Home TVEpisódio Crítica | Harley Quinn: Especial de um Dia dos Namorados Muito Problemático

Crítica | Harley Quinn: Especial de um Dia dos Namorados Muito Problemático

Obsessão caótica.

por Ritter Fan
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Apesar de muito boa, a terceira temporada da série animada Harley Quinn perdeu um pouco daquela qualidade caótica que a segunda temporada havia trabalhado tão bem e que combina perfeitamente com a personagem titular. Talvez para não deixar 2023 passar em branco, a produção tenha decidido soltar um “episódio extra” da série em fevereiro para comemorar o dia dos namorados nos EUA e alguns outros países do mundo, com uma duração maior, de 45 minutos, que faz dele um efetivo “Especial” que pode ser visto tanto como parte da terceira temporada quanto como algo separado, mas temporalmente situado entre as terceira e quarta temporadas (ainda que eu já esteja velho demais para me preocupar com coisas assim).

E o intitulado Especial de um Dia dos Namorados Muito Problemático é um retorno à forma da série, com uma pegada completamente sem freios do roteiro dos showrunners Dean Lorey, Justin Halpern e Patrick Schumacker e uma direção primorosa de Jennifer Coyle e Cecillia Aranovich que extraem todo o potencial do protagonismo de Harley Quinn que, por meio de mais um excelente trabalho de voz de Kaley Cuoco, ganha (muita) vida. A premissa é enganosamente simples: no primeiro Dia dos Namorados de Harley e Hera Venenosa (Lake Bell), Harley faz de tudo para dar à sua namorada a melhor comemoração da vida dela, o que começa com um aparentemente pacato jantar em um restaurante italiano, mas que sensacionalmente degringola para a destruição completa de Gotham City mais uma vez.

O que funciona muito bem no especial é a reunião da obsessão frenética e crescente de Harley em ter certeza de que Hera teve o melhor Dia dos Namorados da vida dela – algo que Harley verifica usando o Laço da Verdade da Mulher-Maravilha (Vanessa Marshall) que ela furta, vale dizer! -, com uma estrutura de entrevistas com variados super-casais desse universo, começando de maneira domada com Superman (James Wolk) e Lois Lane (Natalie Morales), mas chegando até a ponto de vermos Darkseid (Michael Ironside) com Kimberly Guilfoyle (advogada, jornalista e assessora de Donald Trump em sua campanha presidencial) e uma narrativa que usa muito bem Cara de Barro (Alan Tudyk) e Bane (James Adomian) como dois vilões solitários, que não têm ninguém para sair no dia, levando o primeiro, dividido em dois, a ter um relacionamento com ele mesmo, e o segundo com a dominatrix Betty (Casey Wilson) que ele conhece por sorte. É, diria sem medo de errar, uma amálgama tão bizarra, tão enlouquecida e tão improvavelmente bem costurada – tem até Brett Goldstein vivendo ele mesmo como um sex symbol de peito peludo lá pelo final – de elementos aparentemente díspares, mas que se encaixam perfeitamente, que o Especial, sozinho, consegue ser um dos melhores episódios de toda a série até agora, quiçá o melhor.

O crescendo da linha narrativa de Harley e Hera, que envolve um encantamento orgástico vendida por Etrigan (John Stamos) e que é executado de maneira brilhante no especial, levando-o à periferia da pornografia e também às de Cara de Barro e Bane que, claro, acabam convergindo ao final de maneira esperada, mas mesmo assim muito bem construída, abre espaço para um capítulo visualmente arrebatador, que se beneficia desde figurinos especiais para as protagonistas e diversos outros personagens que fazem breves pontas – especialmente sentados no sofá do entrevistador que nunca vemos e que Harley diz que só existe para “enrolar” a duração do especial, em uma piscadela metalinguística -, até uma sequência alongada que é, basicamente, a versão Harley Quinn de um filme de kaiju e isso sem contar com as cenas “pornográficas” que citei, logicamente. Em outras palavras, a produção soltou as rédeas novamente, as mesmas que ela recolheu na temporada anterior para contar uma história mais “comportada” e que nunca é uma boa ideia considerando a premissa básica da série e  o uso sem freios da doidinha Harley Quinn.

Pelo menos para mim, o Especial de um Dia dos Namorados Muito Problemático entrou na grade do Max completamente de surpresa, mas acabou mostrando que a série protagonizada por uma personagem que um dia foi mera coadjuvante do Coringa em Batman – A Série Animada, é, sem dúvida alguma, uma das joias modernas das animações serializadas da DC. Quando o caos reina em um ambiente sem freios e sem regras, Harley Quinn inegável e sensacionalmente prospera em toda sua sandice obsessiva e quem ganha, claro, são os espectadores.

Harley Quinn: Especial de um Dia dos Namorados Muito Problemático (Harley Quinn: A Very Problematic Valentine’s Day Special – EUA, 09 de fevereiro de 2023)
Desenvolvimento: Justin Halpern, Patrick Schumacker, Dean Lorey
Direção: Jennifer Coyle, Cecillia Aranovich
Roteiro: Dean Lorey, Justin Halpern, Patrick Schumacker
Elenco: Kaley Cuoco, Lake Bell, Alan Tudyk, James Adomian, Leila Birch, Quinta Brunson, Chris Diamantopoulos, Rachel Dratch, Brett Goldstein, Josh Helman, Michael Ironside, Vanessa Marshall, Natalie Morales, Matt Oberg, Jim Rash, John Stamos, Talia Tabin, Janet Varney, Tyler James Williams, Casey Wilson, James Wolk
Duração: 45 min.

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