Esqueçam por um momento a meia estrela que vocês vêem logo acima.
Imaginem, primeiro, eu entrando em minha livraria preferida e me deparando com o belo encadernado da LeYa (Casa da Palavra), com o nome de George R.R. Martin estampado em letras garrafais na capa e com a imagem de Ned Stark entristecido, limpando sua espada, com as árvores ancestrais logo atrás. Peguei o volume em minhas mãos e logo senti o peso e qualidade das páginas. Tinha certeza que seria uma aquisição magnífica para minha coleção.
Com essa excitação toda, minha nota naquele momento era:
Não demorou muito e comecei a ler. As palavras eram fieis à obra original, assim como as imagens. O caminhar era dificultoso, pela lentidão que as coisas se moviam. Mas eu havia lido o primeiro livro e sabia que A Guerra dos Tronos exigia paciência em seu começo. Assim, fui lentamente avançando, na certeza de que a história iria achar seu ritmo e se desgarraria do material fonte. No entanto, o que vi, na medida em que as páginas se passavam, é que a subserviência ao livro era tremenda, daquelas para agradar qualquer fã de Martin que ficou desesperado ao notar, na série de TV, que Tyrion tinha cabelo em tom diferente do livro (O horror! O horror!). Pela incapacidade de Daniel Abraham entender que uma adaptação significa, necessariamente, em modificações ao meio em que se deseja transpor a obra, minha paciência começou a acabar.
Mas sou benevolente como Ned Stark e não havia perdido minha cabeça ainda. A nota naquele momento era:
Perseverei. Tentei me distrair reparando na arte de Tommy Patterson. E cada vez que eu reparava mais, mais eu ficava incomodado. Afinal de contas, uma série de livros tão ousada, que gerou uma série de TV igualmente ousada (ou mais), deveria, no mínimo, ter quadros magníficos, explorando fluidez, splash pages e outras técnicas. Mas não. O trabalho de sucessão de quadros de Patterson é burocrática, pouco imaginativa, chata mesmo. Nota no momento em que percebi isso:
E o pior foi quando, ainda no quesito arte, comecei a notar que todos os rostos eram iguais. Se tem uma coisa que não costumo perdoar é a preguiça do artista. E essa preguiça costuma ficar evidente com os rostos. Cersei se parece com Ned, que, por sua vez, se parece com Robert. Só faltava Kahl Drogo também se parecer com Ned. Mas pera… Eles se parecem sim… Há até duas páginas, na introdução, desenhadas por Alex Ross, mas convenhamos que, por mais sensacional que seja a arte dele, duas páginas em um encadernado de 240 não é nada. Nota nesse momento de realização:
Mas a história (se quiserem uma sinopse, leiam a crítica do livro, por favor) continuava se arrastando, com diálogos integralmente trazidos da obra original, sem adaptações, reduções ou alterações de passo. Ler se transformou em tortura e, apesar das 200 páginas de história (as últimas 40 são formadas por material extra, como artes inacabadas e comentários dos autores), a narrativa vai apenas até o momento em que Daenerys descobre que está grávida de Khal Drogo. Só isso. 200 páginas para nem arranhar a superfície do primeiro livro! Não teve jeito e minha nota caiu para:
E ela ia ficar por aí mesmo. Afinal, é um encadernado bonito, vistoso, que fica bem em qualquer estante. Uma estrela estava de bom tamanho.
Até que me lembrei que, no meu afã irracional, havia comprado os DOIS volumes lançados até agora…
A Guerra dos Tronos – Vol. 1 (A Game of Thrones: The Graphic Novel – Vol. 1, EUA)
Roteiro: Daniel Abraham (baseado em obra de George R.R. Martin)
Arte: Tommy Patterson
Editora nos EUA: Bantam
Editora no Brasil: LeYa (Casa da Palavra)
Lançamento: março de 2012 (nos EUA) e 2013 (no Brasil)
Páginas: 240