- Crítica sem spoilers. Acompanhe por aqui, as críticas dos demais episódios da série.
O universo de Halo é um dos mais ricos da história dos games. Tão rico que fazer apenas um longa-metragem parece ser pouco para explorá-lo em sua plenitude. Além de ser arriscado, diante o histórico de adaptações mal sucedidas dos games para a tela em live-action, seria um projeto sem nenhuma garantia. Desse modo, considerando a igualdade do escopo de um jogo para o escopo de uma série, levar Halo para o cenário televisivo dos streamings pareceu ser a escolha mais acertada mesmo. Não só para o proveito maior do material da franquia, mas principalmente para a facilitação de um processo adaptativo de uma mídia para outra. Desse modo, assim como na primeira hora de qualquer jogo, o piloto intitulado Contact visa imergir o público na mitologia desse universo através da ação, carisma visual de seus personagens e premissas que justificam ao público uma continuidade no investir da trama.
Creio que toda a sequência inicial antes da abertura cumpriu muito bem esse papel. Ao estabelecer falsos protagonistas e um básico drama familiar de paternidade, a sequência do massacre dos Covenants consegue ser suficientemente impactante ao imergir o público na história, destacando o nível de periculosidade dos alienígenas e, consequentemente, enaltecendo a capacidade dos verdadeiros personagens principais, em especial, Master Chief (Pablo Schreiber). A ação é muito bem coordenada, com um CGI caprichado e direção habilidosa de Otto Bathurst para as trocas de planos abertos com planos em primeira pessoa que parecem ser transições de cutscenes e gameplays diretamente tiradas do jogo. Fora um senso de violência gráfica surpreendentemente visceral.
Gosto demais de como o roteiro, ainda nessa sequência, estabelece a ambivalência do teor político desse universo, ao colocar esses falsos protagonistas sendo salvos pelos Spartanos que mais cedo descreviam como membros de uma organização (UNSC: Comando Espacial das Nações Unidas) moralmente duvidosa, desconfiada pela humanidade espalhada pela galáxia. Ora, que então já se estipulasse um caráter dúbio no “bom-mocismo” antes mesmo dele ser estabelecido, forçando o texto a explorar essas arestas rapidamente enquanto introduz a organização junto a novos personagens, mistérios e dinâmicas para serem desenvolvidas ao longo da temporada. Parece atropelado falando assim, mas não soa jogado ou fragmentado. Contact é bem organizado e hábil nas progressões, ainda com caráter introdutório a ser repartido em cortes procedurais para o futuro.
Há muito potencial para a frente, mas também há elementos precisos do presente. O mais destacado, é a personagem Kwan (Yerin Há), a única sobrevivente do massacre em Madrigal e criação original da série. Ela é o famoso fio condutor do público, ao desconhecer as regras daquele universo, tal como nós, e ter sofrido todo o impacto dramático causado pela cena inicial que nos chamou a atenção. A atriz é carismática e a personagem muito bem posicionada (ao que tudo indica) para ser esse “aprendiz”/pupila de Master Chief (onde um alavancará o outro) em sua jornada para descobrir os pormenores dos podres do sistema ao qual está integrado. Inevitavelmente, o carisma silencioso de Chief lembra bastante algo visto em Mando, de The Mandalorian, e os próprios elementos visuais do design de produção e ambientação vistas no episódio remetem a outras ficções científicas, deixando um aspecto derivado no produto.
Como mencionei, acredito que a intenção do piloto estava mais em mostrar possibilidades do que detalhar ou desenvolver algo, propriamente. Resta saber se depois desse início intenso e chamativo, a série vai pausar e desenvolver as portas abertas ou se isso é consequência dela partindo de um pressuposto de agrado somente a quem já está habituado com a franquia. O sentimento ao final de Contact é da primeira opção, como parte de um planejamento bem encaminhado, afinal, a segunda temporada já foi confirmada antes da estreia desta primeira, ou seja, os realizadores estão confiantes no plano e dou para eles esse voto de confiança.
Halo – 1X01: Contact | EUA, 24 de Março de 2022
Criação: Kyle Killen, Steven Kane
Direção: Otto Bathurst
Roteiro: Kyle Killen, Steven Kane
Elenco: Pablo Schreiber, Shabana Azmi, Natasha Culzac, Olive Gray, Yerin Ha, Bentley Kalu, Kate Kennedy, Charlie Murphy, Danny Sapani, Jen Taylor, Bokeem Woodbine, Natascha McElhone, Jamie Beamish, Burn Gorman, Julian Bleach, Ryan McParland, Jeong-hwan Kong, Sky Yang, Ian Pirie, Nneka Okoye, Shaun Aylward, Hayley Canham, Zachary Hing, Olivia Liu, Miklós Béres
Duração: 58 min.