Quando Halloween 5 – A Vingança de Michael Myers chegou aos cinemas em 1989, o subgênero slasher estava em decadência. É uma fase que chamo de Slasher Tardio, com algumas novidades interessantes, mas no geral, um sistema de produção marcado pelo ressurgimento de monstros já exauridos ao longo das duas últimas décadas. Sexta-Feira 13 já tinha ultrapassado todos os limites, com o último filme até então situado em plena Nova Iorque, jornada que rendeu algumas das piores críticas para a franquia de Jason. Freddy Krueger caminhavam para os excessos e o subgênero demonstrava falência múltipla: sustos clichês, personagens estereotipados, mortes em fila que não surpreendiam mais ninguém e trilhas sonoras repetitivas, mixagem do que outrora foi até relevante. Mesmo assim, os produtores resolveram investir em mais um episódio (frívolo) para a saga do malvado Michael Myers. Há um paralelo, proposital ou não, com Sexta-Feira 13 Parte 4. No final do filme anterior, Jamie ataca a tia e a última cena é a garota com uma tesoura ensanguentada nas mãos. Esse desfecho lembra a câmera em primeiro plano, focada no rosto de Tommy, personagem (também uma criança) sobrevivente da terceira continuação da saga do imortal Jason.
Os produtores, no entanto, decidiram que não queriam Jamie como uma assassina. O interesse era ressuscitar mais uma vez o tio da menina, em “retiro” com um mendigo nas imediações do local onde foi massacrado no encerramento da jornada anterior. Michael Myers decide retornar para atacar a sobrinha e as pessoas que estão ao seu redor no ano seguinte, exatamente no dia 31 de outubro. Jamie agora demonstra ter uma ligação telepática e continua a ter pesadelos com o tio psicopata. Ela sente a proximidade do mal e torna-se, mais uma vez, vítima da perseguição insana promovida pelo psicopata, observada com angústia pelo Dr. Loomis (Donald Pleasence), um homem obcecado por Michael Myers, interessado em entender os motivos que elevam esta figura ao status de imortalidade. Instável, a quinta parte da franquia criada por John Carpenter em 1978 é uma produção recheada de problemas dramáticos e estéticos. Um dos recursos narrativos mais irritantes nesta continuação é o trabalho de iluminação, assinado pela direção de fotografia de Robert Draper, absurdamente escura em alguns trechos, além de ineficiente na construção de planos que prometem o estabelecimento de uma atmosfera, mas ficam apenas na pretensão. Muitas cenas são muito escuras, prejudiciais para os trechos que contém perseguições que infelizmente não alcançam uma dinâmica no mínimo magnética para o espectador já inserido no testemunho de uma história sem elementos interessantes.
Outra coisa é a trilha sonora de Alan Howarth, um desastre retumbante, melhor analisado no texto Na Trilha de Michael Myers: A Música de Halloween. Sem a possibilidade de expandir, a composição só cria algum interesse quando emula o tema principal de John Carpenter. De resto, muito ruído por nada. No que diz respeito aos desempenhos dramáticos, a jovem Danielle Harris se esforça na construção do personagem que é perseguida pelo tio assassino, mas a sua performance é ofuscada pela falta de competência dos envolvidos na direção, na montagem e no roteiro do filme. Os gritos em excesso também podem ser percebidos como um problema, pois mesmo que haja interesse em manter um clima de pavor constante, principalmente por ser uma criança a final girl da narrativa, o excesso deixa qualquer um irritado diante de tanta gritaria. São quase 30 minutos de berros constantes e ferrões musicais para reforçar a atmosfera “assustadora”. No design de produção, Brenton Swift consegue criar alguns espaços decadentes para representar a presença de um “monstro” que mescla características sobrenaturais e realistas em plena zona urbana. A casa dos Myers é um exemplo bem-sucedido do trabalho deste setor, prejudicado pela mencionada falha na direção de fotografia demasiadamente escura.
Nos destaques, há uma cena bastante curiosa. Michael Myers é preso, pasmem! Os vilões de filmes deste estilo geralmente são amarrados, jogados em um lago, explodidos, detonados, mas, nesta quarta continuação da série, o vilão é preso, próximo aos momentos finais, mas, como já é de se esperar, consegue escapar e garantir mais uma fila de cadáveres para o próximo episódio, além de contratos financeiros rentáveis para os envolvidos na produção. Para a nossa surpresa, no entanto, o “inimigo sem rosto” na verdade não fugiu, mas foi capturado por uma ordem que no filme seguinte, explicará de maneira ainda mais desastrosa como o pequeno garoto de Haddonfield se tornou um maníaco sedento por assassinatos. É um retorno para 1995, chamado Halloween 6 – A Última Vingança, retaliação que sabemos bem, não foi a última. Para não dizer que Halloween 5 é puro desastre, algumas cenas de morte são apresentadas com humor, um casal debate sobre preservativo antes de iniciar a relação sexual, algo incomum no slasher, geralmente com demonstrações nada responsáveis por parte destes jovens e no fim, o representante da tal ordem/seita que expandirá o universo da franquia surge de maneira enigmática numa construção visual que lembra a chegada do padre na casa da menina possuída em O Exorcista.
Halloween 5 – A Vingança de Michael Myers (Halloween 5 – The Revenge of Michael Myers, EUA – 1989)
Direção: Dominique Othenin-Girard
Roteiro: Michael Jacobs, Shem Bitterman, Dominique Othenin-Girard
Elenco: Ellie Cornell, Donald Pleasence, Danielle Harris, Wendy Kaplan, Tamara Glynn, Matthew Walker, Troy Evans, Jonathan Chapin
Duração: 96 min.