.

Hell Divers III: Deliverance é mais um exemplar de literatura de gênero que oferece puramente conforto ao leitor que gostar desse tipo de pancadaria, algo que até vale ser degustado como forma de relaxamento entre obras mais exigentes. O que é inexplicável para mim é como esse material, tão perfeito para ser uma franquia de blockbusters rasos em forma de filme ou série para canais de streaming ainda não foi abocanhado por um deles. Com o arco da “morte e vida de X” encerrado, porém, resta saber como a história continuará, ainda que pistas bastante explícitas sobre isso sejam oferecidas no epílogo do terceiro romance.

Hell Divers III: Deliverance (Idem – EUA, 2017)
Autoria: Nicholas Sansbury Smith
Editora: Blakcstone Publishing
Data original de publicação: 15 de maio de 2019
Páginas: 399

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