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Crítica | Harley Quinn – 4ª Temporada

Uma deliciosa Gotham City de cabeça para baixo.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leia, aqui, as críticas das demais temporadas. 

Porra! Ficamos fora alguns dias e o pessoal do Snyderverso dominou tudo.
– Venenosa, Hera.

Se tem uma coisa que a trinca de showrunners de Harley Quinn não tem medo algum de fazer é sacudir o status quo de Gotham City, mesmo que, inevitavelmente, acabem retrocedendo alguns passos para “normalizar” a situação. Na quarta temporada da série que já ganhou até um spin-off improvavelmente dedicado ao Homem-Pipa, Justin Halpern, Patrick Schumacker e Dean Lorey nos apresentam à icônica cidade lar do Batman em uma versão completamente enlouquecida e, por isso mesmo, divertidíssima, com Bruce Wayne preso, Alfred cometendo crimes para ser preso junto de seu amo, Coringa prefeito, a personagem titular parte de uma Bat-família gerida por ninguém menos do que Talia al Ghul, que também trata de comandar a Wayne Enterprises, e Hera Venenosa como líder da Legião do Mal, depois de ser empossada pelo sempre traiçoeiro Lex Luthor.

E o melhor de tudo é que a mencionada “normalização” da situação só começa a acontecer quando a temporada já está acabando, mais como uma promessa para a vindoura quinta temporada do que algo que efetivamente mexa com o que vemos ser desenvolvido aqui. Em outras palavras, os roteiros permitem que nós nos acostumemos e aproveitemos dessas novas circunstâncias, com direito a Harley Quinn (Kaley Cuoco) usando um uniforme que funde suas cores com a simbologia do Batman e Hera Venenosa (Lake Bell) tendo que lutar morro acima para firmar-se como uma mulher poderosa em meio à uma sociedade que a vê não mais como alguém muito claramente no lugar errado, exclusivo de homens. Também não há economia em escolhas interessantes e até corajosas, como é deixar Bruce Wayne/Batman (Diedrich Bader) completamente de lado e só fazer uso bem esporádico dos super-heróis fora da Bat-Família e, mesmo assim, apenas Superman (James Wolk), Mulher-Maravilha (Vanessa Marshall) e Flash (Zeno Robinson) e, em determinada altura, criar um whodunnit ao redor do assassinato de ninguém menos do que Asa Noturna (Harvey Guillén).

Com isso, o palco fica mesmo para a vilã/anti-heroína titular de um lado e para sua namorada com poderes vegetais de outro, cada uma com seus problemas e cada uma tentando se entender e galgar os degraus que precisam galgar para chegar aonde querem. O preço que a temporada cobra por isso é uma consequência natural dessa separação prática, claro, pois a dinâmica entre Harley Quinn e Hera Venenosa esfria bastante, com suas histórias passando a ser mais paralelas do que interconectadas, algo que é de certa forma agravado pelo completo desmantelamento da “equipe” original, ainda que os vilões que a formavam continuem aparecendo aqui e ali. Além disso, essas narrativas paralelas acabam gerando subtramas que, de certa maneira, tumultuam um pouco a temporada, como é o caso da presença um pouco perdida de Jim Gordon (Christopher Meloni), agora segurança do quartel-general da Legião do Mal, da trama que tenta focar, mas nem sempre consegue, na Batgirl (Briana Cuoco) e do jogo de diversas peças móveis que Hera Venenosa precisa jogar com Lex Luthor (Giancarlo Esposito), Talia Al Ghul (Aline Elasmar) e outros, além de, é claro, a forma como o Coringa (Alan Tudyk) é esquecido até ele ser um tanto quanto do nada retirado de sua nova vida para retornar ao que ele era.

No entanto, de alguma forma que não consigo explicar muito bem, mesmo com os problemas inerentes a tentar lidar com muita coisa ao mesmo tempo, a temporada consegue dar conta de seus vários deveres de casa e acaba criando, no conjunto, uma narrativa consistente e harmônica que parece plenamente disposta em fazer o que Harley Quinn faz de melhor: o caos. Entre doppelgänger da protagonista, plano de Lex Luthor em sua base na lua para acabar com o Superman que tem como efeito colateral levar o planeta ao apocalipse – ou melhor, ao Snyderverse -, viagem ao futuro para Harley e Hera conhecerem sua filha e, não poderia deixar de citar, um hilário episódio quase todo dedicado a mostrar Bane (James Adomian) aprendendo a fazer massa de macarrão com uma avozinha na Itália, as portas da zoeira são escancaradas mais uma vez e uma nova versão inesquecível de Gotham City – minha preferida em muito tempo – é, então, criada, como disse logo no começo da presente crítica.

E tudo isso sem que a série perca suas qualidades basilares, ou seja, trabalhos de voz sempre de altíssima qualidade, valendo destaque para Kaley Cuoco e Lake Bell, mas também para James Adomian, Alan Tudyk e Giancarlo Esposito, um design bem característico que não pede desculpas por seus bem-vindos exageros e uma qualidade invejável na técnica de animação em si que deveria ser a base para todas as séries animadas da DC. Harley Quinn é como um quadro em branco em que os showrunners têm liberdade de usar e fazer o que bem entenderem e eles impressionantemente não se perdem em seu trabalho de criar um belíssimo caos que diverte, desafia e até mesmo tem espaço para fazer críticas e destilar veneno. Que venha a quinta temporada!

Harley Quinn – 4ª Temporada (EUA, 27 de julho a 14 de setembro de 2023)
Desenvolvimento: Justin Halpern, Patrick Schumacker, Dean Lorey
Direção: Vinton Heuck, Joonki Park, Michael Moloney, Brandon McKinney, Yori Mochizuki, Chad Hurd
Roteiro: Tom Hyndman, Ava Tramer, Sarah Nevada Smith, Jimmy Mosqueda, Jen Chuck, Conner Shin, Alexis Quasarano, Sarah Peters
Elenco: Kaley Cuoco, Lake Bell, Alan Tudyk, Ron Funches, James Adomian, Rachel Dratch, Aline Elasmar, Giancarlo Esposito, Keith Ferguson, Ben Levin, Tony Hale, Diedrich Bader, Krizia Bajos, Briana Cuoco, Harvey Guillén, Tom Hollander, Kerry Knuppe, Sanaa Lathan, Vanessa Marshall, Zeno Robinson, Jeannie Tirado, Jacob Tremblay, James Wolk, Christopher Meloni
Duração: 230 min. (10 episódios)

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