- Contém spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores.
Pena Dura é a primeira aparição de Eduardo Dorrance (Shane West), ninguém menos que Bane, em Gotham. Mas o capítulo, sem qualquer cerimônia, posiciona o personagem já na primeira sequência do enredo, em que Gordon (Ben McKenzie) vai atrás do vendedor de RPG, arma usada no assassinato de centenas no Haven. O viés interessante inerente a essa sobriedade é que não existe um senso de ameaça rodeando Eduardo em suas primeiras interações com Gordon. Ao mesmo tempo, a revelação de um passado comum aos dois ajuda a criar esse conforto. A segurança, porém, é igualmente problemática. O episódio quer resolver certas coisas rápido demais, como a própria introdução de Dorrance, que entrega a interferência do roteiro na questão.
Quando os segredos são expostos, em última instância, pouco impactam. Ao menos os relacionados a presença de Eduardo em Gotham. Mesmo assim, o que Pena Dura consegue criar é um cenário ainda mais caótico para os personagens. Até Jeremiah (Cameron Monaghan) mostra estar vivo, justamente no último segundo da narrativa, como a cereja do bolo de caos proposto. Mas a pressa é tão evidente que Bruce (David Mazouz), por exemplo, não avisa ninguém da morte do palhaço, coisa que seria de extremo interesse para Gordon – ou para Bullock (Donal Logue), um personagem que os roteiristas tentam não deixar escanteado demais, mesma coisa que acontece com Alfred (Sean Pertwee). A retomada de Gotham, contudo, é pelos inimigos da cidade.
Enquanto em uma considerável parcela do seu tempo o capítulo anseia ter muito controle sobre os acontecimentos e sobre como serão dados certos passos, o arco de Edward Nygma (Cory Michael Smith) é muito mais refrescante nesse sentido. O imensurável caos é mais particular ao personagem, entre personalidades diferentes de um mesmo eu. Ou isso era o que Hugo Strange (BD Wong) queria que Nygma compreendesse de si mesmo. O desconforto é necessário, a incompreensão é necessária, e Cory Michael Smith consegue muito bem mostrar a sua paranoia, que nem mesmo possui competência para se expressar com palavras. Para uma cidade que persegue seus antagonistas com foices, nada mais correto que um personagem em descontrole.
Um mistério sobre a novidade, em relação ao Bane, realmente instigaria mais o relacionamento do espectador com o desenrolar dos acontecimentos aqui apresentados, que margeiam uma segunda era para a última temporada de Gotham. Não mais apenas a terra de ninguém, no entanto, também a terra da desesperança. O herói de outrora então foge das mãos de Bane, parceiro por tão pouco tempo. Caso Gotham não fosse um seriado caminhando para a sua cova, um término apressado, estaríamos diante de uma premissa poderosa para o desenvolvimento de enigmas e de narrativa. Ou acontecimentos anteriores poderiam ter sido mais apressados. Sempre é mais gratificante assistir a gratuidades, como a senhora que quer se vingar da morte de seu cachorro.
Gotham – 5X05: Pena Dura (EUA, 31 de janeiro de 2019)
Showrunner: Bruno Heller
Direção: Mark Tonderai
Roteiro: James Stoteraux, Chad Fiveash
Elenco: Ben McKenzie, Donal Logue, Robin Lord Taylor, David Mazouz, Sean Pertwee, Cory Michael Smith, Camren Bicondova, Erin Richards, Cameron Monaghan, Francesca Root-Dodson, Shane West, Jaime Murray, BD Wong
Duração: 44 min.