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Crítica | Grace and Frankie – 7ª Temporada

Hora de dizer tchau aos charmosos velhinhos do Netflix!

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores. 

E eis que a série original do Netflix mais longeva (em número total de episódios, com o de temporadas empatando com Orange is the New Black) finalmente chega a seu fim com uma temporada alongada, com 16 no lugar dos usuais 13 episódios, e que, como muitas outras atrasou em razão da pandemia e que, por isso, teve seus quatro primeiros episódios lançados vários meses antes do restante, como um tira-gosto. Mais bacana do que é isso é notar que as duas série têm elencos de minorias normalmente marginalizadas na televisão, com OITNB quase que exclusivamente formada de mulheres das mais diferentes etnias e orientações sexuais e Grace and Frankie tendo o “tetra-protagonismo” dividido entre atores veteraníssimos de terceira idade.

A sétima e última temporada, portanto, carrega aquele inevitável e mais do que esperado gostinho de despedida, encerrando sem pressa linhas narrativas relevantes, talvez principalmente a da prisão de Nick Skolka (Peter Gallagher), marido de Grace, que serviu de cliffhanger na temporada anterior, mas também abordando o vaso sanitário “elevador” criado por Grace (Jane Fonda) e Frankie (Lily Tomlin), o casamento de Coyote (Ethan Embry), os relacionamentos complicados de Brianna (June Diane Raphael) com sua irmã Mallory (Brooklyn Decker) e com seu noivo eterno Barry (Peter Cambor) e as dúvidas profissionais de Bud (Baron Vaughn). Em termos de novas linhas narrativas, a temporada volta a investir na mortalidade e falibilidade dos protagonistas idosos, mais especificamente de Frankie cuja vidente pessoal diz categoricamente que ela morrerá em três meses e de Robert (Martin Sheen), que começa a perder a memória, recusando-se a aceitar o fato e, claro, preocupando Sol (Sam Waterson) tremendamente.

Como é costumeiro na série, grande parte dos assuntos ganha bom equilíbrio entre núcleos, abrindo espaço para que o elenco todo brilhe de maneira razoavelmente uniforme, sem deixar, claro, que Grace e Frankie mantenham-se no patamar mais alto do protagonismo, com direito, no caso de Grace, de uma mudança de visual, com Jane Fond exibindo seus cabelos brancos. Por outro lado, percebe-se algumas tentativas artificiais de protrair a temporada no tempo, como toda a história do contrabando de remédios do México para San Diego por Grace e Frankie, com direito a cruzamento de fronteiro, fuga de autoridades, destruição do casamento do farmacêutico, troca de carros e assim por diante. Da mesma forma, a presença constante de Joan-Margaret (Millicent Martin, sempre engraçada) como a “terceira velhinha” ali na casa de praia de Grace and Frankie não paga muitos dividendos apesar do esforço da atriz, também parecendo uma maneira de criar situações razoavelmente artificiais para empurrar a temporada para seus 16 episódios.

A própria história da previsão da morte de Frankie me pareceu desnecessária, já que a mortalidade de todos os idosos na série sempre foi um elemento constantemente abordado na série desde seu começo, fazendo parte de seu DNA por razões óbvias. Claro que a situação gera situações engraçadas e constrangedoras, como o funeral em vida que Frankie organiza para ela mesma e é claro que é uma delícia ver Tomlin daquele seu jeito louquinho fazer e falar as maiores barbaridades como se fossem as coisas mais comuns do mundo, deixando a sempre tensa Grace constantemente horrorizada. No entanto, no frigir dos ovos, esse não foi talvez o melhor gatilho narrativo para trazer esse assunto para o centro do palco.

Por seu turno, a história da perda de memória de Robert, por sua própria natureza, ganha contornos melancólicos, com Sheen e Waterson simplesmente arrasando em suas cenas. No entanto, essa é a linha narrativa menos desenvolvida na temporada, definitivamente ficando para o segundo plano, ainda que recrudesça mais para o final e tenha um encerramento muito bonito. É bem verdade que havia mesmo muito o que falar, mas os focos talvez exagerados na dissolução do casamento de Grace e Nick e a viagem ao México tenham contribuído para que o melhor casal gay da terceira idade da televisão ficasse por tempo demais em banho maria, sem que a temporada se arriscasse a lidar com a “feiura” que essa situação pode gerar.

Mas Marta Kauffman e Howard J. Morris, ao longo das sete temporadas de muita diversão geriátrica, nunca deixaram Grace and Frankie falhar de verdade, mesmo que, por vezes, tenham permitido que uma temporada menos interessante do que sua própria média fosse ao ar. Esse é o caso do encerramento, pois, provavelmente em razão do clima de despedida e da adição de três episódios extras (que, vamos combinar, só existem para que a série ganhasse o troféu de maior número de episódios do serviço de streaming, pois, do contrário, empataria com OITNB), a temporada perdeu o fôlego antes de cruzar a linha de chegada. Não é nem de longe um problema, pois o legado é mais do que sólido e todo o elenco, com destaque, claro, para Fonda, Tomlin, Sheen e Waterson, estão mais do que de parabéns por esse tour de force cômico e inesquecível.

Grace and Frankie – 7ª Temporada (Idem, EUA – 13 de agosto de 2021 / 29 de abril de 2022)
Showrunners: Marta Kauffman, Howard J. Morris
Direção: Marta Kauffman, Alex Hardcastle, Gail Lerner, David Warren, Betty Thomas, Gail Mancuso, Molly McGlynn, Todd Holland, Kelly Park, Ken Whittingham, Rebecca Asher
Roteiro: Marta Kauffman, Howard J. Morris, Julie Durk, Barry Safchik, Michael Platt, Ben Siskin, Elena Crevello, Alex Kavallierou, Brendan McCarthy, David Budin, Alex Burnett, Alex Levy, Pete Swanson, Brooke Wied, James Newmyer
Elenco: Jane Fonda, Lily Tomlin, Sam Waterston, Martin Sheen, Brooklyn Decker, Ethan Embry, June Diane Raphael, Baron Vaughn, Millicent Martin, Peter Cambor, Tim Bagley, Michael Charles Roman, Brittany Ishibashi, Michael McKean, Lindsey Kraft, Peter Gallagher, Christine Woods, Niccole Thurman
Duração: 402 min. (16 episódios)

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