- COM SPOILERS. Acompanhe por aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Diferente do meu colega Iann Jeliel, que escreveu as críticas dos episódios do primeiro ano de Halo, não sou exatamente um grande entusiasta pela temporada de estreia da adaptação do game homônimo. Apesar de ser um fã de carteirinha dos jogos, não tive problema com as diversas adaptações que a produção realizou, diferente da recepção do fandom, mas também não vi nada de muito especial no trabalho dos criadores Kyle Killen e Steven Kane. O ano anterior tem muitos problemas de ritmo, personagens desinteressantes, aquela desastrosa subtrama de Kwan e Soren e, por fim, penso que os showrunners se aproveitaram mal do material de origem em termos de construção de universo. Halo tem uma mitologia muita vasta para ter uma adaptação que, em minha visão, não se destaca muito de outras produções sci-fi genéricas.
Ainda assim, foi uma adaptação corajosa e não foi um trabalho ruim de forma geral, do mesmo jeito que os dois episódios que abrem o segundo ano da série são razoáveis e têm boas ideias. Descobrimos que, após os eventos da season finale, John e Cortana foram cirurgicamente separados, para logo após termos um salto temporal de 6 meses, em que a equipe dos Spartans é enviada para um planeta chamado Sanctuary, com a missão de evacuar a população de um ataque eminente de Covenant. A missão acaba dando errado por conta da resistência de alguns cidadãos e porque John acaba encontrando com um esquadrão de Elites, algo inesperado considerando que não faz sentido invadir um planeta que vai ser destruído.
A partir daí, a narrativa tem como sua linha principal a mudança de estratégia de Covenant, algo que permeia as dúvidas do protagonista, incita conflitos internos na equipe e gera atrito entre John e o novo chefe do programa Spartan, James Ackerson (Joseph Morgan). É uma boa sacada do roteiro abrir a temporada com uma forma de mistério, criando uma drama inquisitivo em que todos duvidam de todos dentro da UNSC, enquanto a audiência fica indagando a razão dos Elites terem invadido o planeta. Isso também encaminha a história para algo mais político, envolvendo a Parangosky, a investigação da ONI, possíveis corrupções internas na UNSC e principalmente qual é a agenda de Ackerson.
Notem, inclusive, que o protagonista é basicamente um informante/espião no segundo capítulo, com sequências que parecem tiradas de um cyberpunk. Isso tudo, claro, é a superfície da narrativa, porque o tutano dramático está mesmo no estresse pós-traumático de diversos personagens. Com a abertura do episódio basicamente descartando as consequências da tomada de controle de Cortana, fiquei com receio do cliffhanger não ter servido para nada, mas os roteiristas exploram com afinco os problemas mentais e emocionais de John, inclusive colocando sua condição como fronte dos atritos entre os personagens, seja Ackerson ou os próprios Spartans, como a desconfiança de Kai.
De forma paralela, vemos o mesmo trabalho dramático com Riz, gradualmente descobrindo como lidar com suas cicatrizes externas e internas, e a jovem Perez, que está lidando com a Culpa do Sobrevivente, em cenas relativamente tocantes e com bons diálogos. Considerando as características militares da produção, faz sentido explorar TEPT e outros distúrbios causados por efeitos da guerra, também em linha com as ideias mais vulneráveis dos criadores, se desviando um pouco do escopo do universo para focar no micro. Percebam, por exemplo, como estou sempre dizendo “John” e não “Master Chief”, porque os traços desse personagem são quase nulos nestes dois episódios.
Todavia, é aqui que reitero minhas críticas do primeiro parágrafo, porque a produção pode fazer um trabalho melhor em equilibrar o macro e o micro, uma vez que temos um desperdício imenso em termos de lore. Em quase duas horas, não vimos quase nada sobre os Halos, Covenant e o universo como um todo, sendo que o ritmo dos episódios fica ruim e de forma tediosa em muitos momentos descartáveis, com destaque negativo para as subtramas de Kwan e Soren, que continuam fazendo hora extra na série.
Não critico nem em termos de ação, até porque continuo gostando da mescla entre game e cinema nos momentos de combate, até com uma melhora nos efeitos especiais nas sequências em Sanctuary e no bloco de treino dos Spartans – tivemos a mudança técnica com Cortana também, que ficou menos estranha aos olhos. Falta mesmo um senso de exploração, de escala, de descobrimento e de missões para conduzir a narrativa para campos mais curiosos e que tenham tensão visual. O drama é de qualidade, mas acho a série chata e muito comum na área da ficção científica.
Talvez, porém, esteja me adiantando demais. Só foram dois episódios que, em grande parte de suas minutagens, focaram em organizar o tabuleiro e indicar para onde a história está seguindo, jogando alguns mistérios interessantes com a estratégia estranha de Covenant, o conflito interno da UNSC com a chegada de Ackerson e as participações intrigantes de Makee e Halsey, que até ganha uns momentos quase surrealistas. Veremos se a temporada toda será um estado de estresse pós-traumático ou se veremos o universo ser explorado de formas mais cativantes e criativas.
Halo – 2X01 e 02: Sanctuary / Sword | EUA, 08 de fevereiro de 2024
Criação: Kyle Killen, Steven Kane
Direção: Debs Paterson
Roteiro: David Wiener (2X01); Ahmadu Garba (2X02)
Elenco: Pablo Schreiber, Shabana Azmi, Natasha Culzac, Bentley Kalu, Kate Kennedy, Charlie Murphy, Danny Sapani, Christina Bennington, Natascha McElhone, Julian Bleach, Karl Johnson, Hilton McRae, Ryan McParland, Gustavo Chiang, Oladapo Oluwatosin Okunlola, Samuel Tamunotoku Gbobo, Caroline Boulton, Claudius Peters, Danielle Fiamanya, Balázs Csémy, Joseph Morgan
Duração: 48 min. cada