- COM SPOILERS. Acompanhe por aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Percebe-se que a Paramount se esforça para não fazer de Halo uma série padronizada. Algumas escolhas narrativas vistas nessa primeira temporada claramente buscaram seguir caminhos não convencionais na trama. Não era esperado que já no segundo episódio, Master Chief (Pablo Schreiber) e Kwan (Yerin Há) se separassem. Tampouco esperava-se que a série decidisse prosseguir com Kwan como uma das personagens principais em uma trama própria, com importância individual dentro da série. Muito menos que essa trama seria resolvida de maneira tão rápida, bem antes do final da temporada, agora em Inheritance.
Por mais que seja surpreendente a quantidade de avanço prático desta narrativa, seus fins cobram um preço. Deixam um questionamento existencial. Afinal, por que investimos tanto tempo para acompanhar essa história? A resposta acaba sendo inevitavelmente “convencional”. Por consequência, nos perguntamos o motivo de a série ter escolhido caminhos tão diferentes para chegar teoricamente num lugar esperado. Isto pode ser indagado por si só, dentro do capítulo, que se inicia distante da continuidade que se esperava na sequência do núcleo. Nos deparamos com Kwan já portando um veículo passeando no deserto, semelhante a Mad Max: Estrada da Fúria, à procura do povo misterioso com quem seu pai se envolveu – pouco tempo depois, encontrando-os e sendo sequestrada por eles. No outro eixo narrativo, vemos que Soren (Bokeem Woodbine) não foi morto pela garota e que de algum modo conseguiu voltar para sua casa e família na comunidade localizada entre os asteroides.
A separação dos dois personagens dentro desse salto temporal de eventos foi outra das escolhas inesperadas do caminho na narrativa. Imaginava que, assim como elas, o intuito seria expandir o universo de tramas para importâncias particulares. Quando no início de Inheritance vemos uma tensão entre Soren e seu parceiro Squirrel (Gábor Nagypál) – que desconfia das falsas histórias heroicas contadas pelo pirata durante uma festa – sendo trabalhada, e a possível criação de um novo núcleo a ser principal na temporada, protagonizada pelo ex-espartano e pirata com o seu grupo. No entanto, nenhuma sub-trama maior e mais específica é realmente criada e Soren volta arbitrariamente para o núcleo de Madrigal para resgatar Kwan. No processo, ainda ajuda a resolver o problema da ditadura Vinsher (Burn Gorman) sem grandes dificuldades. Ora, mas então por que o roteiro o fez sair de Madrigal em primeiro lugar? Só faz confusão mental quanto à temporalidade da série na cabeça do público.
Quanto tempo durou para ele conseguir sair de Madrigal, chegar à sua comunidade e ainda voltar convenientemente para Madrigal no exato momento em que Kwan precisava dele? Porque simplesmente não os deixaram juntos conhecer aquelas bruxas do deserto? Aliás, não fica claro qual é exatamente o propósito e especialidade ligados a Kwan com a sua família nesta sequência. A líder lhe oferece uma bebida que a faz alucinar com Master Chief, precisando enfrentá-lo para descobrir o seu destino, morrendo várias vezes e voltando para o mesmo lugar, ao estilo Feitiço do Tempo. Me perguntei durante a bizarra sequência o porquê de ser o Master Chief na visão e mesmo depois revelando implicitamente que esse destino da personagem era ajudá-lo em sua jornada, ficou muito em aberto qual seria a relação do seu pai com isso tudo. Lembremos que Kwan só foi de encontro a esses povos do deserto por esse questionamento acerca de seu pai e a explicação dada não tem conexões aparentes com ele, muito porque é um personagem que não conhecemos.
Morreu no piloto para ser um gatilho dramático para a jornada de Kwan e agora apareceu duas vezes, uma em flashback para mostrar que não tinha uma relação tão saudável com a filha e a outra em forma mística para falar para ela sua função como “protetora” (sidekick) dos “especiais” como Chief. Dá para intuir ao mexer com um aspecto mais místico da mitologia da série, que o personagem tinha uma conexão com Halo e possivelmente o portal mencionado era para lá, mas isso ficou totalmente vago e sem desenvolvimento. Kwan é aconselhada pelas suas visões a voltar para “o lugar onde tudo começou”, no caso, aquele posto avançado que ocorreu o massacre Covenant contra a rebelião. Por algum motivo, a UNCS, passado todo esse tempo, ainda não tinha feito uma limpa no local e os corpos com armas alienígenas espalhadas permitiram que Kwan e Soren cuidassem sozinhos de Visher e seus capangas, numa cena de ação divertidamente gamificada, mas desapontante como conclusão precoce de um arco que parecia que iria durar bem mais,.
Fica o sentimento disso tudo ter sido um grande filler mesmo. Afinal, Kwan estava presente quando Chief, no segundo episódio, confrontou aquele personagem misterioso (Reth) que aparece aqui nas visões da menina. Por que Reth (Johann Myers) na ocasião não simplesmente jogou a informação de que a personagem era para continuar ao lado de Master Chief? Pois não houve resistência para rebater o fato dela não estar pronta para a tarefa – ela só diz que está e isso é aceito facilmente. Poupar-nos-ia de muita enrolação. A conexão distante do núcleo de Madrigal com a história principal o deixou como uma prerrogativa desnecessária e injustificada, já que Kwan e Soren não tiveram exatamente uma evolução dentro dele e o universo da franquia não foi explorado em termos de expansão.
Inheritance nem é um episódio ruim em termos de execução, mas amontoa digressões geradas por decisões precipitadas dos criadores nessa tentativa de seguir caminhos alternativos na contação da história sem uma justificativa forte como sustentáculo.
Halo – 1X07: Inheritance | EUA, 5 de Maio de 2022
Criação: Kyle Killen, Steven Kane
Direção: Jessica Lowrey
Roteiro: Steven Kane
Elenco: Pablo Schreiber, Yerin Ha, Bokeem Woodbine, Burn Gorman, Fiona O’Shaughnessy, Johann Myers, Jeong-hwan Kong, Felipe Gabriel Mariano, Nila Aalia, Yuna Shin, Martin Fisher, J Sebastian Lee, Ian Pirie, Sky Yang, Péter Jankovics, Nóra Trokán, Gábor Nagypál, Anna Trokán, Tylan Bailey, Josette Simon, Máté Bede-Fazekas, Joshua Jo
Duração: 48 min.