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Crítica | Guerra Sem Regras

A meia dúzia de bastardos inglórios condenados.

por Kevin Rick
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Depois de tantas décadas, é surpreendente como Hollywood continua desenterrando histórias e missões da 2ª Guerra Mundial para adaptar em blockbusters. A produção da vez é Guerra Sem Regras, encabeçada por Guy Ritchie, cineasta conhecido por suas obras de ação e comédia, que, aqui, retrata uma versão ficcionalizada da Operação Postmaster, em que Winston Churchill (Rory Kinnear) monta um grupo secreto liderado por um soldado condenado chamado Gus March-Phillipps (Henry Cavill) para sabotar os planos nazistas. Claramente inspirado em Os Doze Condenados e em Bastardos Inglórios, Ritchie tenta criar um filme violento e comicamente ácido sobre uma unidade de soldados sórdidos enfrentando inimigos ainda piores.

Confesso que amo esse tipo de premissa, porque ver nazistas explodindo, sendo degolados e baleados é uma das mais belas experiências que o cinema pode proporcionar. Nesse sentido, essa não é uma produção política para além de ser uma história anti-nazista, com situações governamentais aparecendo apenas para mover a trama. Assim, a aparição de Churchill e outros personagens burocratas são esparsas, mas é interessante o tom quase satírico que Ritchie trabalha alguns desses momentos, sempre com uma total falta de seriedade e algumas referências divertidas, como a participação de Ian Fleming (criador de James Bond).

Diferente dos clássicos que citei no primeiro parágrafo, substância não é o forte de Guerra Sem Regras, priorizando bom humor e carisma como tom da produção, razão pela qual o dramaticamente limitado, mas sempre simpático Henry Cavill é uma escolha apropriada para liderar o elenco agradável composto por Alan Ritchson, Alex Pettyfer, Eiza González, Babs Olusanmokun e Henry Golding, todos com interpretações caricatas e de certa forma até canastronas. O roteiro tem dificuldade em trazer personalidade e em desenvolver as dinâmicas entre o grupo para além de algo que é superficialmente divertido ao longo da produção, então tudo acaba sendo esquecível, mas é inegável que o elenco entretém.

O melhor aspecto da produção é justamente o sarcasmo britânico, bem típico de outras obras do Guy Ritchie. O cineasta envolve o frenesi sempre com momentos hilários, seja algo mais ácido com a violência, seja algo mais irônico, sempre com comentários espertinhos do grupo principal, em destaque Cavill. É uma pena, porém, como a estrutura narrativa é cansativa à medida que a missão prossegue, principalmente na metade do filme, em que a trama estagna em momentos de exposição e de um tom de espionagem muito fraco. A falta de tensão é algo particularmente negativo durante a infiltração da equipe, com o plano ficando cada vez mais bobo, mais chato e menos excitante, até por conta da falta de um bom vilão. Til Schweiger, de Bastardos Inglórios, até tenta ser um antagonista expressivo, mas o texto lhe dá pouco com o que trabalhar.

Em outros filmes de crime e guerra, Ritchie lida melhor com suas limitações dramáticas e de falta de suspense com uma montagem frenética, indo e vindo entre diversos núcleos muito divertidos, como é o caso do recente Magnatas do Crime. Aqui, porém, Ritchie fixa bastante em uma única trama, intercalando ação e comédia com muitos momentos tediosos. Para além de uma produção de diversão superficial, Guerra Sem Regras sofre não apenas por ser vazio, mas por ser um tanto quanto moroso em vários momentos. Ainda assim, a experiência entretém em momentos esparsos por conta do elenco, do tom sarcástico característico de Ritchie e de algumas sequências de ação divertidas, que se beneficiam do velho e ainda excelente bombardeamento de nazistas.

Guerra Sem Regras (The Ministry of Ungentlemanly Warfare – EUA, 2024)
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: Paul Tamasy, Eric Johnson, Arash Amel, Guy Ritchie (baseado em livro de Damien Lewis)
Elenco: Henry Cavill, Alan Ritchson, Alex Pettyfer, Eiza González, Babs Olusanmokun, Cary Elwes, Hero Fiennes Tiffin, Henry Golding, Rory Kinnear, Til Schweiger, Freddie Fox, Henrique Zaga, Danny Sapani
Duração: 120 min.

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