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Crítica | Gran Turismo: De Jogador a Corredor

Guarde o champagne para o pódio.

por Kevin Rick
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Confesso que recebi com ceticismo o anúncio da adaptação cinematográfica de Gran Turismo. Já sabemos que a transposição de games para as telonas não é exatamente conhecida por seus sucessos, mesmo em franquias de fantasia, horror, aventura e ação que, em tese, têm todos os elementos necessários para funcionarem na Sétima Arte, então quem dirá a adaptação de uma série de jogos que têm como intenção a simulação mais realista possível de corridas automobilísticas. Uma experiência pouco narrativa que é baseada em emular a física de dirigir, detalhes de carros, estudar fabricantes de automóveis e se frustrar com a dificuldade do jogo ao ponto de correr para o Midnight Club ou Burnout para se divertir não é exatamente material de blockbuster, mas logo no início do longa temos uma reviravolta: o filme é baseado em uma história real.

Em síntese, acompanhamos a história de Jann Mardenborough (Archie Madekwe), um jogador de Gran Turismo que recebe a oportunidade de se tornar atleta após Danny Moore (Orlando Bloom) criar uma competição na qual os melhores jogadores treinarão para se tornarem verdadeiros pilotos da equipe Nissan, com a ajuda do engenheiro veterano Jack Salter (David Harbour) como treinador e supervisor do projeto. Talvez seja ignorância minha, mas não tinha ideia de que existe um programa que oferece a oportunidade para gamers do Gran Turismo se tornarem pilotos profissionais, algo que dá um tom mais de filme de esporte do que adaptação de videogame à obra, ainda que o cineasta Neill Blomkamp faça um esforço formal para mesclar ambas as mídias.

O roteiro de Jason Hall e Zach Baylin é extremamente básico e derivativo de qualquer drama esportista que a audiência já tenha assistido, até porque também não tenta extrapolar o lado ordinário da história real. Nosso protagonista é um azarão com um sonho impossível, uma oportunidade única, passando por obstáculos profissionais e emocionais, empecilhos de classe vs a riqueza do esporte, rejeição de colegas e familiares até chegar em seu destino. Inclusive, o personagem até tem uma mocinha para conquistar na história. Conhecemos cada curva narrativa e cada linha de chegada dramática, o que limita o valor e o potencial da produção, mas a obra é honesta em seus clichês e consegue emocionar sem ser apelativa, muito por conta de seu elenco carismático, com destaque para David Harbour.

A narrativa tem uma divisão de atos por “conquistas”, dando uma característica de fases de videogame para o filme, num desenvolvimento acelerado no desenrolar dos eventos. Primeiro vemos Jann entrando na competição, passando pela academia, ganhando sua licença, começando sua carreira profissional e por aí vai, sem muito tempo para respiros ou cadência entre blocos. Mas a obra de forma geral consegue nos fazer torcer pelo protagonista em cada triunfo e adversidade, no que é uma experiência bem interessada em agradar multidões que se apaixonam facilmente por tramas de superação no esporte, até ensaiando algumas representações do universo gamer nas interações entre os personagens, o certo preconceito de quem olha de fora e algumas homenagens ao material de origem, principalmente para o criador Kazunori Yamauchi (Takehiro Hira).

Claro que isso é feito com intuito principal de reforçar o lado comercial e marketeiro que a produção apresenta em seus diversos merchandisings e visão atenuada do capitalismo e corporativismo selvagem retratados na simpatia de Bloom, tudo para vender o próximo Gran Turismo e enaltecer a PlayStation, a Nissan e afins, mas até no discurso comercial o filme é franco com sua audiência. Sabemos que muita coisa aqui é publicidade, mas tem emoção e diversão o bastante para consumirmos, sem falar de que a história real perfura a ficção para nos fazer acreditar na história de Cinderela de Jann.

A “venda” de Gran Turismo: De Jogador a Corredor funciona em grande parte por conta da direção atraente de Neill Blomkamp. Nas cenas que o protagonista está jogando, o cineasta visualiza a simulação de corrida com carros de computação gráfica transparentes que envolvem o personagem, enquanto as sequências das pistas dançam entre a autenticidade da corrida e a linguagem visual de gameplays. Também existe um esforço notável da montagem para criar tensão e movimentação entre rostos dos pilotos, detalhes dos carros e visões aéreas da pista. Em muitos momentos senti que faltou o cinema prático e analógico que diretores como James Mangold, Joseph Kosinski e Christopher McQuarrie trariam para esse tipo de trabalho visual, mas Blomkamp faz um trabalho genuinamente eufórico de acompanhar.

Gran Turismo: De Jogador a Corredor é seu familiar filme de esporte envolto pelas características de games, trazendo ao público uma experiência convencionalmente simpática de acompanhar enquanto torcemos para Jann chegar ao pódio. Você pode chamar o filme de genérico, de propaganda descarada ou de mais uma cinebiografia esquecível, e acho que todas as descrições estão certas, mas bem trabalhadas dentro de uma produção honesta e genuína sobre suas limitações e objetivos narrativos. Não é um filme que irá mudar o paradigma das adaptações de videogames, mas é difícil não ficar na torcida por Jann e não abrir um sorrisão quando a história real traz um final de conto de fadas para um universo sobre simulação realista de corridas.

Gran Turismo: De Jogador a Corredor (Gran Turismo) – EUA, 24 de agosto de 2023
Diretor: Neill Blomkamp
Roteiro: Jason Hall, Zach Baylin
Elenco: David Harbour, Orlando Bloom, Archie Madekwe, Darren Barnet, Geri Halliwell Horner, Djimon Hounsou, Takehiro Hira
Duração: 134 min.

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